Propostas frente à crise

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Wladimir Pomar
26/02/2009

 

Alguns meses após a emergência da crise econômica mundial, e das diversas análises que procuram explicá-la, começam a pipocar as propostas para enfrentá-la, tanto à direita, quanto à esquerda. Mesmo porque, se a crise desaba principalmente sobre os trabalhadores e os pobres do mundo, ela também está fazendo estragos entre bilionários e milionários.

 

Mas, como propostas resultam das análises e diagnósticos, não basta haver consenso de que a crise atual é a maior que o capitalismo já assistiu. Ou de que ela será duradoura, arrastando parte considerável do planeta para a recessão. É preciso compreender a natureza da crise (crise de realização do capital industrial nos países desenvolvidos, agravada pela desenfreada ação do capital financeiro, para elevar a taxa média de lucro através da especulação com dinheiro fictício), e entender o significado da emergência dos países em desenvolvimento, como resultado da expansão do capital fora dos países centrais.

 

Além disso, é indispensável levar em conta a reação dos prejudicados, tanto entre os próprios capitalistas, quanto, principalmente, entre as grandes massas trabalhadoras e populares.

 

Entre os capitalistas, aqui incluídos seus representantes ideológicos e políticos, não há consenso sobre a natureza da crise, nem sobre as propostas para superá-la. Basta acompanhar as resistências "filosóficas" à intromissão do Estado na economia, assim como à aplicação de medidas keynesianas, propostas pelo novo presidente dos EUA e por dirigentes de governos europeus. Ou seja, a burguesia dos países centrais está dividida na análise e nas medidas de superação da crise.

 

O consenso na esquerda, isto é, entre os representantes ideológicos e políticos, reais ou fictícios, dos trabalhadores e das camadas populares, também só existe quanto ao fato de que a crise viria, mais cedo ou mais tarde. O que não é privilégio seu, já que muitos ideólogos do capital também faziam o mesmo alerta.

 

Quanto à natureza da crise, as divergências são inúmeras. Há os que consideram a crise como resultado da pouca regulação do capital financeiro, enquanto há os que supõem que ela resultou do consumismo exagerado, nos EUA e Europa. Há, ainda, os que consideram a crise uma conseqüência do "modelo industrial" e, portanto, de menor gravidade do que a crise ecológica. Ou seja, além de aparvalhada e envolta num vazio teórico, a esquerda também está dividida na análise da crise e nas medidas para a sua superação.

 

É lógico que, na esquerda, existe um certo consenso quanto ao aumento do papel do Estado na economia. Porém, quanto ao que significa este papel, as sugestões variam. Temos os que defendem o corte de impostos e planos de auxílio a empresas e bancos. Temos os que querem prioridade e agilidade aos investimentos públicos geradores de emprego e renda, especialmente em infra-estrutura. E temos, ainda, os que sugerem que se ouse a ruptura com o "atual modelo".

 

Quanto às propostas de ruptura, elas também variam. Há os que pensam transformar a crise em revolução socialista, para superar o "atual modelo capitalista". Há os que sugerem aproveitar a crise para implantar um novo projeto de nação no Brasil. E, além das sugestões intermediárias, existem as que pretendem mudar o modelo industrial através da "descarbonização da economia", algo que também parece estar na agenda do presidente Obama.

 

Temos, portanto, um cardápio variado. O problema é escolher.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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