Correio da Cidadania

Soldados de Israel narram violências contra meninos palestinos

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Soldados entraram numa vila onde havia acontecido um conflito, batendo nas pessoas com bastões de madeira.

 

No fim, restaram algumas crianças presas. Elas foram forçadas a correr; quem corria menos era espancada com bastões.

 

Segundo um ex-sargento de um Corpo de Engenharia do exército israelense, isso aconteceu com crianças palestinas, sendo que a punição foi repetida quatro a cinco vezes, até sobre as mesmas crianças.

 

Cerca de 30 atuais e antigos soldados israelenses revelaram a forma violenta como crianças palestinas são rotineiramente tratadas durante as operações militares e prisões na Margem Oeste.

 

São 850 relatos, publicados pela organização Breaking The Silence (Quebrando o Silêncio), formada, em 2004, por ex-soldados israelenses, que se dedica a expor as ações do exército nos territórios ocupados.

 

São fatos estarrecedores: espancamentos, humilhações, ofensas, prisões noturnas e ferimentos impostos a crianças.

 

Yehuda Shaul, da Breaking the Silence, explica que os depoimentos foram reunidos para mostrar a realidade do tratamento habitual imposto pelos soldados aos palestinos, particularmente crianças. “Infelizmente”, ele diz, “esta é a conseqüência moral da prolongada ocupação sofrida pelo povo palestino”.

 

Alguns dos fatos narrados relacionam-se à detenção e às violências praticadas contra meninos que jogam pedras nos soldados e à imposição do controle israelense em áreas ocupadas.

 

O relatório documenta numerosos casos de meninos com menos de 16 anos que, depois de presos, têm os olhos vendados e são privados de comida e água.

 

Como as organizações de direitos humanos sempre afirmaram, as crianças palestinas são normalmente presas durante a noite. Na prisão são maltratadas e lhes negam acesso à família e a advogados.

 

Um sargento dos paraquedistas, que regularmente levava sob custódia crianças de 12 a 14 anos por tentarem cruzar a fronteira com Israel, disse que foi instruído a tratá-las não como crianças, mas como terroristas.

 

“O oficial de inteligência”, conta o sargento, ”observou dois soldados batendo num dos presos, garoto de uns 16 anos. Não se opôs”.

 

Em outro depoimento, um ex-soldado descreveu como sua tropa destruía lojas e casas simplesmente por estarem chateados, provocando tumultos propositadamente.

 

Ele relatou ainda um incidente no qual soldados israelenses, esperando por civis suspeitos no lado de fora de uma mesquita, começaram a disparar tiros de balas de borracha para provocar um conflito. Caso alguma criança árabe atirasse pedras neles, eles a usariam como escudos humanos.

 

“Você segura o garoto, empurra sua arma contra o corpo dele. Ele não pode fazer um só movimento, fica totalmente petrificado. Apenas grita: No, no, army!”.

 

Um veterano que serviu em Hebron, em 2010, conta como era o contato com as crianças palestinas presas: “Você nunca sabia seus nomes, você nunca conversava com elas, elas sempre choravam, defecavam nas calças... Havia aqueles momentos desagradáveis quando você está numa missão de aprisionamento e não há espaço nas celas da polícia, então você apenas leva o garoto de volta, venda os olhos dele, põe ele numa sala e espera pela polícia chegar e levá-lo de novo, de manhã. Ele fica lá sentado como um cachorro...”.

 

Segundo os testemunhos, as crianças freqüentemente se sujavam. “Eu me lembro de ouvir o som delas evacuando nas calças... Eu me lembro também, algumas vezes, quando alguém urinava nas calças. Eu ficava indiferente a isso, não podia me preocupar menos. Eu ouvia o garoto se urinando, percebia sua vergonha. Mas não ligava”.

 

Um outro antigo sargento descreve uma operação contra a vila de Azzun, onde foram atiradas pedras contra motoristas de um assentamento judaico numa curva da estrada.

 

“Nós entramos na vila, fomos até a casa mais próxima da curva, quando vimos um grupo de crianças de 9 a 10 anos fugindo”, ele contou.

 

“Elas correram para dentro do terraço de uma casa e então nosso comandante pegou uma granada paralisante e atirou-a no terraço. Ela explodiu, não acho que feriu alguém, mas fez os meninos saírem do terraço”.

 

Seguiu-se uma perseguição, as crianças foram agarradas e o comandante encostou sua arma no rosto de uma delas.

 

“O garoto ficou histérico, certo de que iria ser morto. Pediu e suplicou por sua vida”, o soldado contou. “Um garoto precisa pedir por sua vida? Uma arma carregada é apontada contra ele e ele tem de pedir piedade? Isso é algo que vai marcar toda a vida dele”.

 

Gerald Horton, da ONG Defense for Children International Palestine (DCI), sustenta que os testemunhos representam um padrão de comportamento das forças israelenses no seu relacionamento com a população da Margem Oeste.

 

“Não são incidentes isolados ou uma questão de umas poucas ‘maçãs podres’. É a conseqüência natural e previsível da política do governo”.

 

O exército de Israel condenou a iniciativa do Breaking the Silence, afirmando que seu objetivo era somente criar escândalo. Do contrário teriam levado suas informações às autoridades militares para que tomassem as devidas medidas.

 

Yehuda Shaul, da ONG de ex-militares, respondeu: “Mais de 70 dos nossos depoentes já vieram a público com denúncias, citando nomes e identidades, e eu sou um deles. Se o Exército de Israel estivesse interessado em investigar nossas denúncias, nós provavelmente já teríamos sido convocados para prestar testemunho”.

 

Como isso não aconteceu, Breaking the Silence teve de se fazer ouvir.

 

Leia também:

“Cada criança palestina é um terrorista potencial”

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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