Correio da Cidadania

A luta contra o fechamento do PAM Lapa; ou negociação coletiva através da revolta

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O que fazer quando os governos de forma autoritária realizam injustiças contra as pessoas? Ficar quieto? Se acomodar? Ou lutar para ser ouvido, para ampliar o debate? Mas e quando isso não é suficiente? Vejamos uma luta concreta.

 

Em setembro deste ano, os trabalhadores de um serviço de saúde chamado PAM Lapa – que tem diversas especialidades de saúde – descobriram que o serviço será fechado pelo governo Alckmin e transformado em serviço de saúde específico para idosos, abandonando diversos usuários do SUS que vão ficar sem tratamento.

 

O Fórum Popular de Saúde (FOPS) resolveu apoiar trabalhadores e usuários e lutar contra este absurdo. De setembro até novembro, realizou diversas tentativas de dialogar com a sociedade e com o governo, mas não foi ouvido: manifestações no PAM Lapa e na Secretaria de Saúde, intervenção em um evento onde o secretário de Saúde contraditoriamente falava sobre humanização, diálogo com deputados da comissão de saúde, mas nada de respostas, nada de a mídia se interessar em ampliar este debate. Somente desprezo pelo tema.

 

Tanto os governos como as mídias têm condenado as manifestações mais radicais, as quais acusam de ser violentas e seus manifestantes vândalos. Mas ora, eles tentam ignorar as manifestações como estas do FOPS. Desta forma, ignorando os movimentos sociais e não dando nenhum espaço para a existência de um poder popular, governos e mídia empurram pessoas e movimentos sociais para utilização de repertórios de confronto mais radicais.

 

Antes da criação dos Estados nacionais e das democracias como conhecemos, mais constantemente aconteciam ações diretas, que hoje seriam consideradas radicais nos confrontos políticos. Um exemplo é a apreensão de grãos, que acontecia quando comunidades ameaçadas pela fome e pelos altos preços dos alimentos atacavam estoques de grãos. Eram tão constantes que Thompson (1) escreveu que eram verdadeiras “negociações coletivas através da revolta”.

 

Com o advento da democracia os confrontos políticos modificaram-se, tornaram-se menos radicais e as ações coletivas muitas vezes foram canalizadas para espaços institucionais. Mas, e agora, estes espaços ditos democráticos estão surdos para os apelos populares? Ou o fechamento de um serviço de saúde que atende crianças com problemas cardiológicos graves não é uma questão importante? Ou ainda uma pergunta mais profunda: vivemos realmente em uma democracia?

 

Pessoas e movimentos que sentem as injustiças dia-a-dia não vão retroceder. Pelo contrário vão até o fim naquilo que acreditam. Na luta do Fórum Popular de Saúde todos os canais ditos democráticos estão sendo acionados para o governo rever sua decisão de fechar um serviço de saúde tão importante, mas o movimento vem sendo ignorado pelo Secretário de Saúde, David Uip.

 

A única resposta possível é retomar a história de forma mais radical e defender direitos, no caso, o não fechamento do PAM Lapa, a partir da negociação coletiva através da revolta.

 

Nota:

1) THOMPSON, E.P (1971) The Moral Economy of the English Crowd in the Eighteenth Century. Past and Present, 50 Citado no livro "O poder em Movimento - movimentos sociais e confronto político" de Sidney Tarrow


Edna Santana é do Fórum Popular de Saúde e trabalhadora do PAM Lapa

Paulo Spina é do Fórum Popular de Saúde.

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