Correio da Cidadania

Trotsky, o bíblico

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Temos dito que existiram dois Trotsky. O primeiro escreveu o valioso ensaio “Nossas Tarefas Políticas”, em 1904, em que tecia, profeticamente, críticas à proposta leninista de partido, acusando-a de levar ao substituísmo. O segundo foi o que aderiu ao leninismo e contribuiu, com seu talento, para a construção e consolidação deste mesmo substituísmo, antes denunciado como nefasto. Mas os pecados do segundo Trotsky foram bem além. Foi ele co-partícipe das propostas que suprimiram a liberdade e impuseram o monolitismo e o partido único.

 

As medidas patrocinadas por Lenine e Trotsky, em 1921, foram a fórmula de que haveria de se revestir a usurpação do poder político por um único partido, ou melhor, por uma única facção. É verdade que pretendiam eles serem essas medidas transitórias e elas se perpetuaram.

 

Trotsky, vítima de sua própria sombra, foi excluído do Partido e, depois, expulso da URSS. No exílio, ao invés de submeter a Revolução Russa a uma análise marxista e enxergar que a revolução socialista foi derrotada, ele descambou para o idealismo filosófico, assumindo a tese da revolução traída.

 

Concomitantemente, se seguiram outros equívocos, como Estado operário burocratizado, afirmação desprovida de qualquer fundamento, pois não houve, na URSS, a ditadura do proletariado e, sim, do partido único.

 

Outro engano do senhor Trotsky foi proclamar a Revolução Russa como desfigurada, pois ela não se desfigurou apenas; ela tomou um caminho qualitativamente diferente, através do stalinismo. O que aconteceu na URSS foi o capitalismo de Estado e isso ele não percebeu.

 

Um fato que merece ser ressaltado é que ele, no exílio, voltou-se para a tarefa inverídica de provar que havia sido leninista desde sempre. Mais grave ainda, ele não se propôs a romper com as resoluções “temporárias” do X Congresso do PC russo. Pelo contrário, conservou-se fidelíssimo a essas resoluções, que impediam a existência de tendências no âmbito partidário e excluíam o livre debate.

 

Como as demais facções stalinistas, o trotskismo implementou, com todo rigor, o conceito judaico do “povo eleito de Deus”. Isso implicava em que os grupos ou partidos trotskistas se auto-proclamassem representantes da classe operária; e aqueles que se insurgissem contra seus ditames deveriam ser excluídos e abatidos. Fiel a esse princípio bíblico de que “quem não está comigo, está contra mim”, Trotsky não vacilou em dispensar acusações do tipo oportunistas, carreiristas, centristas aos seus dissidentes, não poupando, sequer, figuras como Andrés Nin e Victor Serge.

 

O monolitismo do X Congresso teve, no trotskismo, a aplicação mais profunda e a prova dessa afirmação é o fato de que existem, hoje, mais de cem organizações trotskistas espalhadas pelo mundo. Isso é a revelação inequívoca do quanto o monolitismo se faz presente nas hostes trotskistas, que não admitem qualquer discordância em relação ao discurso oficial de cada uma de suas agremiações. Os dissidentes não sobrevivem ou, para sobreviverem, têm que armar uma nova tenda.

 

A condição indispensável para que possamos varrer para o lixo da História o stalinismo contrarrevolucionário, responsável pela manutenção do capitalismo, é restabelecer o livre debate, sem preconceito e, sobretudo, sem medo de romper com mitos, lendas, fantasias e fraudes disseminadas em nome do socialismo ou do comunismo.

 

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Inocentes úteis

 

Gilvan Rocha é presidente do Centro de Estudos e Atividades Políticas – CAEP.

Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com

Comentários   

0 #1 Gilvan Rocha falseia a históriaVal Lisboa 10-12-2013 16:26
Como alguém, como Gilvan Rocha, de um tal Centro de Estudos e Atividades Políticas, pode ser tão ignorante sobre a vida de Trotsky, seus escritos, livros, artigos etc.? Não conhece dezenas e até centenas de textos riquíssimos de análise da degeneração da URSS sob o domínio de Stalin? Quem mais sofreu a perseguição burguesa e stalinista no mundo, além de Trotsky? Ou é pura má-fé? Um intelectual fala em "debate aberto" e talvez de "objetividade", mas para esconder seus pontos de vista políticos (que no caso só podem ser de direita - reformistas ou coisa pior). VAL LISBOA
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