Correio da Cidadania

O suicídio dos espanhóis

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No ano de 2010 estive na Catalunha com grupos solidários que apóiam a Prelazia de São Félix do Araguaia. Era um pedido do bispo Pedro Casaldáliga. A temática era a Agenda Latinoamericana daquele ano, questão das mudanças climáticas, a defesa da mãe Terra.

 

Um dos lugares em que estive foi a Universidade de Barcelona, conversando com alunos do professor Arcadis Oliveris. Ele é o parceiro de Juan Martinez Alier, um dos pensadores da ecologia dos pobres.

 

Após a conversa com seus alunos, ele nos convidou – estava com Josephina, uma das militantes do grupo Araguaia – para irmos assistir a uma palestra sua para jovens espanhóis desempregados. O lugar do evento era um prédio ocupado por “jovens sem teto”.

 

Mas, logo na saída, próximos à Universidade, ele nos mostrou um prédio e disse: “esses prédios estão vazios. Pertencem a uma empresa, cujos donos são a família Bush e a família Bin Laden”.

 

Soltou uma gargalhada e complementou: “guerra é guerra, negócios à parte. O problema imobiliário na Espanha vai ter as mesmas conseqüências da bolha dos Estados Unidos”.

 

O assunto da palestra com os jovens foi o mesmo da viagem. Mais de 200 jovens desempregados, ocupando um prédio público, ouvindo suas previsões sobre o futuro da Espanha.

 

Hoje, lendo os jornais, vendo o suicídio de pessoas por estarem sendo despejadas na Espanha, relembro o acerto mortal do economista, mas vejo o quanto o capitalismo é cruel. Um país que tem um milhão de unidades habitacionais desocupadas opta por jogar o povo na rua, mesmo diante da onda de suicídio.

 

Agora, até o bancos estão reticentes em executar os despejos. Há algo de irracional nesses fatos, embora para o capital isso faça sentido.

 

Assim é com a fome de 900 milhões de pessoas no mundo mesmo havendo comida; assim é com 1,4 bilhão que não tem água potável, mesmo com o consumo de 70% da água doce do mundo na irrigação; assim é com o saneamento, habitação, ao infinito.

 

O mundo atual não vislumbra novas e imediatas saídas. A crise civilizacional é mais profunda, mais longa, até que a humanidade, ainda que seja pelos paradoxos e sofrimentos indizíveis, encontre outra forma de viver sobre a Terra.

 

Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

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