Correio da Cidadania

Alunos em luta; ou quando a aula é dada por quem está para aprender

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Na manhã de segunda-feira, 9 de dezembro, os alunos do colégio Antonio Manoel Alves de Lima, localizado no Jardim São Luiz, tiveram uma das aulas mais difíceis e necessárias para todos os jovens da periferia de São Paulo: o enfrentamento com a PM.

 

Em ato dentro do ambiente escolar – ambiente este a todo o momento vendido como de posse dos alunos –, os estudantes enfrentaram a truculência já conhecida nas abordagens da polícia militar de São Paulo.

 

Para completar o cenário deplorável, os alunos relatam que em nenhum momento os membros da direção apareceram para mediar a situação, cabendo aos próprios estudantes o enfrentamento direto com a polícia. A aluna T. R., de 17 anos, relata que sofreu ameaça para que encerrasse as gravações que estava realizando. E outros alunos garantem terem sidos empurrados e xingados pelos oficiais.

 

E como isso começou?

 

A luta dos alunos começou quando a direção decidiu cercar o pátio e outras dependências da escola, por meio de muros. Utilizando o argumento da segurança e do combate ao uso de drogas dentro da unidade escolar, unilateralmente, a direção iniciou (num final de semana) a construção. Ao chegarem para as aulas e se depararem com tal construção, os estudantes começaram o movimento de organização, em protesto contra o muro.

 

Organizando uma manifestação dentro da escola, no dia 2 de dezembro, os alunos paralisaram as atividades escolares para reivindicar uma reunião do conselho escolar, a fim de debater a celeuma. Não se tratava somente do muro, mas de debater outros problemas estruturais pelos quais a escola passa.

 

Nas palavras dos próprios alunos, divulgadas via abaixo assinado: "Queremos deixar nossa insatisfação de como as coisas são feitas nessa escola. Nós, alunos, não somos incentivados a participar dessas reuniões e muitas vezes nem avisados do acontecimento delas".

 

Alguns anos atrás, um folheto na USP circulava com a seguinte frase:

“Acreditamos numa escola que seja um espaço de conhecimento e não apenas um espaço institucional, disciplinador e autoritário”. Palavras que não foram lidas por esses estudantes, mas que, com certeza, exemplificam os anseios dos jovens.

 

Cabe lembrar que os alunos estão se reunindo em diversos momentos sem professor nenhum, usando um espaço cultural existente na região (o Bloco do Beco), reforçando que esses adolescentes já são capazes de identificar as necessidades que a escola deve suprir. E aprendendo, na prática, como lutar por seus direitos.

 

Um dos elementos mais importantes nessa história é a Fundação Julita. Para aqueles que não conhecem a região, a Fundação e escola dividem hoje o que no passado foi um único terreno e, nos dias atuais, dividem os alunos que transitam entre os dois locais, alternando os horários.

 

Um legado funesto desse muro será a separação total entre a fundação e a escola, já que, segundo a direção escolar, é da fundação que os usuários pulam para dentro da escola. Defendendo a construção, ouviu-se que a própria direção da Julita apoiava a existência do muro, o que foi desmentido por uma carta publicada pela fundação.

 

Jânio de Oliveira, gestor pedagógico da fundação Julita, explicou a posição da instituição, em nota de esclarecimento: “estamos disponíveis para, juntos, pensarmos em estratégias e ações para lidar com essa realidade (a violência e o consumo de drogas). Não somos a favor da construção de um muro para ‘isolar’ esse problema que acreditamos ser um problema social do país e do contexto social em que estamos inseridos”.

 

Isolamento é o que a escola vem adotando a cada novo embate. Diversos pais e membros da comunidade contam que, ao entrarem em contato a secretaria do Antonio Manoel, são mal atendidos e seus questionamentos ficam sem resposta alguma – em alguns casos, há relatos até de agressão verbal por parte dos funcionários.

 

Traço de uma educação que perdeu o seu valor humano; estamos presenciando a eminente decadência de um sistema de ensino que se esqueceu de construir um espaço de conhecimento e fez da aula uma simples ferramenta de reprodução da autoridade. Um autoritarismo arcaico.

 

Davi C. Santos é professor de história, mora no Jardim São Luiz e deu aulas na escola Antonio Manoel Alves de Lima durante três anos e meio.

Comentários   

0 #1 Não basta ser professor, tem que ser educadorCremilda E. Teixeira 12-12-2013 12:17
Lembrando que o Professor David é um educador, o que a escola precisa é de educadores. Professor autoritário e funcionários que atendem o telefone na Secretaria da Escola para ameaçar e ofender quem liga para lá, a escola não precisa.Vamos ver se o Governo de São Paulo se manifesta nesse embate.
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