Correio da Cidadania

O Parque Eólico de Sobradinho

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Sobradinho entrou na história como a primeira barragem que causou um dos desastres sociais e ambientais mais graves das grandes obras brasileiras. Construída no leito do rio São Francisco, na década de 70, foi por muito tempo o maior espelho artificial de água da Terra. Quatro cidades foram relocadas e 72 mil pessoas também. Tem gente que até hoje não reencontrou o rumo de sua história. Logo após, com a construção de Itaparica, surgiu a resistência organizada dos atingidos, que culminou no Movimento Nacional dos Atingidos por Barragens (MAB).

 

Uma nova onda energética recai sobre a região. À margem direita do lago, no município de Sobradinho, vai ser instalado o primeiro grande parque eólico brasileiro. Serão cem torres, de quinhentos em quinhentos metros, perfazendo um total de 50 km, com o objetivo de gerar 200 megawatts de energia advinda dos ventos.

 

Nós temos defendido o “mixer” de energias no Brasil. Somos um dos poucos países do mundo que têm à sua disposição várias fontes com real potencial. Não podemos continuar sob a ditadura da energia hídrica – empreiteiras e corporações técnicas -, nem do petróleo. Em um debate aqui na região com a cúpula da CHESF, os técnicos nos disseram que o potencial eólico brasileiro é de 30 Gigawatts, portanto, enorme. Os inconvenientes dessa energia são poucos, como enfeiar a paisagem, produzir um zumbido que pode influenciar o ouvido humano, ou decepar a vida de pássaros que cruzarem as pás. Entretanto, não destrói a vegetação, não elimina peixes, não aquece o planeta, não elimina ecossistemas inteiros etc. Portanto, é bem vindo o primeiro parque nacional, porque agora o Brasil entra realmente com força na exploração de nosso potencial eólico.

 

O empreendimento é privado, da SoWiTec do Brasil / Energias Alternativas LTDA, com sede em Natal, mas de capital alemão. A energia será comprada pela ELETROBRÁS.

 

Entretanto, as preocupações sempre estão presentes. Por que a CHESF não se transforma numa grande produtora de energia do Nordeste, do Brasil, do mundo, explorando também a dos ventos e solar? Não seria a hora também de incorporar as populações locais nos benefícios dessa nova fonte energética? Os lavradores, donos das terras onde serão implantadas as torres, farão um contrato de arrendamento por 25 anos. Portanto, como existem estradas a serem feitas, torres, usinas, linhas de transmissão, suas vidas serão modificadas, embora possam continuar na área.

 

Seria o momento de receberem uma taxa monetária da cessão de suas áreas em cima da energia produzida. Que essa taxa vá para os agricultores, não só para o município, como acontece com a energia hídrica, onde as prefeituras recebem o royalty e nunca investem esse dinheiro em benefício da população prejudicada. Poderiam vir outros benefícios, como escolas, água, um plano organizado e apoiado de manejo de caprinos, tantas outras iniciativas positivas, caso o Estado cumpra seu papel nessa inovação.

 

Vamos ver se o Brasil entra na era das novas energias pelo vôo da Águia ou da Galinha, como costuma dizer Leonardo Boff. O potencial é poderoso, mas, com todo respeito às galinhas, nossa tradição é voar rasteiro.

 

 

Roberto Malvezzi (Gogó) é coordenador da CPT.

 

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