Torres gêmeas: muito mais do que 3.000 vítimas

0
0
0
s2sdefault
Luiz Eça
12/09/2011

 

O atentado às Torres Gêmeas é lamentado pelos 3.000 civis inocentes que morreram nos seus escombros. Mas o mal que ele infringiu aos EUA e a outros países alcançou uma dimensão muito maior.

Como reação ao 11 de setembro, o presidente Bush declarou sua “Guerra ao Terror”. Para destruir os terroristas da Al Qaeda, invadiu o Afeganistão, que os protegia. Tinha razão, países do mundo inteiro, inclusive árabes, o apoiaram. Fato que não impediu que, nos EUA, uma islamofobia tomasse conta da sociedade, contando com a tolerância do governo.

Aproveitando o clima de medo e ódio que se instaurou, Bush invadiu o Iraque, que nada tinha a ver com o atentado. Longe disso, Saddam Hussein era inimigo declarado da Al-Qaeda. Mas governava um país riquíssimo em petróleo, que se encontrava em pleno crescimento, capaz de ser uma pedra no sapato da hegemonia americana no Oriente Médio.

Embora justa no começo, a guerra do Afeganistão perdeu sua razão de ser há três ou quatro anos atrás, quando a Al-Qaeda praticamente sumiu do país. Ficaram apenas entre 50 e 100 milicianos, segundo Leon Panetta, então Diretor-Geral da CIA. Desapareceu o motivo da guerra, mas o exército americano continua combatendo, até que um presidente tenha coragem de ordenar a retirada.

A invasão e ocupação do Iraque, como foi provado, baseou-se em falsas evidências. Era uma guerra injusta. Obama garantia que nenhum soldado ficaria no país até o fim deste ano; agora fala em deixar 3.000 para treinamento do exército iraquiano.

Essas duas guerras causaram (e continuam causando) enormes despesas que Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel da Paz, calculou em 3 a 5 trilhões de dólares. Em artigo no site Truthout, de 7 de setembro último, ele nota que, com a volta das tropas, entre 600 e 900 bilhões de dólares terão de ser gastos em pagamentos futuros por incapacidades físicas e assistência médica (healthcare). Gastos totalmente injustificados que vibraram um golpe devastador nas finanças públicas. 

Para pagar suas guerras, o presidente Bush utilizou o crédito. E ainda agravou a dívida gerada, presenteando os mais ricos com polpudas isenções de taxas. Dessa forma, os EUA que, em 2001, apresentavam um superávit fiscal igual a 2% do PIB, chegaram ao fim do governo Bush com um déficit de 1,4 trilhão de dólares. Hoje, com a crise iniciada em 2008, essa cifra se ampliou até a situação atual de quase insolvência. Um fardo que os parlamentares republicanos querem passar aos pobres, órfãos, velhos e incapacitados, através de cortes nos orçamentos sociais, para diminuir o déficit fiscal que o governo deles causou.


Mas ainda há outros danos colaterais da “Guerra ao Terror”, detonada pelo atentado contra as Torres Gêmeas. Já morreram, verdadeiramente em vão, no Iraque e no Afeganistão, um total de 6.300 soldados estadunidenses; 100.000 foram gravemente feridos. Segundo o Iraqi Body Count, cerca de 127 mil civis iraquianos foram mortos nos combates e atentados, enquanto que para o Just Foreign Policy esse número chega a 1.455.000, vitimados direta ou indiretamente.

A isso se deve somar a destruição da infra-estrutura econômica do Iraque, dos seus serviços públicos que até hoje funcionam mal, da segurança da população, de dezenas de milhares de prédios e casas, além do deslocamento de 1.700.000 pessoas no interior do país, mais 1.800.000 refugiados na Síria e Jordânia, entre outras calamidades. O que levou 90% dos respondentes de pesquisa do Gulf Research e o Iraq Centre for Research and Strategic Studies a afirmarem que nos tempos de Saddam Hussein a vida era melhor.

Como subproduto das guerras de Bush, há ainda a queda brutal da imagem externa dos EUA, conseqüência da invasão e ocupação do Iraque, das muitas denúncias de torturas, das violações de direitos humanos básicos, do desrespeito às leis internacionais. Essa situação é particularmente grave nos países islâmicos, conforme pesquisa Pew Global, realizada em maio de 2011 na Turquia, Jordânia, Paquistão, Egito, Palestina e Líbano. Nos cinco primeiros países, apenas entre 10 e 20% foram favoráveis aos EUA. Só no Líbano esse número foi bom, de 49%.

E tem mais. Os ataques e a as ocupações do Iraque e do Afeganistão (além, é claro, do apoio a Israel) levaram centenas, se não milhares, de jovens árabes indignados a se alistarem nos movimentos revolucionários.


Em artigo recente, o grande pensador americano Noam Chomsky lembra frase de Bin Laden. Ele teria dito que “o único modo de expulsar os EUA do mundo islâmico e derrotar seus sátrapas é mergulhar os americanos numa série de pequenas, mas caras, guerras que acabarão por levá-los à bancarrota”.

Não dá para negar que ele tenha razão. Os EUA mataram Bin Laden. Sua Al-Qaeda acha-se em queda livre. Só tem alguma importância no Iêmen e nuns poucos países da África Oriental.
Foram vencidos pelos americanos.

Mas foi uma vitória amarga. As perdas causadas pelo atentado das Torres Gêmeas foram excessivamente pesadas. Não se sabe até quando os EUA – e, por extensão, a humanidade – continuarão a ter de suportá-las.

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o mundo

 

0
0
0
s2sdefault