Correio da Cidadania

Quem montou na cobra grande não se escancha em puraqué

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Nós, que viemos de longe, sabemos o que a Rede Globo objetiva com a escandalosa programação em torno do lamentável e triste episódio da morte do operador da TV Bandeirantes, na manifestação do dia 10 último. Hoje, dia 12, esse assunto ocupou quase todo o jornal da manhã, levou todo o resto da manhã batendo no mesmo ponto, seguiu com reportagens no jornal local da tarde e, pouco depois, no nacional da tarde e entrou pela noite com o mesmo tema. E foi o grande destaque do Jornal Nacional. Foi a única emissora a participar e apresentar a prisão do manifestante na Bahia; mostrou quase todo o tempo do voo para o Rio de Janeiro. Exclusividade em entrevistas com autoridades. A Bandeirantes, que empregava o cinegrafista, noticiou em reportagens normais.

 

Sem disfarçar, aproveita o episódio para fazer a campanha de seus grandes benfeitores, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. Escancaradamente, promove o candidato a governador da dupla, o Pezão, e tenta desmoralizar os oponentes, principalmente o deputado Marcelo Freixo. É campanha escancarada.

 

Os outros motivos do picaresco sensacionalismo, obviamente, são: criminalizar as manifestações, desmoralizá-las, manchá-las e sepultá-las. Hipócrita, a Rede declara “solidarizar-se com a família da vítima” e “reconhece a validade de manifestações pacíficas”. Mas o que realmente almeja é, além do dito acima, aterrorizar  para que não haja qualquer tipo de manifestação, não só durante a Copa, mas até as eleições.

 

O trágico e inaceitável episódio que levou à morte o trabalhador Santiago Andrade é fruto da irresponsabilidade de um grupo de anarquistas esquizofrênicos que atua em conjunto com os P2 e outros meliantes infiltrados nas manifestações, para promover condenáveis episódios que afastam a população. População que, embora indignada com os desmandos em todos os níveis governamentais, condena e não participa de asnice.

 

Mas os honestos, sinceros e com pureza de propósitos líderes das manifestações não podem se intimidar diante de tantas armações e tramas dos conservadores e dos exploradores, que querem continuar com a mesma prática política oportunista, fisiológica e truculenta.

 

Esses jovens idealistas e cansados das falcatruas das elites dominantes são, na verdade, no momento, a última esperança para um povo descrente e desesperançado, que está cansado das eleições viciadas e dominadas pelo poder econômico e midiático, e do sistema do salve-se quem puder.

 

Manter as mobilizações, não se deixar isolar, mas isolar os grupos de anarquistas neuróticos sem causa, que acabam servindo à Direita.

 

Enquanto isso, o preço das passagens de ônibus aumentou. E não se pode esquecer a violência da PM que, no mesmo dia do triste episódio, espancou generalizadamente populares que apenas esperavam condução. Invadiu e jogou bombas e gás de pimenta dentro da estação de passageiros da Central do Brasil, atingindo os populares que aguardavam trem. Três moças, colegas de minha filha, que assistiam à distância, foram revistadas e molestadas por PMs que cometeram obscenidades. Polícia que, em outra manifestação, desligou as luzes de todo o centro da cidade, atacou nos bairros da Cinelândia, Lapa, Glória e até em Santa Tereza, onde não havia manifestantes, jogando bombas dentro de restaurantes e bares e espancando quem apenas curtia a noite. E por que não se apura a morte do camelô?

 

Portanto, manter as mobilizações, mas também ter cuidado não só com os infiltrados, mas também, e principalmente, com a truculência oficial. O governo federal já acionou o Ministério da Defesa para atuar na repressão. Por ora, somente em estratégia e coordenação. Mas não titubeará de colocar as Forças Armadas em campo, como fez no leilão de Libra.  Está para ser votado, e o governo está apressando, o PL dos senadores Marcelo Crivela (PRB), Ana Amélia (PP) e Walter Pinheiro (PT), que tipifica como terroristas todos os que forem presos em manifestação. É mais drástico que a Lei de Segurança Nacional da ditadura.

 

Mas nós, que estamos escaldados, sabemos separar as coisas e repudiar a asquerosa exploração política em torno do lamentável episódio.

 

Paulo André Barata, escritor, em “Esse Rio É Minha Rua”.

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