Correio da Cidadania

Noventa anos de comunismo no Brasil

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Em 25 de março de 1922, era fundado, em Niterói, no Rio de Janeiro, o Partido Comunista Brasileiro. O pequeno grupo de nove delegados – sobretudo operários e artesões –, representando pouco mais de 70 militantes, de diversas regiões do Brasil, dimensionava os limites orgânicos do movimento nascente. A ideologia anarco-sindicalista e a escassa formação marxista dos novos comunistas demarcavam igualmente a fragilidade política do movimento em formação.

 

Entretanto, foi enorme o sentido simbólico daquela reunião. Sob o impulso da Revolução de 1917, pela primeira vez em uma nação ainda essencialmente rural e profundamente federalista, os trabalhadores expressavam em forma clara e explícita a vontade de organizar-se em partido para a luta pela construção de uma sociedade nacional e internacional sem explorados e exploradores.

 

As celebrações essencialmente genealógicas que acabamos de viver do transcurso em questão registram fortemente os impasses e a debilidade do comunismo no Brasil, noventa anos após a reunião histórica.

 

Já sem quaisquer raízes com os princípios que nortearam os primeiros anos do comunismo no Brasil e no mundo, o Partido Comunista do Brasil (PC do B), produto da cisão de 1960, procura registrar burocraticamente os laços organizacionais que o ligariam àquele movimento primordial, no momento em que participa com destaque da gestão governamental do país em favor do grande capital, sendo regiamente remunerado por tal ação.

 

O pequenino Partido Comunista Brasileiro (PCB), glorioso resgate da rendição incondicional empreendida pelo PPS, em 1992, realiza meritório esforço de “reconstrução revolucionária”, fortemente dificultada pelo resgate acrítico de passado que materializou, por longas décadas, a negação radical dos princípios consagrados pela revolução soviética. Homenagem e tributo ao pesado lastro do passado que determinam, comumente, a ação do presente.

 

Uma enorme parte da história do comunismo no Brasil e no mundo está marcada indelevelmente pela sombra sinistra do stalinismo, excrescência política da imensa capa burocrática que expropriou o poder político dos trabalhadores, em processo que levaria a URSS, a China, os países do Leste Europeu, à crise e à restauração capitalista. Processo que determina, hoje, mais e mais, o destino da sociedade cubana.

 

Através do mundo, os comunistas que se organizaram contra a colaboração de classe e em defesa do internacionalismo, da revolução socialista, da democracia leninista etc. foram expulsos dos partidos comunistas, caluniados, perseguidos e, não raro, eliminados fisicamente. Na URSS, na China, na Espanha etc., os comunistas revolucionários vitimados pelos stalinistas se contam às dezenas de milhares.

 

O gráfico Joaquim Barbosa, Rodolfo Coutinho, Manoel Medeiros, Mario Pedrosa, Fúlvio Abramo, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Manoel Medeiros, João da Costa Pimenta, Hermínio Sacchetta foram alguns das centenas de destacados e dedicados militantes comunistas, alguns deles fundadores do PCB, que enfrentaram, em diversas épocas, a luta pela reconstrução revolucionária do comunismo no Brasil, então sob a férrea hegemonia liquidadora stalinista.

 

Em geral, essa luta empreendida nas mais difíceis condições foi dada através de grupos ligados à Oposição de Esquerda, animada por León Trotsky, igualmente expulso da URSS, perseguido e vilmente assassinado pelos esbirros do stalinismo. Nossa saudação a todos aqueles comunistas revolucionários brasileiros, nesta data que é de tantos e, sobretudo, deles.

 

O caráter restrito das celebrações da fundação do movimento comunista no Brasil, em 1922, é um enorme depoimento de sua atual fragilidade organizacional e político-ideológica. Fragilidade extensiva àqueles que reivindicam filiação orgânica direta ou apenas político-ideológica ao ato inaugural do comunismo no Brasil.

 

Mário Maestri é sul-rio-grandense, historiador e comunista sem partido.

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Comentários   

0 #4 RE: Noventa anos de comunismo no BrasilGilvan Rocha 03-04-2012 10:06
É lamentável, o nível de confusão teórica que nos foi imposta nesses 90 anos de Stalinismo que nasceu no X Congresso do Partido Comunista Russo em 1921, quando foi suprimido o livre debate e imposto o monolitismo, o partido único, a criação da polícia política, a execução sumária dos dissidentes, fossem eles de esquerda ou de direita; a criação dos campos de trabalho forçado. Sendo assim, o facínora Stálin nada inventou quando galgou plenos poderes. Aqui no Brasil, nunca tivemos qualquer tradição marxista em nível respeitável. Os personagens citados pelo Maestri são dignos de respeito, mas nenhum deles ultrapassou rigorosamente os limites impostos pelo Stalinismo. O senhor Trótsky, reprimiu a ferro e fogo o soviete de Kronstand e depois de ter criticado com toda veemência e pertinência o modelo leninista de partido, passou-se de malas e bagagens para o bolchevismo. Ele que teria estatura moral e intelectual, de analisar a experiência soviética, voltou-se para a tarefa obsessiva de tentar provar fraudulentamente que fora leninista desde criancinha. Discutir a Revolução Russa coma necessária seriedade é uma tarefa que se coloca e os intelectuais, regra geral, que tem se proposto a essa tarefa fazem uma abordagem desonesta pela Direita, ou desonesta pela Esquerda, propondo-se unicamente a apologia, falseando os fatos.
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0 #3 Creio que os motivos do errosZe Antonio 31-03-2012 20:22
Daqui na minha opinião a falta de elaboração da realidade histórica brasileira é o motivo da falta de conteúdo dos chamados partidos comunistas no caso o PCdoB e do PCB veja a mais de trinta anos da fundação do PT o que temos de análises reais economicas, culturais, culturais . O que temos de organização de trabalhadores combativos . Acredito se não fizermos um grande esforço intelectual de estudo da nossa realidade daqui a vinte anos ainda estaremos convivendo com favelas, marginalidade ativa , dirigentes mediocres etc. etc.
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0 #2 O que é pior...Povos Brasil 31-03-2012 19:47
Aguentar o Netinho falando de Socialismo e militantes ou Roberto Freire que deve ter vendido até as calças para o capeta...

como sempre Maestri é mestre!
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0 #1 Excelente análisealceu a. sperança 31-03-2012 06:55
Uma análise muito precisa. Creio que lugar de comunista é no seu partido. A meu ver, só o PCB, no Brasil, corresponde mais coerentemente ao que isso quer dizer, no nome, na prática e na opção clara pelo marxismo-leninismo.
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