Correio da Cidadania

Reflexões sobre o zero

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O zero é um dos maiores avanços da humanidade. Quantificação do vazio, representação do nada, o zero pode ser o mínimo... e o máximo.

O zero à esquerda refere-se ao que não tem valor, mas muitos zeros à direita de um algarismo tornam alguém milionário.

 

O zero é o vácuo. No século XVII o pequeno zero circular “o”, que se confundia com a letra “o”, tornou-se zero oval — “0”. Zero ovo, início de tudo.

 

Zerar é dar zero, prazer infinito do professor sádico. Mas o valor nulo do zero também pode ser positivo, quando zeramos o saldo devedor, quando quitamos a dívida.

 

Zerar é esgotar, secar, matar. Mas zerar remete também ao novo começo, à nova chance. Zero-quilômetro é o carro novo em folha.

 

Recruta Zero é aquele soldado preguiçoso da tirinha, que o Sargento Tainha esmaga e reduz a pó. E, por outro lado, zero tem a ver com a Fome Zero, o Desemprego Zero, a Violência Zero, lutas utópicas em nome de uma nova era com que sonhávamos... que sonhamos ver um dia.

 

Light e diet já são coisa do passado. Agora a linha Zero da Coca-Cola valoriza a cifra nenhuma, a falta de açúcar como virtude.

 

Zero é coisa do Oriente, onde nasce o sol, este enorme zero, luminoso, acalentando, ou matando... o planeta.

 

Zerinho ou um é método de escolha adotado pelas crianças para descobrir o que deseja o destino.

 

Guimarães Rosa, salvo engano, foi quem inventou o “zezero”, forma com redobro do zero, em passagem do livro No Urubuquaquá, no pinhém. Zezero é reforço de zero, como bombom reafirma que é bom aquele doce.

 

Zero a zero, empate que desanima a torcida. Tolerância zero é atitude de normalpata... aquela pessoa tão normal, tão normal, que fica doente. Barthes escreveu O grau zero da escrita, e há quem diga ter alcançado o grau zero da leitura.

 

Zero é o nome de um livro de Ignácio de Loyola Brandão, que algum crítico chamou de duro e rude, em adorável quiasmo imperfeito.

 

Gravidade zero, marco zero, zero absoluto, a consciência do zero, versão zero, zero para dar e vender...

 

Conheço um professor, José Roberto, que brinca — “sou Zé Roberto, mas podem me chamar de Zero”. Excelente educador, faz os alunos superarem o zero, acrescentando ao zero que todos somos o 1 da nota dez.

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor – Web Site: www.perisse.com.br

 

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