Correio da Cidadania

Verdade, só rompendo as amarras!

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Minha falecida avó me ensinou que um ovo pode ser desfrutado de várias formas, do cru até o omelete recheado, frito, cozido, mexido ou como ingrediente de doces e suflês que, sem dúvida, engrandecem este alimento, vindo das profundezas cloacais dos bípedes emplumados, as aves, notadamente as galinhas (menos as dos ovos de ouro, servis aos interesses de empreiteiras e que tais).

 

Assim, gostaria de contextualizar os cenários e interesses envolvidos pela extensão quimérica deste pesado assunto, certamente um fardo maior para quem teve parentes e/ou amigos presos, torturados, assassinados e desaparecidos pela obra sem graça dos agentes e apoiadores da ditadura civil-militar, nos imposta em 1964.

 

Este debate “imorrível” sobre os crimes da ditadura está me parecendo já usado como este cavalinho serviçal, aquele que fica já pronto para os serviços ligeiros de leva e traz nas fazendas, tanto por governos quanto pelos saudosos da ditadura, todos a serviço, conscientes ou como Inocentes Inúteis, como eu bem desconfio que alguns são, sem que isso sirva de nenhum atenuante às suas idiotices políticas.

 

Sabemos que a plutocracia burguesa que nos dirige e explora mundialmente (alguém duvida disso?) “só pensa naquilo”, isto é, nos lucros e acumulação de capital, sob o preço que for necessário (desde que ardam apenas os fundilhos de alheios). Portanto, para isso, não se importam com quem vai ou não vai para o pelourinho da opinião pública, facilmente manipulada e dirigida, de acordo com quem faz que os interesses inconfessáveis desta gente, algumas vezes, até coincidam na superfície com justas reivindicações dos justos.

 

Estes momentos históricos da política também servem para a famosa “operação barra limpa”, levada a cabo de tempo em tempos, e que consiste em pagar a alguns indigentes políticos aos quais impingiram terríveis sofrimentos para que os auxiliem na tarefa de apagar a memória nacional, em troca de trinta dinheiros e algumas colocações vitalícias – sempre à custa do erário, é óbvio.

 

Foi assim no acordo entre o PC do B (leia-se ex-UNE) e a Fundação Roberto Marinho para acervar a memória da ex-combativa entidade estudantil, mas com o preço de não mencionar o apoio aos crimes da ditadura dado pelo “jornalista” que deu nome à Fundação, assim como da poderosa mídia corporativa que construiu (há processos judiciais que denunciam diversas ilegalidades no decurso, além das conchavarias que conhecemos).

 

Foi assim o “depoimento sensação” levado ao ar pelo Fantástico há algum tempo, com formato crítico ao depoimento do militar apoiador do golpe de 64, mas sem uma pergunta sequer para algum dos donos das Organizações Globo sobre por que, então, esta casa de jornalismo apoiou e, dizem, até financiou atos desta página horrível de nossa história, a meu ver, invalidando qualquer possibilidade de alguma exposição da verdade naquela farsa televisiva. Assim como nenhuma pergunta para os responsáveis editores d’O Globo do por que do apoio à versão rocambolesca não só do “suicídio” de Wladimir Herzog (presente!) quanto à versão macarrônica do atentado ao Riocentro, exposta compungidamente por aquele então coronel job lorena, contradizendo as mais elementares leis da física, e motivo de primeira página no jornal apoiador das torturas e assassinatos nos porões da ditadura.

 

Recentemente, tivemos os articulistas atuais mais relevantes do jornal O Globo, Merval Pereira e Mirian Leilão, a escreverem como se não fossem porta-vozes do pior que nos assola, tendo a relações públicas d’O Globo (não é e nunca foi jornalista, assim como seu ex-patrão Roberto Marinho) a escrever como se progressista fosse sobre estas tenebrosas questões. Um escreveu sobre a necessidade de “não haver ódio e nem achincalhe das Forças Armadas” neste processo de busca da verdade, reiniciada por interesses não confessáveis por uns, mas que é pauta justa de muitos justos, desde sempre.

 

Desta forma, a direitada mais esperta vai se desvencilhando deste apoio cruel e facínora à direitada troglodita, que vai servir de “boi de piranha” para aplacar sentimentos de quem, ao que me parece, está a trocar a completa investigação de nosso passado por algumas migalhas para o povo (quando vier a rebordosa, ou não estarão mais por aqui, ou apenas falarão “que pena!”, como na música de Jorge Benjor), enquanto ajudam a limpar a barra e distorcer a memória nacional, ocultando quem foram aqueles que sustentaram a sujeirada.

 

Enquanto isso, a presidente Lula-Dilma tenta usar politicamente a seu favor esta questão, “jogando para a platéia” com a morosa e preguiçosa formação da tal Comissão da Verdade Chapa Branca, em cujo lançamento a filha de um dos emblemas desta cruel ditadura, Rubens Paiva, foi impedida de falar, para “não irritar os militares”. E a Ex-Esquerda Corporation W.C. e a “esquerda” não pensam grande, apenas em seu presente e futuro conjuntural. “Tudo ficou como d’antes no quartel do Abrantes”, mas dando fôlego para a organização de atos a favor do golpe militar, em prédios federais, como o Clube Militar no Rio de Janeiro, em claro afrontamento à “determinação” (só pra inglês ver) da presidenta, que, diz ela, proibira manifestações oficiais sobre o tema. Extra-oficiais, em prédios federais, pelo visto, podia...

 

Enquanto isso, a presidenta Lula-Dilma impõe duras medidas econômicas, como esta farsa da diminuição dos juros bancários que, agora vemos, vai ser financiada por poupadores da caderneta de poupança, que deve render pouco, para que o povo gaste seu dinheirinho em quinquilharias e mantenha-se sem poupança, alimentando as casas de extorsão – como as financeiras dos bancos, que estão fora dos programas de crédito “a juros baixos”.

 

Para completar, os poupadores ainda podem se sentir confortáveis, pois a notícia é que até R$ 30 mil ainda vale a pena serem roubados (não há outra palavra) na poupança, pois ela é maior que os chamados rendimentos de renda fixa, só lucrativos para quem tem mais de R$30 mil rendendo, isto é, cerca de 10% de um imóvel residencial médio.

 

Isso sem falar nos “benefícios fiscais” para 15 setores oligopolizados das indústrias, atingindo os rendimentos da, segundo eles do governo, “deficitária” Previdência Social, enquanto abre o país para a previdência privada, sem nenhuma garantia de que, após 35 de contribuição, a empresa existirá para pagar os benefícios a que se obrigou em contrato.

 

Sequer vou aqui mencionar os problemas de Belo Monte, Jirau, do Complexo Petroquímico de Itaboraí, CSA e a transfiguração de um município inteiro (São João da Barra) pelo pai do novamente envolvido em problemas automobilísticos...

 

Assim, em alegres farândulas econômicas e financeiras, o capital internacional e seus agentes aqui no Brasil vão, de uma cajadada só, impor a castração da memória histórica do Brasil e esconder quem apoiou o golpe, inclusive eles, estimulando os histriônicos militares de pijama, mas sem descuidar dos novatos (lembrem-se de que o homenageado na turma de cadetes formandos de 2012 da AMAN - Agulhas Negras - foi o ditador general emílio garrastazu médici) e da Confusão Programada em vigor, com suas pautas invertidas e “de fora”, avançando na rapinagem econômica avassaladora que sofremos.

 

O que fazer? Abandonar a questão da tortura?

 

Evidentemente que não! Minha idéia é que nós, que não cedemos um milímetro em “Cláusulas Pétreas” da dignidade humana, nos unamos em torno de algumas exigências à presidenta Lula-Dilma:

 

  • Sob preço de rompimento político em 30 dias, que desfaça as nomeações de todos os militares da linha dura que estão como cães guardando os arquivos da ditadura, liberando-os seletivamente em conteúdo e a quem os procuram.
  • Envie um Decreto lei ao Congresso, ampliando o prazo da Comissão da Verdade para cinco anos e o número de integrantes para 15, sendo os próximos nomeados por um processo de consulta muito mais amplo do que a vontade majestática da presidenta.
  • Que dote esta comissão de orçamento compatível com as suas atribuições, para uso independente de quaisquer outras autorizações.

 

O resto, prezados leitores, é pura balela, a qual não alimentarei, muito ao contrário.

 

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e gosta de dizer que “Respeito é bom e eu gosto, mas só tenho por quem age respeitosamente comigo e com os outros”.

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