Mudaram os motivos para bombardear o Irã

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Luiz Eça
08/03/2012

 

Depois do relatório das 16 agências de inteligência americanas, afirmando que o Irã não tem um programa nuclear atômico, nem tem intenção de iniciá-lo, os falcões d’aquém e d’além mar ficaram sem argumentos. Nem por isso desistiram da idéia de bombardear as instalações nucleares iranianas. Apenas providenciaram novos casus belli.

 

Inicialmente, Ehud Barak, ministro da Defesa de Israel, declarou à imprensa algo que soa como um completo desmentido do que seu governo tem afirmado: ”Não penso que os iranianos, mesmo que tivesse a bomba, lançariam contra seus vizinhos. “Eles têm consciência total do que se seguiria. Eles têm um processo de tomada de decisões muito sofisticado e compreendem a realidade”.

 

Logo a seguir, deixou claro que, apesar disso, Israel continuava ansioso pelo ataque. E a razão desta aparente contradição? Um Irã com bombas atômicas as usaria para intimidar os adversários no Oriente Médio.

 

Evidentemente, Israel não estaria entre eles, pois dispõe de cerca de 300 bombas nucleares, enquanto que o Irã nos próximos decênios dificilmente atingiria esse número, mesmo porque, caso começasse a aumentar desmedidamente seu arsenal, uma intervenção ocidental seria inevitável

 

Quais países do Oriente Médio seriam alvo das profetizadas intimidações de Teerã?

 

Arábia Saudita, não, porque aí o Irã teria de comprar briga com os EUA, grande aliado e protetor dos sauditas. O mesmo se poderia dizer dos demais países do golfo, satélites americanos, com exceção, talvez, do Qatar. Mas este está de bem com o Irã.

 

O Iraque é um país amigo e o Kuwait, com a vitória eleitoral da Irmandade Muçulmana, breve também será. Portanto, estão fora. Assim como o Egito e os países do Magreb, dado suas boas relações com os iranianos. O Líbano, idem, com o Hizbollah no governo. Restam a Jordânia e a Síria, caso Bashar Al-Assad seja vencido. Mas por que o Irã iria se preocupar em intimidar esses países?

 

Um importante falcão americano, Danielle Pletka, vice-presidente de estudos sobre políticas de defesa e do exterior, do ultraconservador American Enterprise Institute, também não acredita que Israel esteja ameaçado. No entanto, não mudou de idéia. Tem uma justificação, digamos, exótica para o bombardeio do Irã: “O maior problema para os EUA não é o Irã produzir uma bomba nuclear, é o Irã produzir uma bomba nuclear e não usá-la porque aí todos os negativistas vão dizer, ‘Viu, nós dissemos a você que o Irã era um poder responsável’”.

 

A falta de motivos justos para bombardear as instalações nucleares do Irã também pouco significa para o primeiro ministro Netanyahu. Ele veio aos EUA para pressionar Obama, solicitando que os americanos parassem de falar que o Irã não tem ambições atômicas, pois estaria passando a idéia de que os EUA estavam contra Israel. Que condenavam um bombardeio, pois isso tranqüilizaria os iranianos e os animaria a produzir armas nucleares.

 

Conseguiu alguma coisa, sim. Obama continua dizendo que ainda há margem para a diplomacia, que a guerra seria terrível, mas admite explicitamente que Israel tem todo o direito de atacar se julgar conveniente.

 

Em si, já é uma declaração lamentável, pois se o Irã não pretende produzir armas nucleares é absolutamente injusto submetê-lo a um ataque aéreo, que causará destruição e mortes e provocará uma guerra regional, além de prejuízos a todas as nações do mundo. Portanto, os EUA deveriam ser contra uma decisão bélica de Israel.

 

De olho no voto, no dinheiro e na influência dos judeus americanos, Obama foi mais longe, declarou que de qualquer modo os EUA estariam apoiando Israel.

 

Isso pode significar que, tendo decidido atacar, o governo de Tel-aviv poderia contar com peças de reposição necessárias aos seus aviões e outros armamentos, além de munições e apoio logístico americanos, como os EUA fizeram nas anteriores guerras israelenses. É um cheque em branco que Obama deu a Netanyahu. Poderá decidir-se como quiser.

 

Considerando a falta de escrúpulos e a ferocidade do beneficiário, a ação do presidente americano o coloca como cúmplice dos horrores que uma eventual guerra causaria.

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: www.olharomundo.com.br

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