Correio da Cidadania

Eleições municipais: direita se fortalece, PT sofre derrota pesada e PSOL busca alternativa

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Um primeiro levantamento do resultado das eleições municipais de domingo no Brasil tem de partir de três fatos: houve uma importante vitória dos partidos da direita que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff, principalmente PSDB e PMDB; ocorreu o esperado desmoronamento do PT, que perde para o PSDB, já na primeira volta, a mais importante prefeitura do país, a de São Paulo; e confirmou-se o reforço político do PSOL, que vai disputar no segundo turno (30 de outubro) as prefeituras do Rio de Janeiro, Belém e Sorocaba e se postula assim a ocupar, a médio prazo, o espaço à esquerda que o PT abandonou de armas e bagagens.

 

Marcelo Freixo, do PSOL, disputará o 2º turno no Rio de Janeiro


Como prevíramos num artigo anterior, Marcelo Freixo, do PSOL, afastou do 2º turno o candidato do PMDB e do atual prefeito e obteve sonoros 18,26% dos votos, quando a última sondagem lhe dava apenas 11%. Marcelo Crivella, pastor da igreja Universal e senador do PRB, que ganhou a eleição com um resultado inferior ao que lhe era atribuído pelas sondagens, 27,78%, disputará com ele o 2º turno.

 

Note-se que a eleição do 2º turno, que se realiza em 30 de outubro, é toda uma nova eleição, até porque desta vez os candidatos têm as mesmas condições, nos debates de TV e nos tempos de antena, que agora serão iguais. No primeiro turno, Crivella tinha 1 minuto e 11 segundos diários de TV, enquanto Freixo teve apenas 11 segundos. E o candidato do PSOL foi afastado do primeiro debate da TV, só participando nos seguintes com muita pressão nas ruas e nos tribunais.

 

“Não podemos mais sair das ruas e das praças depois desta vitória histórica”, proclamou Freixo diante da multidão que se reuniu junto aos Arcos da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, para comemorar o resultado. “Agora estão em disputa dois projetos muito diferentes para a cidade: o nosso, da esquerda, e o do Crivella. Os outros partidos terão de escolher entre um e o outro, ou se ficam indiferentes”, desafiou o candidato do PSOL, que já recebeu o apoio da candidata do PC do B, Jandira Feghali.

 

Destaque-se que nenhum dos dois partidos que disputarão a prefeitura do Rio no dia 30 é dos principais do sistema político brasileiro: o PMDB, que perde a prefeitura, ficou relegado para os 16,12% e o terceiro lugar; e o candidato do PSDB ficou em 6º lugar com 8,62%; a candidata do PCdoB, que era apoiada pelo PT e contou com a participação de Lula num evento da sua campanha, ficou em 7º lugar com 3,34%. De registar os preocupantes 14% do candidato de extrema-direita Flávio Bolsonaro, em 4º lugar.

 

O PSOL disputa também o 2º turno das eleições em Belém: o atual prefeito Zenaldo Coutinho, do PSDB, concorrerá contra Edmilson Rodrigues, do PSOL, que já foi prefeito da cidade quando era do PT. Dois outros candidatos do partido que tinham possibilidades de permanecer na disputa viram-se arredados do 2º turno: em Porto Alegre, Luciana Genro, que chegou a liderar as sondagens, ficou em 4º lugar com 12,06%; em Cuiabá, o Procurador Mauro, do PSOL, que ficou à frente em quase todas as sondagens, acabou em 3º lugar com 24,85%. Não sendo capital, em Sorocaba, importante cidade do interior paulista, Raul Marcelo, do PSOL (25%) disputa com Crespo, do DEM (45%), o 2º turno.

 

Os resultados gerais do PSOL mostram que o partido caminha para uma nova fase em que começa a disputar com o PT a hegemonia da esquerda. É certo que o partido teve menos votos para prefeito que em 2012 (2.097.623 agora contra 2.388.701 em 2012) e elegeu menos vereadores (29 agora, 49 antes); mas também é verdade que as bancadas de vereadores de capitais importantes foram reforçadas: no Rio de Janeiro, passou de 4 para 6, em São Paulo, de 1 para 2, em Belo Horizonte de nenhum para 2, em Porto Alegre, de 2 para 3. Contra esta tendência, em Belém o partido perdeu um vereador (de 4 para 3) e em Natal outro (de 2 para 1).

 

Outro dado importante é que em Belo Horizonte e Porto Alegre o PSOL teve a candidatura à vereança mais votada da cidade, no caso duas ativistas mulheres e feministas.

 

PT esvazia

 

O Partido dos Trabalhadores, que já foi o terceiro maior partido do país em número de prefeituras, só garantiu, nas capitais, a vitória no primeiro turno de Rio Branco, capital do estado do Acre. Nas restantes capitais, o partido só disputa o 2º turno em Recife. O seu aliado PCdoB disputa o 2º turno em Aracaju.

 

A maior derrota do PT ocorreu na capital de São Paulo, onde Fernando Haddad ficou em segundo lugar, com 16,7%, mas perdeu a eleição porque João Doria, do PSDB, suplantou os 50% dos votos válidos (teve 53,28%) e por isso foi eleito logo no primeiro turno. O PT perdeu ainda outras duas capitais, Goiânia e João Pessoa.

 

Na Grande São Paulo, os candidatos petistas foram derrotados em cidades consideradas berço do partido, como São Bernardo e Diadema, que eram governadas pelo PT mas os candidatos do partido ficaram em 3º lugar. Em Osasco, o prefeito Jorge Lapas fora eleito pelo PT mas transferiu-se para o PDT, e é nesse partido que irá disputar o segundo turno. Noutra cidade da Grande São Paulo governada pelo PT, Guarulhos, o candidato do partido também ficou fora do segundo turno. Outro caso de prefeito do PT que decidiu mudar de partido foi o de Niterói, no Grande Rio de Janeiro, que abandonou o barco para não afundar com ele, e é como candidato do PV que irá disputar o 2º turno. Das 642 prefeituras conquistadas em 2012, o PT já perdera 108, em casos como o de Niterói, em que o prefeito se mudou para outro partido.

 

Governo Temer reforça-se com os resultados


O PMDB de Michel Temer deverá continuar a ser o partido com o maior número de prefeituras. E as vitórias do PSDB (que, depois de duas eleições sucessivas perdendo espaço municipal, voltou a crescer e conquistou São Paulo logo de primeira) e do DEM, que viu o seu prefeito reeleito em Salvador diretamente no primeiro turno, além de vitórias de outros partidos que apoiam o governo, também dão um confortável suporte ao governo de Michel Temer.

 

A grande vitória do PSDB de São Paulo foi arquitetada pelo governador Geraldo Alckmin, que decidiu lançar um homem de fora do aparelho político, o empresário e apresentador de talkshows João Doria Jr., para a prefeitura da capital paulista, numa candidatura que teve a ascensão de um cometa.

 

Milionário que declarou ao TSE um patrimônio de 180 milhões de reais, Doria fez uma campanha em que se apresentava como “não político”, mas sim como administrador, que se propõe desestatizar São Paulo, para aligeirar a sua máquina que, segundo ele, “é muito pesada e não anda”.

 

No total, 54 cidades vão a segundo turno no próximo dia 30 (só há 2º turno em cidades com mais de 200 mil eleitores), das quais 18 são capitais de estados.


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Luis Leiria é jornalista do Esquerda.net.

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