Correio da Cidadania

Copa, Eleição e Economia: mídia opera com o pessimismo e manipulação da informação

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Nos meses de junho e metade de julho, o Brasil promove e assiste os jogos da Copa do Mundo, para os quais, quaisquer que sejam os resultados finais (escrevo este artigo na véspera do jogo – Brasil e Alemanha), estamos fazendo um bom trabalho. Como anfitriões, organizadores e também jogadores nos saímos bem, com as exceções de praxe, a mais grave delas – a vaia insultuosa à Presidente da República no dia da inauguração dos jogos. Mas a sabedoria popular rejeitou tal prática, pelo que revelaram pesquisas de opinião pública, com muito maior clareza que demais candidatos, partidos políticos e grande mídia, que não souberam reagir com veemência, clareza e oportunidade a essa provocação nada civilizada.

 

O segundo jogo em disputa, que se tentou intrometer indevidamente no primeiro – o da eleição presidencial -, foi devidamente depurado pelo espírito esportista. Havia aqui uma confusão de sinais e apostas. Alguns até com boas intenções julgaram oportuno repetir as manifestações de junho de 2013 em junho de 2014, mas isto de repetir a história não é tão simples assim.

 

Outros, com um nítido “espírito de porco”, apostaram na ‘fracassomania’ de que tudo daria errado, pensando desta forma em contaminar o processo eleitoral para o lado do governo Dilma. Mas, pelo desempenho já havido, como indicamos inicialmente, esse espírito não prevaleceu. E o processo eleitoral tampouco ficou definido “a priori” pelos resultados da Copa do Mundo. O jogo eleitoral que ora se inicia ainda não deu sinais de diferenças significativas entre as três candidaturas para temas de natureza estrutural.

 

Há um terceiro jogo em curso, invisível à maioria dos espectadores, porque jogado nos bastidores – a batalha das expectativas econômicas, tendo em vista derrubar o modelo econômico dos governos do PT, para trazer de volta os protagonistas do neoliberalismo puro.

 

Aqui também se opera com pessimismo e manipulação da informação econômica, muito mais que com análise comparativa de modelos em disputa. O próprio leitor desconhece quais as características principais de um pretenso “nacional desenvolvimentismo”, atribuído aos governos do PT, principalmente do segundo governo Lula para frente, e as diferenças significativas em relação à ideologia neoliberal prevalecente nos dois governos FHC.

 

Na ausência de temas que possam efetivamente comprometer os candidatos com mudanças nas bases da economia política - como as relações externas dependentes, um sistema tributário regressivo (impostos altos para pobres e classe média e efetivamente baixos para os ricos), um sistema industrial cadente, uma estrutura agrária pervertida, um meio ambiente entregue à dilapidação etc. –, o debate econômico vai para outro lado. Oposição (midiática) se encarrega de apontar e exagerar os sinais de crise econômica (baixo crescimento, inflação, déficit externo, desequilíbrio fiscal etc.), e a associa como símbolo do fracasso do modelo do PT ao governar. Por seu turno, o governo se utiliza dos mecanismos de política econômica de que dispõe para dar respostas de conjuntura aos sinais da crise.

 

A ‘fracassomania’ esportiva não vingou na Copa pela saudável oposição do espírito esportivo contra o complexo de ‘vira lata’. Na disputa eleitoral, o discurso udenista que prevalece nas mídias econômicas não se traduz historicamente em votos. Daí que os candidatos de discurso neoliberal puro ou de ‘retórica intransigente’ contra a igualdade social têm, sim, muito apoio de mídia, mas, como destino provável, o obtido pelo Brigadeiro Eduardo Gomes em 1950.

 

Mas, infelizmente, a ‘fracassomania’ tem sido capaz de contaminar o decantado ‘espírito animal’ do empresariado, que, ao não investir, compromete de fato o desempenho da economia. Esclareça-se: os empresários não deixam de investir por razões ideológicas, impactados pelos cadernos econômicos da grande mídia. E, sim, porque não vislumbram retornos de longo prazo. Daí para a opção por adiar, ou substituir investimentos por especulação sem risco, vai um pulo. E é nesse estado de coisas que 2015 se inaugurará, com profundas e necessárias reformas estruturais a fazer. Resta saber quem as fará e em que rumo!

 

Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

Comentários   

0 #1 DesinvestimentoJuca Ramos 10-07-2014 02:02
Acho que uma boa pitada de cinismo quanto à opção da comunidade de negócios por não investir não fugiria ao realismo. Admite-se que exista uma fração de possíveis investidores mais preocupados com a volatilidade da economia brasileira, mas as Fiesps da vida seriam parte integrante do movimento pelo desinvestimento, à espera de vacas gordas num governo abertamente neoliberal.
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