Correio da Cidadania

Lula, Lava Jato e as medidas do arranjo Temer

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Não dá para fazer coro com a capa da Veja que mostra Lula decapitado num fundo vermelho sinalizando que é hora de Lula lá (na cadeia). Também não me alinho a um certo antipetismo que tenho como “essencialista”, pois vê no PT o “mal maior”, aquele que aparece à direita e à esquerda do espectro político, defendendo o fim imediato do partido que hegemonizou a esquerda brasileira e se manteve no comando do governo federal desde 2003 – até o esgotamento da sua capacidade de conferir governabilidade ao arranjo de partidos que formavam a coalizão na qual se inseria.

 

Por outro lado, se não é o partido que causa todos os males, vale deixar claro que entendo que o PT apresenta pontos de crítica cada vez mais destacados. Continuarei a apontá-los, pois entendo que não haverá qualquer mudança, muito menos autocrítica. O PT não vai acabar, mas vai diminuir já nas eleições municipais. A eleição presidencial de 2018, que já se desenrola, vai marcar mais uma etapa no processo da derrocada petista, em especial se Lula não conseguir se candidatar, tendo em vista que não há outra alternativa.

 

Por outro lado, sempre tentei olhar para o lado positivo da Operação Lava Jato, em especial pelo fato de estar pela primeira vez neste país condenando empresários que atuavam como presidentes das empreiteiras, que sempre faziam negócios com qualquer governo. Mas não dá para defender a Lava Jato – com toda ambiguidade que procuro conferir a esta Operação ao longo do tempo – quando no campo político se volta apenas para a parte derrotada da coalizão que governou desde 2003. Em especial na figura do seu expoente, Lula.

 

A meu ver, existe uma espécie de fechamento contínuo da Operação Lava Jato, que leva a uma seletividade, além de perniciosa, positiva ao arranjo Temer. Trata-se da mudança do elemento jurídico, que desestabilizava o sistema político apodrecido até iniciar o processo de impeachment de Dilma Rousseff. E passa a ser incorporada por esse mesmo sistema.

 

Ao mesmo tempo, não vejo condições de articular formas de mobilização que contestem os atos e atores do judiciário, a fim de manter a abertura possível da Operação Lava Jato. Trata-se de questionar a seletividade de tais atores e seus atos. Paira a pergunta, já que não vejo ações que se proponham ao desafio: quem pensa nisso para além da indignação individualizada em uma rede bacana como o Facebook para marcar posição, ganhar curtidas e alimentar o ego?

 

Nesta semana, no final da tarde de terça (20/09), o juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia integral oferecida pelo MPF e instaurou o processo que vai julgar Lula. Só quero salientar que não vou defender Lula aqui nem em qualquer lugar. Aliás, acho que não vai adiantar de nada a defesa de Lula em sites e redes sociais. Inclusive, pode extravasar a angústia.

 

Tampouco ajudará as mobilizações específicas em relação ao judiciário como forma de pressionar, não pela absolvição de Lula, mas pela extensão da Operação Lava Jato a outros atores políticos que aparecem na própria peça apresentada pelo MPF.

 

No entanto, a opção que se espraia é a de criar um clamor por conta da ameaça à única alternativa competitiva de uma esquerda mistificada na eleição presidencial de 2018. Essa é a senha para a derrota, antecipada ou não. Que Lula faça sua defesa e suas articulações. Aliás, alguém o viu pedir que fôssemos em sua defesa no seu discurso no último dia 15 de setembro, quinta-feira?

 

Por fim, de forma breve, o mais importante: precisamos ver se o foco em Lula neste momento não faz com que deixemos de dar conta do justo combate às medidas e reformas que continuam vindo de cima para baixo. E se não enfraquecerá até cessar a mobilização que se formava contra o governo Temer, que já diminuiu de magnitude no último domingo em São Paulo, capital, local onde parecia mais quente.

 

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Marcelo Castañeda é sociólogo e pesquisador colaborador do PPGCom/UERJ

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