Correio da Cidadania

Tem gente que chama de Deus

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Tem gente que chama de Deus, Jah, Olorun, Jeová. Tem gente que chama de destino, outros de acaso. Certo é que a queda do avião que levava Eduardo Campos no dia 13 de agosto pegou todos de surpresa, tenha sido fruto da vontade de Deus, obra do destino ou mero acaso.

 

Pessoas próximas a Renata Campos relatam que nos dias que se seguiram à tragédia ela se mostrava especialmente perplexa pelo fato de a morte inesperada do marido ter acontecido em um momento de tanta felicidade familiar e de tanta confiança e positividade entre todos os envolvidos na campanha eleitoral, depois da entrevista ao Jornal Nacional na véspera. Nada indicava que algo ruim poderia acontecer, nem um pressentimento, nem um pesadelo estranho. A impressão dela era de que ele iria entrar pela porta adentro a qualquer momento. E que a morte tinha pegado a pessoa errada.

 

Inventamos um arsenal de artificialidades para tentar escapar do inescapável: a brevidade da vida, sua impermanência e nossa absoluta incapacidade de ter controle sobre nosso destino. Inventamos todo um aparato social baseado em uma pretensa capacidade de controlar a vida.

 

Seguros de carro, de vida, seguros contra roubo e incêndio, previdências privadas e públicas, sistemas de alarme, FGTS, planos de saúde e sistemas antimísseis. Dedicamos uma vida a construir carreiras e cultivar reputações como se eternos fôssemos. Tentamos teorizar, explicar, ordenar o caos da vida, criamos religiões e teorias científicas para encontrar sentido no caos. Tudo em vão.

 

Então vem Deus, ou o destino, ou o acaso, e nos dá um soco na cara como esse. Quando tragédias assim ocorrem dessa forma, com um homem público jovem e cheio de vida, no auge da sua história pessoal, fica difícil escapar da reflexão sobre o sentido da vida, do que estamos fazendo aqui. Elas nos fazem lembrar que nossa hora vai chegar e que não temos a menor condição de saber quanto tempo nos resta. Pode ser amanhã, ou daqui a meia hora. Quando essas bombas caem no meio da sala de visitas faltam palavras, as análises racionais, mesmo as mais geniais, não dão conta de analisar o que aconteceu.

 

“O que você faria, se só te restasse um dia?”, pergunta o compositor Paulinho Moska, na canção que ficou famosa na voz de Lenine. “Ia manter sua agenda?” “Corria prum shopping center / Ou para uma academia / Pra se esquecer que não dá tempo / Pro tempo que já se perdia?”.

 

Meus sinceros votos para que a dor dessa família, dos amigos próximos, que essa dor que se torna a dor de toda uma sociedade, nessa bonita solidariedade que se manifesta em momentos assim, sirva para nos ajudar a refletir sobre todos estes mistérios. Que a certeza do fim (e da imprevisibilidade dele) nos impulsione a sermos melhores, a aproveitarmos o valioso tempo que temos disponível para cuidar melhor de quem nos cerca, de quem amamos, e, por consequência, do nosso planeta.

 

Afinal, seguimos vivos. Até quando? Só Deus, ou o destino, ou o acaso, sabem. Se é que sabem. E isso não é bom nem é ruim. Apenas é.

 

 

Danilo Pretti di Giorgi é jornalista.

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