Correio da Cidadania

O caçador de raposas

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O titulo deste artigo não tem nada a ver com o romance da inglesa Minette Walters. Tem a ver com nossa recente história política.

 

No século passado, tivemos um jovem e esportista candidato a presidente da República, que ficou conhecido como “o caçador de marajás”, e logo depois de eleito acabou defenestrado do trono presidencial, pois o próprio, junto com seu ex-tesoureiro da campanha eleitoral, estava enriquecendo (mais ainda) às custas das maracutaias promovidas de dentro do Palácio da Alvorada, com ramificações na Casa da Dinda.

 

Agora, passados 20 anos, surge o “caçador de raposas”. Discurso empregado pelo presidenciável e governador de Pernambuco para se referir à necessidade de “aposentar as raposas da política brasileira”. Entenda-se aqui como “raposas” os políticos profissionais, quase eternos, aqueles que, como diz o governador, contribuem para uma política “mofada, cansada e atrasada”.

 

Para os marqueteiros do presidenciável pernambucano, o objetivo é de apresentá-lo como o “novo”, aquele que vem para fazer uma “nova política”. Assim, é preciso construir uma imagem positiva e criar, junto à opinião publica, a figura de um político dinâmico, bom administrador, gestor público competente, diferenciado-o das velhas práticas políticas e dos políticos de carreira, desgastados junto à população.

 

Essa estratégia já deu certo uma vez, e por que não agora, que a desilusão tomou conta dos eleitores que foram às ruas protestar? O partido no poder há 11 anos já não atende aos reclamos e demandas da população, que exige mudanças. Prometeu “mundos e fundos” e acabou no lugar comum da corrupção, dos acordos políticos inexplicáveis, da velha prática de “fazer política no país”, simbolizada pela máxima “é dando que se recebe".

 

Sem dúvida, quem acompanha a trajetória do jovem governador, já idoso nos caminhos sinuosos da política brasileira, conhece muito bem sua obsessão em conquistar e exercer o poder, não levando em consideração os meios para chegar lá.

 

Em Pernambuco, os exemplos da conduta e da prática política deste jovem-velho político são inúmeros: o nepotismo reinante no Estado, com parentes distribuídos em cargos públicos, cujo ápice foi o envolvimento direto do governador na eleição da própria mãe a um cargo vitalício no Tribunal de Contas da União; os acordos “toma lá, dá cá” com os prefeitos e deputados estaduais, o que o tornou praticamente um governante sem oposição etc.

 

Simbolicamente, essa prática ficou evidente quando patrocinou a mudança na Constituição Estadual, para que um seu aliado político fosse reconduzido à Presidência da Assembleia Legislativa pela quarta vez (talvez seja conduzido novamente a um quinto mandato. Como o próprio afirmou, só depende dE o governador querer). Sem falar no chamado “desenvolvimento predatório”, que tem patrocinado seu governo.

 

O que se desvenda dessa obsessão pelo poder do jovem e esperto governador é que ele age muito mais como amigo das raposas do que como predador. Basta ver seus acordos e alianças espúrias Brasil afora, nada programáticas, formando o bloco dos econeoliberais socialistas, voltados a um único objetivo: ascender ao poder de presidente da República. E ainda diz o que todos querem ouvir, que é “necessária mudança profunda do sistema político”. Só acredita quem não o conhece.

 

O importante nessa estória toda é não esquecer do passado recente do jovem-velho e ficar atento, pois a caça pode ser você.

 

Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco

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