Todos na rede

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Gabriel Perissé
11/05/2007

 

Pensando bem, estamos todos na rede.


Ou na Rede Globo ou na Record. Na Bandeirantes ou na Rede Mulher.


Na rede de computadores eu estou e você está, enredados estamos na grande teia.


Deitados na rede gostaríamos de ficar, redemoinho de sonhos, redemocratização do ócio.


Rede de pesca, mas não só essa. Há redes especiais para aves e borboletas. Artefato sedutor com que capturamos também animais humanos.


Rede nos esportes não falta: no futebol, no tênis, no basquete, no voleibol, e a rede debaixo da corda bamba.


Com rede antigamente as mulheres envolviam os cabelos, alguém aqui se lembra?


Rede bancária, rede de supermercados, rede de hotéis, rede de lojas, pelas redes rodamos e roda o nosso dinheiro.


Rede sangüínea, rede muscular, rede neural. Tais redes nos fazem viver. Somos rede andante, que pensa e ama.


E na rede rodoviária rodoviamos. Na rede ferroviária ferroviamos. Na rede aérea sobrevoamos.


Na rede alimentar estamos, uns comendo os outros, a terra que nos dá frutos e nós, em retribuição, à terra voltaremos. Animais, plantas e gente num banquete mútuo, interminável.


Cair na rede já caímos, rede próxima ou remota, rede ridícula ou rede redentora, rede fechada ou aberta, rede redonda ou alongada.


Redefinir a rede, redescobrir a rede. Rede vereda, rede labareda. Rede que me arrasta para onde não quero ir. Rede rota, da qual eu fujo para me enfiar em outras redes.


Rede de amigos que me esperam aqui e além. Rede de planetas e estrelas. Rede de células e átomos. Rede de gestos, luzes e cores. Redes há em todas as partes.


Rediscutir a rede, salvar a rede ou nela se perder, enfim. Rede em ti, rede em mim. Rede que me une ao mundo humano.


A rede onipresente, dentro e fora, por cima e por baixo, envolve a todos nós, redundância.


Já nascemos na rede e da rede recebemos idéias e valores, ataques e doenças, morte e esperança.


Os poetas trabalham com as palavras em rede, reduplicam sentidos.


Tu, arredio, da rede não escapaste. Na rede mais poderosa de todas vives, porque nela pensas não viver.


Rede errada ou certa, não sei. Nela respiro.


Rede bruta, rede amorosa. Rede estúpida, rede gostosa. Rede municipal, rede estadual, rede federal, internacional, ocidental, oriental, rede espacial, rede teologal.


Tudo é rede e na rede todos estamos. Todos. Na rede.

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Web Site: http://www.perisse.com.br

 

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