Duas macroeconomias, dois judiciários

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Milton Temer
14/11/2008

 

Para quem, do Brasil neoliberal, pretendia enterrar a luta de classes como dado permanente do desenvolvimento humano: dois exemplos recentes fortíssimos se destacam para incomodar os apóstolos do "pensamento único" que inundam as páginas e espaços de economia nos jornais e telejornais. Dois exemplos que mostram macroeconomias e judiciários distintos, com o funcionamento dependendo de quem é o agente provocador.

 

O dinheiro público jogado nos bancos privados, sempre sob o argumento de que crise financeira põe em risco o sistema como um todo, comprova existir uma macroeconomia para o grande capital e outra para o mundo do trabalho e da produção. Porque a ninguém ocorre que, na série quase infindável de lucros pantagruélicos, tenham os banqueiros cogitado reduzir seus juros ou suas taxas por serviços inerentes à essência da própria atividade. A despeito de todas as declarações da área econômica do governo, não se tratou de outra coisa que não a privatização do lucro, garantida pela socialização do prejuízo.

 

Por outro lado, a insólita sessão em que a quase totalidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal se concentrou no ataque ao juiz De Sanctis, pelo pecado mortal de ter decretado a prisão preventiva do predador social Daniel Dantas - simultânea ao inexplicável procedimento em que segmentos da Polícia Federal se empenham para desqualificar o excelente trabalho do delegado Protógenes Queiroz no combate aos inatingíveis de até então - comprova haver uma justiça para o grande capital e outra para o mundo do trabalho e da produção.

 

Não é de pouca importância lembrar que o presidente daquela egrégia corte, o causídico Gilmar Mendes, vinha de pronunciamento não menos preocupante, ao comparar torturadores e resistentes à ditadura como criminosos anistiados pela mesma lei de anistia. Refutando, então, a opinião dos que não se permitem absolver a tortura da condição de crime imprescritível.

 

Também não é de menor importância lembrar que na campanha contra o delegado Protógenes surgiu a denúncia de um suposto grampo, flagrando uma conversa de Gilmar Mendes com o senador Demóstenes, do PFL. Bizarro grampo que, divulgado pela sempre suspeita revista Veja, apontava conversa entre dois "virtuosos" homens públicos. Ou seja, estávamos diante de um exemplo raro de grampo a favor, pois, pela divulgação do ali registrado, só trazia benefícios às supostas vítimas do "Estado policial" que o ministro dizia estar se instalando no Brasil.

 

Bizarro grampo, aliás, porque resultou em fita até hoje nunca comprovada de existência, um verdadeiro ET carente de atestado de existência real.

 

Como nada ocorre por acaso, sem dúvida, por trás dos dois episódios citados está a conivência do Planalto, por conta da incontestável contaminação de alguns dos seus principais ocupantes, ou de seus parentes próximos, com os fatos citados. Comprovando, enfim, a serviço de que classe social o atual governo está operando.

 

Milton Temer é jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos.

 

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