Correio da Cidadania

O diâmetro das circunferências de saúde

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Circunferência: tomando um ponto zero como extremidade e fazendo girar em forma de uma curva circular, chega-se a trezentos e sessenta graus, que é um retorno ao ponto zero.

 

Assim, vamos chamar as atuais Conferências de Saúde, sejam elas municipais, estaduais ou federais, de Circunferências de saúde, com “s” minúsculo mesmo, porque se repetem, repetem, e seu diâmetro quase sempre chega ao zero, ou sempre mesmo ao zero, após girar trezentos e sessenta graus.

 

Todos os municípios (no meu já houve várias), em tese, teriam de realizar suas “conferências” a cada dois anos, indicar os representantes para a estadual e, finalmente, para a nacional, cujo objetivo é fazer avançar a Saúde. Tem-se um movimento circular, que gira, gira e não consegue se mover. Parece que sempre fica tudo igual, sem nenhum avanço ou progressão. Teses que se repetem de Circunferência em Circunferência.

 

Cada vez mais esvaziadas, não se nota nenhum ou quase nenhum avanço na participação popular, que em geral são marginalizadas, verbas insuficientes para instalações, equipamentos e medicamentos, os salários são ridículos. E em época de eleições fica tudo pior ainda, tudo se reduz quase a zero. E a privatização, uma grande boca com um diâmetro avantajado que toma de assalto os serviços públicos, desfazendo um trabalho de anos da Saúde Pública, que se torna, a passos largos, um grande “lucro com o público”.

 

E as “circunferências” fazem este papel de iludir a população, tornando claro que “saúde” é um bem comercial. E perguntamos: a quem interessa a Saúde no Brasil? Aos planos de saúde? Aos laboratórios? À indústria farmacêutica? À indústria da “doença”? À sofrida população? “São Lucros” parece estar em ação. Deixemos que cada um tenha a sua resposta.

 

Não vamos nos esquecer da Educação, que também sofre dos mesmos males.

 

Também não dá para esquecer a fabulosa e monstruosa dívida externa, que abocanha com aquele diâmetro infinito o país, sempre crescendo, crescendo, enriquecendo e engordando banqueiros e multinacionais.

 

Conferências...  Conferências para conferir o quê? Ou melhor, circunferências que rodam, rodam feito pião, que cai no final totalmente estático.

 

Mais uma perguntinha só: nunca vi nem ouvi falar de nenhuma Conferência municipal, estadual ou nacional de Finanças, Obras, Planejamento, Previdência Social, Segurança etc. Por que será que só a Saúde e a Educação fazem as suas Conferências (ou Circunferências)?

 

Deve haver algum mistério que não conseguimos desvendar. Ou será que tudo isso foi deliberadamente executado para nos vermos sempre sem força, “doentes”, em estado terminal, e pedir socorro para que o capitalismo das elites venha nos salvar da morte... Por enforcamento?

 

Última perguntinha: será que vamos marchar no patíbulo para o enforcamento tão facilmente, influenciados pela mídia perversa e obediente, que coloca a corda no nosso pescoço e nos “emburrece” e aliena?

 

Será que vão nos encher, encher, como uma bola de aniversário, nos arredondar até virarmos uma circunferência e estourarmos como uma “bexiga”? Ou vamos mudar as regras?

 

Um país deve, ou melhor, tem que ser uma grande Conferência com Igualdade, com diâmetro onde caibam folgadamente a Justiça e a Liberdade.

 

 

Leia também:

Saúde pública e universal é alvo silencioso de cortes e privatizações

 

 

Daniel Chutorianscy é medico psiquiatra

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Comentários   

0 #1 RE: O diâmetro das circunferências de saúde Esmeralda 17-07-2015 18:42
Quanta lucidez e visão crítica nesse texto de Daniel Chutorianscy! De modo bastante criativo, coloca a nu as séries questões referentes à Saúde no país. Ou acordamos e mudamos de atitude ou seremos engolidos por esse sistema perverso.
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