Correio da Cidadania

Estados Unidos: a continuidade das questões médio-orientais

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Novamente, a conturbada situação no Oriente Médio ocupa a atenção dos meios de comunicação internacionais. Todavia, em vez do Iraque com a ocupação dos Estados Unidos, da Arábia Saudita com preços do petróleo ou de Israel-Palestina por conta de definição de território e de soberania, é a vez da Síria com guerra civil de duração aproximada de ano e meio.

 

De maneira superficial, analistas apontam-na como a última pendência autoritária da Guerra Fria, ao esquecer-se de que boa parte da Ásia permanece com os mesmos regimes de outrora. A eventual queda da ditadura de Bashar al-Assad deslocará sem dúvida o pêndulo político e religioso na área médio-oriental: a princípio, fortalecer-se-iam os sauditas ao passo que se enfraqueceriam os iranianos. De todo modo, outras questões importantes, como a controversa política nuclear do Irã, situar-se-iam em segundo plano até o desfecho definitivo do caso sírio.

 

No primeiro semestre de gestão, o gabinete de Barack Obama empenhou-se mais que o do predecessor no encaminhamento da proposta de dois países para as populações israelense e palestina como a melhor forma de instaurar a paz. Em maio de 2009, ele receberia o dirigente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

 

Outrossim, dedicou-se ao concerto político entre Paquistão e Afeganistão, uma vez que a fronteira porosa entre ambos possibilitava a circulação desenvolta de extremistas fundamentalistas, vinculados ora ao Talibã, ora a Al-Qaeda.

 

Ao mesmo tempo, Obama, ele mesmo constitucionalista, buscou regularizar o status jurídico dos encarcerados na base naval de Guantánamo, ao excluir provas obtidas através de tortura e implementar novo tribunal militar. Por outro lado, tentou limitar a divulgação de imagens degradantes de detidos no Iraque e no Afeganistão, motivo de bastante desgaste político do governo de George Bush.

 

Em junho daquele mesmo ano, o presidente visitou dois aliados tradicionais - os conservadores Arábia Saudita e Egito - como meio de aproximar mais o país da comunidade muçulmana. O próprio Obama enfatizou suas raízes familiares ismaelitas, em função do pai queniano e do padrasto indonésio.

 

De acordo com ele, a viagem ao primeiro seria um momento de renovação entre sauditas e norte-americanos. No Egito, encontrou-se com Hosni Mubarak sem referenciar-se ao longo tempo dele à frente do poder, com medidas arbitrárias como a prisão de opositores políticos. A nuclearização do Irã foi uma preocupação presente nos dois encontros.

 

Na ocasião, Obama mencionou as maiores fontes de tensão entre os Estados Unidos e os países maometanos: as infrutíferas guerras em andamento no Iraque e no Afeganistão; o conflito israelo-palestino, no qual os laços com os primeiros seriam inquebrantáveis, enquanto os segundos teriam direito ao seu próprio país.

 

O terceiro ponto seria a corrida nuclear na região, alusão sem dúvida ao Irã. Logo depois, outro tópico seria o direito de liberdade de religião, onde ninguém poderia valorizar seu próprio credo à medida que rejeitasse o de outrem.

 

Mais adiante, abordaria o direito das mulheres, tema caro aos Estados Unidos. A forma de valorizá-las seria providenciar-lhes o mais amplo acesso à educação. Com apoio nos estudos, a participação no mercado de trabalho se tornaria mais acessível. Por último, citou a questão da oportunidade econômica. Tradição não deveria ser considerada óbice ao desenvolvimento. Lembrou que, ao longo da história, sociedades islâmicas inovaram.

 

Até o momento, nenhum dos tópicos foi bem solucionado. Contudo, no final de 2010, inúmeras revoltas populares eclodiriam na África do Norte - Tunísia, Argélia, Marrocos e Egito - e no Oriente Médio - Líbano, Iêmen, Síria e Omã. Em uma delas, a egípcia, o dirigente terminaria por renunciar, após pressão das forças armadas.

 

Apesar da forte movimentação daquelas sociedades, a chamada primavera árabe frustrou-se, haja vista o reduzido grau de transformação sociopolítico. Na prática, houve mera rotatividade de elites, ao excluir maior participação popular.

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituiçã

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