Agora, Israel quer manter acordo nuclear com Irã

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Luiz Eça
24/11/2016

 

 

 

Em sua campanha eleitoral, Trump disse que iria romper o acordo nuclear com o Irã. Em vez de bater palmas a essa bravata, Netanyahu vai pressionar o novo presidente a não fazer isso. Não, não se operou um milagre e o vociferante líder israelense tornou-se amigo dos iranianos.

 

Reporta o site Bloomberg: “altas autoridades de Telavive informaram que o objetivo de Netanyahu é levar Trump a impor novas sanções mais duras contra Teerã no acordo nuclear com P5 +1”. Ele parece ter bons motivos.

 

Explica Robert Satloff, diretor executivo do Instituto pela Política do Oriente Próximo: “caso Trump tentasse jogar o acordo no lixo não conseguiria êxito, pois os outros países do mundo (signatários do acordo nuclear) teriam de ser convencidos a também punir o Irã e cortar negócios com esse país”. Coisa pra lá de difícil, pois todos eles estão entusiasmados com os grandes lucros que esperam obter no comércio com os iranianos.

 

Como diria Bill Clinton: “É a economia, estúpido”.

 

Robet Satloff vai adiante: “o argumento de Netanyahu será (Washington) trabalhar de mãos dadas com Israel para apertar as cordas no Irã, em vez de destruir o acordo, que abriria uma Caixa de Pandora entre a América e os poderes globais, libertando o Irã de quaisquer obrigações que atualmente existem e ele respeita”. Ou seja: sem acordo, os iranianos não teriam por que deixar de produzir armas nucleares.

 

Outra razão da surpreendente mudança é colocada pelo general Yaakov Amidrov, ex-assessor de segurança nacional do governo de Israel e próximo a Netanyahu: “o objetivo urgente é impedir o Irã de se tornar um superpoder na região, algo que está em processo há já algum tempo”.

 

É sabido que Israel não se sente confortável num Oriente Médio onde todos os vizinhos são inimigos, ou pelo menos defensores da ideia de independência palestina.

 

Em vez de procurar acabar com essa inimizade, o que conseguiria firmando um acordo justo, que daria independência à Palestina, Telavive prefere se preocupar em ter forças armadas sempre mais poderosas do que as de todos os demais países da região juntos.

 

Sem a Palestina ocupada, eles tenderiam a estabelecer relações completas com Israel, cujo povo poderia, enfim, dormir tranquilo.

 

Voltando ao raciocínio do governo de Telavive: se o Irã, o bicho-papão da vez, continuar nessa batida, poderia até virar uma “superpotência” militar que aliada aos exércitos de outros países hostis faria a superioridade das forças de Israel ir para o espaço.

 

Claro que seria ainda melhor para Israel que os EUA rasgassem o acordo nuclear iraniano, deixando o presidente Rouhani falando sozinho. Mas isso é inviável devido à provável oposição dos países que acompanharam os EUA na assinatura da paz nuclear com o Irã.

 

Para brecar a ascensão do Irã, o governo Netanyahu não acha suficiente fazer aumentar o peso das sanções do acordo.

 

Informa o general reformado Amidrov: “o primeiro-ministro dirá (a Trump) que, primeiro e antes de tudo, os EUA deveriam trabalhar para enfraquecer a parceria Rússia-Irã na região”.

 

Caso Trump se submeta, veremos novamente a política externa norte-americana ditada de Telavive.

 

Obama lutou para livrar os EUA dessa dependência incômoda. E até invertê-la em algumas ocasiões, pressionando o governo de Israel a interromper a expansão dos assentamentos e evitar certas violações dos direitos humanos. Mas o presidente estadunidense só marcará um gol de placa se não vetar as propostas no Conselho de Segurança da ONU em favor da independência palestina.

 

Como o fim do mandato do Obama democrata está chegando, parece que Netanyahu não está mais pensando nisso. Ele prefere se concentrar agora em influenciar o novo governo. A pergunta que fica é: até que ponto prejudicar o Irã se ajusta ao nacionalismo do novo presidente?

 

Se ele pretende dar um impulso nunca visto ao fortalecimento das empresas norte-americanas, precisará de vultosos recursos econômicos. Relações comerciais com o Irã poderiam render muito dinheiro ao bom Tio Sam.

 

Como ficaria a imagem internacional dos EUA caso anulem um acordo que o mundo esperava com ansiedade? Há fortes argumentos opostos.

 

Este é o principal: se Trump somar com Netanyahu, ganhará o apoio poderoso dos lobbies pró-Israel no Congresso, na imprensa e até junto às centenas de pregadores evangélicos defensores das causas da antiga Terra Prometida.

 

O que não é nada desprezível num momento onde o novo presidente é odiado ou desprezado pela metade da população. Pragmático, Trump vai resolver levando em conta onde estão os principais interesses. Mais exatamente, os seus interesses.

 

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Luiz Eça é jornalista

Website: Olhar o mundo.

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