Correio da Cidadania

Somos todos humanos

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Imagine-se um extraterrestre (um ET) que, em viagem pelas galáxias, pára no Planeta Terra. Aqui, vê algumas realidades e deve fazer um relato sobre os seres que habitam este planeta. Veja os flashes que registrou.

 

O preço das vacinas

 

Em 2011 a UNICEF divulgou, pela primeira vez, o preço que paga por todas as vacinas que compra. A transparência revelou grande disparidade de preços entre produtos similares de fabricantes diferentes, e forneceu aos compradores um instrumento de negociação. O aumento da concorrência poderá diminuir o preço das vacinas possibilitando que sejam compradas em maior quantidade, o que beneficia maior número de pessoas. Há que se considerar que a concentração do mercado de fármacos é fator impeditivo para esse resultado.

 

Rodada de financiamento cortada

 

Nos países em desenvolvimento, milhares de pessoas com AIDS, tuberculose e malária – as três doenças responsáveis pelo maior número de mortes nestes países – não poderão receber tratamento nos próximos anos.

 

Um dos principais financiadores de programas de tratamento dessas doenças, o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária - uma instituição financeira internacional que reúne governos, sociedade civil, setor privado e representantes das comunidades afetadas –, anunciou, no final do ano passado, que cancelou uma rodada de financiamentos porque seus doadores não disponibilizaram os recursos que haviam se comprometido a doar.

 

Com isto, os países terão que esperar até 2014, na melhor das hipóteses, para receber novos fundos. Sem essa rodada, não há novos subsídios para aumentar os financiamentos até 2014, impedindo os países de combater agressivamente a epidemia

 

Fim de descontos para medicamentos em países de renda média

 

Pessoas HIV positivas que vivem em países de renda média estão sendo muito prejudicadas por uma nova prática de empresas da indústria farmacêutica: elas pararam de dar descontos padronizados em países de renda média, como Ucrânia, China e Tailândia, o que era prática rotineira, por verem estes países como novos mercados lucrativos para seus produtos. Isto ignora o fato de que a maioria das pessoas que vivem nestes países não pode pagar altos preços pelos medicamentos de que necessita e agrava a situação trazida pelo fim da ajuda dada pelo Fundo Global.

 

Ações humanitárias

 

Muita gente em todo o mundo é encontrada todos os dias prestando assistência a pessoas em situações de crise. Um exemplo: mais de 20 mil profissionais, da área da saúde e engenheiros sanitaristas, entre outros – são de uma instituição chamada Médicos Sem Fronteiras (MSF) –, a maioria recrutada localmente (mais de 90% deles) e parte vinda de outros países. São pessoas que escolhem trabalhar para MSF por seu compromisso com a saúde e sobrevivência das pessoas. Esta organização médico-humanitária internacional socorre pessoas afetadas por conflitos armados, epidemias, desastres naturais e excluídas de cuidados de saúde.

 

Despesas militares

 

São muitos os recursos no planeta destinados à tarefa de matar. Em 2010 foram estimados em 1,63 trilhão de dólares usados em gastos militares, segundo informou, em sua última publicação anual, de 2011, o Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). O Sipri é uma organização internacional independente dedicada à pesquisa sobre conflitos, armamentos, controle de armas e desarmamento.

Problemas com a água e o saneamento

 

Estudos de diferentes organizações revelam que 800 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à água potável e 2,5 bilhões não têm saneamento básico. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sete pessoas morrem por minuto no mundo por ingerir água insalubre e mais de 1 bilhão de pessoas ainda defecam ao ar livre. Relatório apresentado pela Organização das Nações Unidas em março revelou que, se nada for feito, bilhões de pessoas, em especial nos países em desenvolvimento, poderão ver-se confrontadas a menos meios de subsistência e menores oportunidades de vida – ou seja: sofrerão piora nas condições de vida.

 

A cada três anos, desde 1997, chefes de Estado, delegações ministeriais, atores políticos, econômicos, inclusive militantes, reúnem-se no maior encontro mundial sobre a água - o Fórum Mundial da Água. Realizado de 12 a 17 de março deste ano, o último Fórum terminou com o compromisso assinado por 140 países de aumentar o acesso à água potável, tratamento de esgoto e promoção do uso inteligente da água.

 

O acordo é uma carta de intenção que não gera obrigações, ou seja, não haverá cobranças se algum país não cumprir o que prometeu. Enquanto isso, grandes companhias multinacionais como a Coca–Cola e a Nestlé adquirem mananciais de água em vários países do mundo.

 

Informação que ajuda a transformar

 

Considerando que a mídia veicula informações que apenas criam angústia no público e abandonam-no impotente frente aos problemas que apresenta, jornalistas franceses criaram uma associação que se intitula "Repórteres da Esperança" ("Reporters d'Espoir"). Ela propõe que a informação leve à leitura tanto do que está em jogo como das respostas que estão sendo dadas para solucionar os problemas. Promove a informação portadora de soluções, isto é, o relato de iniciativas e ações que dão respostas às questões e problemas coletivos. Também criou uma Agência de Informações, com a preocupação de colocar em rede todos os atores portadores de soluções.

 

O relato do ET

 

Não é uma tarefa fácil. Como seres da mesma natureza produzem realidades tão diversas e contraditórias? Sabe-se aqui no Planeta Terra que a resposta não é simples: envolve questões do modelo econômico, questões políticas e ideológicas, questões objetivas que manipulam outras tantas subjetivas. Todas se interpenetram. Um fato, entretanto, é indiscutível: todos os seres que habitam o Planeta identificados como Homo sapiens têm a mesma natureza.

 

 

Andrea Paes Alberico, Elisa Helena Rocha de Carvalho, Guga Dorea, José Juliano de Carvalho Filho, Marietta Sampaio, Plinio de Arruda Sampaio e Thomaz Ferreira Jensen, do Grupo de São Paulo - um grupo de pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim da Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ. Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Artigo publicado na edição de abril de 2012 do Boletim Rede.

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