Correio da Cidadania

O papa e a Páscoa

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Quando Bento 16, às vésperas da quaresma, anunciou sua renúncia, tudo o que a Igreja desejava era ter um novo papa para a Páscoa.

 

E deu certo. Olhados agora os acontecimentos, “a posteriori”, pareceria que tivessem sido agendados de propósito, num calendário com os dias todos disponíveis. Deu não só para ter o novo Papa na Páscoa, mas foi possível celebrar o início do seu pontificado na festa de São José, padroeiro da Igreja, e assim liberar a Semana Santa para as celebrações tradicionais que a ocupam por inteiro.

 

O pontificado do papa Francisco encaixou bem na dinâmica litúrgica. A esperança é que encaixe bem no processo histórico vivido hoje pela Igreja.

 

As grandes celebrações litúrgicas da Semana Santa se constituem em referência exemplar para todas as liturgias ao longo do ano. A celebração da Páscoa, de certa maneira, “formata” todas as outras celebrações do Ano Litúrgico.

 

O início do pontificado do Papa Francisco teve a feliz coincidência de acontecer na reta final da quaresma, onde as celebrações litúrgicas propiciam um simbolismo fecundo, apontando valores muito importantes, que servem de referência para todo um programa de governo eclesial.

 

De certa maneira, dá para dizer que o papa Francisco, nesses seus primeiros dias de Bispo de Roma, escolheu as referências que traçam a linha do seu pontificado. Usou gestos e palavras que servem de parâmetro para “formatar” esta linha.

 

Ele emitiu sua mensagem cifrada. Tentemos decifrá-la, para entender bem seu recado.

 

Sua jogada estratégica começou pela escolha do nome. Foi sua primeira decisão, depois de ter aceitado sua eleição. Isto mostra que, desde o seu primeiro momento como novo Bispo de Roma, foi logo traçando um rumo para a missão que acabava de abraçar.

 

Tendo São Francisco como referência, e como escudo para neutralizar possíveis resistências, foi colecionando gestos e palavras que foram cimentando as primeiras impressões positivas a respeito de sua pessoa e de suas intenções.

 

Para sinalizar sua vontade de encontrar grandes consensos com a humanidade de hoje, elegeu a ecologia como terreno fácil e evidente de coincidências entre as causas da Igreja e as causas da sociedade. Insinuando assim que está disposto a buscar outras convergências, que reaproximem a Igreja das grandes questões que afligem hoje a humanidade, mergulhada em crise profunda nestes tempos de tantas mudanças.

 

Para sair da defensiva, diante de acusações que lhe sacam, a Igreja precisa, decididamente, colocar-se a serviço da vida. Com esta postura radical conseguirá sair do sufoco a que foi submetida por problemas internos, que serão superados na medida em que abraçar as grandes causas da humanidade.

 

Nesta perspectiva, tomam sentido os gestos de simplicidade, de despojamento e de bondade que o papa Francisco veio fazendo nestes dias, numa evidente intenção de seguir o roteiro vivido pelo papa João 23.

 

Nesta semelhança com o “papa da bondade”, entende-se, por exemplo, sua decisão de celebrar a missa do “lava-pés” no Instituto Penal para menores Casal Del Marmo. Entre as atitudes que mais popularizaram João 23, foi exatamente sua visita aos detentos no presídio de Roma.

 

Mas João 23 teve a grande oportunidade de convocar um Concílio, para o qual canalizou as simpatias pessoais que ele tinha angariado, convocando a todos para o grande mutirão em que se constituiu o Concílio.

 

Qual será o novo mutirão que o papa Francisco vai desencadear, para justificar as grandes esperanças que ele despertou com sua insistente convocação nestes dias de Semana Santa?

 

Depois da Páscoa, a Igreja leva sua fé para o cotidiano da vida. Depois dos gestos e das palavras animadoras, o papa Francisco precisa tomar suas primeiras iniciativas práticas.

 

Como pediu nossas orações, não lhe faltará nosso apoio para implementar suas decisões.

 

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Vá em frente e conte com a gente!

 

 

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales (SP).

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