Correio da Cidadania

A falsa ilusão de paz na presente disputa presidencial

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Republicanos e democratas realizaram suas convenções nos últimos dias. Grandiosas, as festas partidárias costumam contar com a participação de atores e de diretores famosos, muitos dos quais oscarizados, e de empresários de sucesso.

 

Equilibrados percentualmente nas pesquisas, Mitt Romney e Barack Obama tentarão diferenciar-se ainda mais nas últimas semanas, de forma que os eleitores menos politizados ou mais ultimamente decepcionados animem-se a votar em novembro.

 

No pleito de 2008, o candidato democrata beneficiou-se da conjuntura, caracterizada por desmazelos internos e externos acumulados na dupla gestão de George Bush. Todavia, Obama não conseguiu, ao longo de três anos e meio, superar as adversidades, por ter se acomodado administrativamente já nos primeiros meses de mandato.

 

O mandatário chega ao fim do quadriênio com apenas um feito marcante: a modificação da legislação no setor de saúde. Em certa medida, a alteração complementa os esforços executados na época de Lyndon Johnson, com o Medicare, destinado a pessoas acima de 65 anos, e com o Medicaid, voltado basicamente para famílias de baixa renda.

 

Em termos simbólicos, seu maior tento foi a obtenção do prêmio Nobel da Paz em 2009, disputado por mais de 200 indicados. Ele foi o primeiro direcionado para um presidente norte-americano sem uma obra diplomática específica.

 

Ao contrário, nas primeiras semanas à frente da Casa Branca, Obama havia autorizado o envio de mais de 20 mil efetivos ao Afeganistão e o emprego de aviões não tripulados em missões de vigilância e também de ataques na fronteira afegã-paquistanesa.

 

Em 1906, Theodore Roosevelt, republicano, havia sido premiado por intermediar negociações de paz entre Rússia e Japão; em 1919, Woodrow Wilson, democrata, por viabilizar o estabelecimento da Liga das Nações. Jimmy Carter, também do Partido Democrata, receberia o seu em 2002.

 

Dois vices ganharam-no: Charles Dawes, republicano, em 1925, e Al Gore, democrata, em 2007, fora do mandato como Carter. A distinção promovida pelo parlamento norueguês tem contribuído ao longo do tempo para incorretamente vincular os democratas com o ideário da paz. Registre-se, entrementes, que Obama doaria à caridade a quantia de quase um milhão e meio de dólares que o prêmio concede.

 

Na campanha de 2008, Obama havia corretamente prometido reforçar o diálogo com a comunidade internacional, o que abrangeria países adversários como Irã ou melindrados como Rússia. Na prática, provocaria os dois, ao propor a instalação de sistemas militares na Polônia e na República Checa, sob alegação de proteger aliados europeus de eventual ataque de mísseis do Irã.

 

Com Teerã, Washington não conseguiu desanuviar o relacionamento, vez que o programa nuclear persa causava bastante controvérsia, em vista da forma reservada de desenvolvimento. Londres, Paris e, mais tarde, Moscou apoiaram a Casa Branca na suspeição.

 

De acordo com as desconfianças da época, acreditava-se que as centrífugas iranianas poderiam produzir em pleno funcionamento duas bombas por ano, a partir de 2011. A tensão amero-iraniana estende-se até hoje, sem solução à vista, apesar dos constantes debates entre os países do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

 

Ao ser comunicado da honraria, Obama mesmo anunciou que ela seria um chamado à ação a todos os defensores da justiça e da dignidade. Lamentavelmente, não foi. 2012 encerra-se sem que os Estados Unidos tenham contribuído de maneira incisiva para a paz no Oriente Médio, estabilidade no norte da África, após o florescer das movimentações populares, e desembruscamento na Ásia Oriental, por conta da Coréia do Norte, e na própria América do Norte, por causa do México.

 

Leia também:

Estados Unidos: relacionamento inicial de Obama com questões de Bush


Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

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