Todo apoio ao MST!

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Léo Lince
05/03/2009

 

A ordem social no Brasil é profundamente injusta, violenta e desigual. Não há estudioso sério que desconheça a permanência secular de tal brutalidade que todos lamentam. No entanto, sempre e quando qualquer segmento social procura se organizar, política e democraticamente, para lutar contra a injustiça, a violência e a desigualdade, pode estar certo: vai tomar porrada.

 

A razão para semelhante paradoxo é simples. A ordem injusta não é castigo de Deus, nem obra da natureza, mas uma construção política meticulosa. Há os que ganham com ela, eles são poucos, mas muito poderosos. Essa minoria dominante usa, o tempo todo, da astúcia e da força para conservar e reproduzir seus privilégios. Domina os pontos fortes da economia, controla os aparelhos de comunicação de massas, tutela todos os governos, que sempre operam como guardiões da ordem injusta.

 

A campanha em curso contra o MST é apenas mais uma investida, entre tantas ao longo dos séculos da nossa história, na qual se tipifica o paradoxo identificado nos parágrafos acima. O objetivo é claro: demonizar, isolar, destruir aquele que é reconhecido internacionalmente como o mais importante movimento social brasileiro da atualidade. Segmentos populares organizados com autonomia, lutando para mudar a estrutura social injusta, é um perigo a ser conjurado. Imaginem se essa moda pega. Não pode. Antes que tal ousadia se alastre, jogam pesado para cortar o "mal" pela raiz.

 

A minoria dominante, apesar do imenso aparato de poder a seu serviço, tem medo do MST. A razão do receio não está naquele ponto para o qual apontam, em golpes de propaganda, os jornais do conservadorismo. Manchetes garrafais: assassinos. A direita togada exige punição exemplar. Os beneficiários da ordem injusta se rejubilam e pedem a cabeça dos "responsáveis" pela violência no campo brasileiro: os humilhados, ofendidos e acuados em sua precária moradia que recusaram a própria morte como galardão final. Uma mentira política na qual quem visita a história e acompanha os acontecimentos não pode acreditar. Todos sabem que o acuado, mesmo quando em desespero reage na mesma moeda, segue sendo vítima da violência.

 

Ao investir contra o MST, os donos do poder estão na realidade é com medo da História. Conselheiro em Canudos, Zumbi nos Palmares, Chico Mendes, Irmã Dorothy e tantos outros, anônimos, que tombaram na luta contra a ordem injusta. Nos caminhos de Trombas, Formoso, Corumbiara, Eldorado dos Carajás e tantos outros lugares assinalados em sangue pelo confronto secular. Os beneficiários da ordem desigual, em cada turno ao longo do tempo, sempre tiveram a "lei e a ordem" do seu lado e sempre se intitularam arautos do progresso. No entanto, o senhor de escravo, o senhor de engenho, o latifundiário e seu sucedâneo moderno, as grandes corporações do agronegócio, jamais serão cantados em prosa e versos pelos grandes da nossa cultura.

 

Os heróis da luta pela liberdade estão em outro lugar. Na "Tróia de taipa" que Euclides da Cunha viu em Canudos; nos "grandes sertões e veredas" que, segundo Guimarães Rosa, ocupam todos os espaços da urbe brasileira; no "Cio da Terra", onde Milton Nascimento e Chico Buarque cantam a saga daqueles que carregam o peso do Brasil nas costas. Os sem-terra, hoje, simbolizam a capacidade de luta e a resistência do nosso povo mais sofrido. Cultivam a esperança onde as condições de vida são as mais difíceis. Prodígios de organização e combatividade, que são exemplos para os demais trabalhadores. Por isso são atacados. Diante de mais este ato da contenda secular, a consciência digna da cidadania está definida: todo apoio ao MST!

 

Léo Lince é sociólogo.

 

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