Correio da Cidadania

Vigília por mortos em Gaza é marcada por debate multiétnico

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Vigília homenageou os mortos no conflito na Faixa de Gaza

 

Na noite da última terça-feira, muçulmanos e judeus, palestinos, israelenses e brasileiros, se juntaram em protesto contra os bombardeios na Faixa de Gaza, na praça do Cinquentenário do Estado de Israel, localizada no bairro de Higienópolis, onde se concentra boa parte da colônia judaica em São Paulo.

 

Um dos atos simbólicos da vigília pelos mortos foi o rebatismo do local para Praça Palestina Livre. Também houve um sarau com poemas que tratam do tema e oficinas de estêncil, além, claro, das velas acesas para os mortos, orações dos muçulmanos presentes e a presença de líderes de ambas as religiões, somadas à do padre Júlio Lancelotti. Também se apresentou o grupo de rap “Influência Positiva”, que gravou a canção “Nossa Faixa de Gaza” em parceria com o rapper palestino Mohamed Antar, na qual opõe as diferenças e semelhanças das realidades brasileiras e palestinas.

 

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Stencil feito durante o ato realizado em Higienópolis

 

Presente na vigília, Givanildo Manoel, do Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política, explicou o porquê da presença de muitos e da realização do ato. “Existe um processo de expulsão de um povo da sua terra, isso tem sido de diversas formas e uma delas é a sofisticação da violência”, criticou. “Diversos aparatos de promoção da violência são hoje desenvolvidos em Israel, tais como drones e armamentos letais e não letais e testados em treinamento contra o povo palestino”, completou, referindo-se à fama dos israelenses como grandes desenvolvedores e exportadores mundiais de armas, sem contar diversas denúncias de testes desses produtos no povo palestino, como em reportagem do orientemidia, em que um médico dinamarquês relatou o uso de uma arma ainda desconhecida.

 

“Essas bombas são lançadas de aviões não tripulados e, ao impactar no chão, liberam uma descarga de energia e de estilhaços que despedaça a parte inferior dos corpos das pessoas atingidas”, afirmou, entre outras denúncias gravíssimas, Erik Fosse, médico e professor de cirurgia da Universidade de Oslo, em Gaza junto à ONG norueguesa NORWAC.

 

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Velas acesas pela paz no Oriente Médio

Apesar de a vigília ter sido organizada pela colônia palestina em conjunto com movimentos sociais e setores pacifistas da colônia judaica, muita gente não entendeu (ou fez questão de não entender) o propósito do luto. E isso deve muito ao desserviço prestado por alguns veículos da dita grande mídia, que deu roupagens “hamasistas” ao protesto, quando na realidade não havia qualquer defesa do Hamas ou defesa e prática de qualquer tipo de violência. Pelo contrário, como citado no início da reportagem, havia brasileiros, palestinos e israelenses, todos juntos ali, debatendo ideias e se confraternizando.

 

E como todo ato que propõe diálogo e tolerância por estas bandas, a vigília terminou após um princípio de conflito com a polícia militar. Enquanto os muçulmanos faziam uma oração, policiais militares tentaram deter três manifestantes que faziam um estêncil na praça e geraram uma comoção coletiva para a soltura dos ativistas. Todos os presentes cercaram os PMS e os puxaram de volta, literalmente, no braço, liberando-os.

 

Nesse momento um policial militar atirou para o alto com uma arma de cano longo, aparentemente balas de borracha, mas o grau de letalidade da munição não foi confirmado. Depois do incidente, houve um jogral, as últimas falas dos presentes e a vigília se encerrou, deixando na praça um caminho de velas acesas, alguns estêncis nas paredes e a esperança de que dias melhores virão para o povo palestino.

 

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Praça Cinquentenário de Israel foi renomeada simbolicamente

 

Um novo ato contra o genocídio palestino será realizado no próximo sábado, 19 de julho, em frente ao consulado de Israel.

 

Raphael Sanz é jornalista.

Publicado originalmente pela Revista Vaidapé.

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