Correio da Cidadania

Crisis? What Crisis? - a Europa passa e eu NÃO acho graça

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“Triste é ver ‘analistas políticos’ correndo atrás dos fatos, sem interpretá-los como eles são, mas sim a partir de seus interesses imediatos, para iludirem o Povo’.

Escaramuça, poeta e compositor popular itinerante

 

Chega a ser enfadonha esta insistência em incentivar esperanças vãs em situações recorrentes em nossa história política (refiro-me à da humanidade como um todo, mas notadamente a nossa ocidental moderna), tão comum entre aqueles que analisam os fatos políticos a partir de suas próprias (vãs) esperanças ou interesses imediatos inconfessáveis, como afirmou o artista popular Escaramuça, citado na epígrafe deste artigo.

 

A esta altura do campeonato da luta de classes entre o mundo burguês e o mundo do trabalho, com larga vantagem para o primeiro, até acho ridículo o incessante incensar destas vitórias eleitorais de social-democratas, após período conservador da direita orgânica (tal e qual o revezamento entre Republicanos e Democratas nos EUA). São apenas "áreas de recuo" do capitalismo, para manter-se vivo, mas dando algumas migalhas para aplacar revoltas, nem sempre de origem popular, tal como restolhos sociais da classe média, defensora de seus interesses imediatos, como sempre foi, com exceções louváveis e minoritárias.

 

A classe média, em nome da defesa do status quo que a contempla positivamente (o tal Bem Estar Social, para ela), pode até capitanear algumas destas “revoltas”, como na Europa recentemente, sendo que na França o líder da "revolta" era o presidente da Juventude Social Democrata, portanto, de cunho capitalista - como sabemos, verdadeira inspiração do Partido Socialista Francês. Isso nos mostrando que este termo, Socialista, já foi totalmente corrompido, a meu ver pelo fato de que a maioria dos que se dizem socialistas (deixo claro que sequer admito apresentar-me como tal, tamanho o conservadorismo deste termo) persiste com a idéia de que irão navegar na “Igualdade”, ocupando (eles, é lógico) as instituições burguesas, vetor predominante do que chamamos Revolução Francesa – que, a meu ver, teve na Comuna de Paris e seu grito libertário e autonomista o único vetor verdadeiramente revolucionário (sem aspas) daquele evento histórico.

 

Assim, temos na França novamente um social-democrata, ainda mais conservador do que o Jospin, derrotado pelo Sarkozy, que efetuou dois mandatos (aliás, incensado pelo “popular” Lula, em atitude ignóbil, anti-proletária e anti-povo, quando presidente do Brasil, em função de um nebuloso “acerto” na compra de caças franceses, afinal não configurado).

 

A partir de uma análise fria dos fatos, responda-se rápido: foi a sociedade francesa que, sozinha, avançou para a esquerda, ou a “esquerda” (social democracia e seus eleitores de partidos ditos de esquerda, com auxílio dos eleitores da direita de Le Pen, com ciúmes de Sarkozy) que também adernou à direita, em um “não tanto ao mar, nem tanto a terra” político que já carrega um tanto de hipocrisia insustentável?

 

Assim, reafirmo a minha opinião já emitida, que não “me gusta” colaborar para que a Europa entre em um falso processo virtuoso, que apenas visa uma “caminhada ao passado”, para a recuperação de um estado de coisas que embutia uma incômoda segregação da base dos trabalhadores, a maioria imigrantes árabes, já devidamente enquadrados e excluídos não só pelos movimentos que de revolucionários nada tinham (ao contrário do que afirmaram muitos auto-proclamados “revolucionários” brasileiros). Tudo apenas na ânsia do “farinha pouca meu pirão primeiro”, com as exceções minoritárias de sempre, que apenas compuseram a fachada de “avant garde” do que não passou e não passa de um movimento reformista antiquado e insuficiente. Inclusive com largas parcelas, as mais largas, do proletariado europeu defendendo as suas conquistas e se lixando para as necessidades do Terceiro Mundo.

 

Agora, vemos isso acontecer na Grécia (com a eleição da direita), na França (com a eleição do “capitalismo doce”), na Espanha (com a eleição da direita em 95% das comarcas e apenas 2% de votos nulos), em Portugal (exposto a mais uma rapinagem, dos primos ricos), sem contar a intervenção militar da OTAN, assassinando Kadafi. E a Tunísia? Esta sumiu no mapa, mais uma vez.

 

O fato é que o capitalismo ganhou tempo para cumprir mais uma etapa de acumulação, que acertadamente colocaram na boca e na escrita da “esquerda” sob o nome de “crise do capitalismo”, quando, na verdade, é a crise dos trabalhadores, com mais exclusão social, conforme manda a receita.

 

Agora, para compensar a falta de necessidade de uma fachada mais forte na Grécia - que, como afirmei em outros artigos, não tinha o proletariado e a base social dos empregados da agricultura e suas agroindústrias (forte setor na economia grega que, mesmo a de cunho familiar, já está muito bem enquadrada aos ditames e insumos do que chamamos agronegócio, a exemplo da brasileira) -, o capitalismo arranja seu “garoto propaganda” na “revolucionária França”, do falso Liberté, Igualité e Fraternité, faltando aqui o “prá inglês ver” ou o termo “avec segregation”, para que reflita fielmente a realidade.

 

Assim, podemos dizer, sem medo de errar, que está Tudo Como d'Antes no Quartel do Abrantes, no que diz respeito à incolumidade das estruturas do capitalismo, a meu ver só passíveis de serem abaladas quando os movimentos sociais e sindicais de lá avançarem em suas reivindicações - não mais em direção ao Paraíso Perdido do (falso) “Estado de Bem Estar Social”, por conseguirem entender que isso só foi conseguido pela dilapidação e pirataria às riquezas do Terceiro Mundo, com a conseqüente indigência social gerada por cá.

 

Um Estado de Consciência dos europeus, de cunho anticapitalista, não passa de uma quimera, exceto em grupos restritos, mas muitas vezes com a mesma arrogância dos esquerdistas do Terceiro Mundo, exercida por aqueles que a criticam em seus adversários políticos e inimigos de classe, ou então com uma admiração romântica. Como se por aqui pululassem aos borbotões revolucionários verdadeiros, e não esta corja de adesistas e apoiadores da velha, surrada e inconseqüente colaboração de classes, como via para se chegar a algo razoável para os trabalhadores e povos do Terceiro Mundo.

 

E a explicação que entendo como mais correta diz que os capitalistas, para se manterem no poder “ad eternum”, tendo lido Marx corretamente, entenderam que precisariam de um eficiente sistema de sístoles e diástoles, e não apenas a exploração radical da era colonial pré-capitalista, que nos brindou por cinco séculos. Afinal “os tempos são outros, embora as coisas sejam as mesmas” (Escaramuça). A primeira delas, esta sim fundamental, foi a transferência da Matrix Produtiva Industrial para o barato Terceiro Mundo, acoplado a uma forte estrutura de ocupação de terras e rapinagem das riquezas naturais, financiada por um forte sistema financeiro internacionalizado, em um intrincado labirinto que derrota os touros de Creta – que, em vez de destruí-los, quer administrá-los.

 

Assim, termino este artigo, acho que conclusivo, alertando que é um suicídio querer, aqui do Terceiro Mundo, pelados como estamos, que os europeus voltem a vestir seus casacos de peles. Que cuidemos de internacionalizar a revolução anticapitalista entre os países pobres, mas sem impor modelos que, afinal, serão construídos na luta e no dia a dia, pelos próprios povos explorados, e não a reboque de movimentos pífios, insuficientes e restritos aos setores prestadores de serviço em sociedades como a européia e a estadunidense. Sociedades cujos capitalistas oligopolizados servem-se agora do Terceiro Mundo – o qual, como já escrevi antes, está sendo alçado à Matrix do Sistema, tendo como “algodões entre os cristais” as políticas de “compensações sociais”, propostas por Kissinger, exatamente nas reuniões do Consenso de Washington, em 1982.

 

Com uma esquerda destas que temos, viraremos Jacarés, fatalmente!

 

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Raymundo Araujo Filho é médico veterinário e garante que entende bastante de animais e não se arrepende de ter afirmado, com muita antecedência, a verdadeira natureza (ao menos majoritária) daquilo, ao contrário do que afirmou a maioria da "esquerda" brasileira, quase totalmente colonizada, em relação à Europa e EUA.

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