Correio da Cidadania

Jesus de Nazaré e o Papa Francisco

0
0
0
s2sdefault

 

 

 

Alguém consegue imaginar Jesus como Papa? É possível visualizar aquele nazareno de regiões quentes, semiáridas, desérticas, curtido pelo sol, que fazia longos caminhos a pé, confinado nos muros do Vaticano, recebendo chefes de Estados, participando de longas liturgias, com um mitra na cabeça, vestes do império romano e um báculo na mão?

 

Provavelmente nem o mais ferrenho católico tradicionalista consegue formatar essas imagens em sua cabeça.

 

Mas uma pessoa pode mudar, por um conjunto de circunstâncias, essa imagem. O Papa Francisco, por suas atitudes, conseguiu levar um pouco das periferias latino-americanas, africanas, asiáticas para dentro daqueles muros. Transportou para ali um pouco de semiaridez do mundo, sua pobreza, injustiças, mesmo estando ele dentro do território europeu e dos muros do Vaticano.

 

Incrível, com ele mudou a imagem que temos de todos aqueles formalismos e pesadas estruturas. Com ele parece que essas estruturas nem existem.

 

Talvez porque Francisco seja simples, porque detesta pompas, porque recebeu representantes de Israel e da Palestina, Raul Castro, a viúva de Paulo Freire – ele leu Pedagogia do Oprimido -, Gustavo Gutierrez, os movimentos sociais do mundo, foi a Lampedusa, critica a indiferença globalizada e vai lançar um aguardado documento sobre a questão ambiental planetária.

 

Nós que estamos nessa luta há décadas, praticamente nossas vidas, aguardávamos também há décadas uma manifestação oficial da Igreja sobre essa questão fundamental para toda a humanidade e todas as formas de vida. Finalmente, a Igreja entrará oficialmente nas problemáticas do século 21, já que nas bases está há muito tempo.

 

Esses dias tivemos um encontro das CEBs de Bahia e Sergipe em Caetité. Éramos umas 300 pessoas, de 15 dioceses. Quem sabe uns dez padres, umas dez religiosas e dois bispos, D. Ricardo (Caetité) e D. Luis Cappio (Barra). Mas, parece que ninguém nem notou a diminuta presença de bispos e padres.

 

Por outro lado, parecia que Francisco estava presente todo o tempo. Há muitos anos eu não via tanta tranquilidade, tanta alegria verdadeira no rosto de nossas comunidades. “Aquelas que não mais existem” – ou talvez não devessem existir – estavam felizes, cantando, celebrando e refazendo suas energias para continuar na caminhada do Reino. Claramente sabem: “Francisco é dos nossos”. Bem naquele dia houve a beatificação de D. Romero em El Salvador.

 

Aliás, por que será que um Cardeal emérito espanhol convenceu todo o episcopado de seu país a não ir a essa beatificação?

 

Bom, se não é possível imaginar Jesus como Papa, ao menos dá para ver em Francisco o rosto do nazareno.

 

 

Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

0
0
0
s2sdefault