Correio da Cidadania

Europa: múltiplas formas de reagir à crise econômica

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2011 já está marcado como o ano da reação dos extremos. De um lado, vários países do mundo, de diversos matizes políticos, sociais e econômicos, estão sendo palco de manifestações de rua; de outro, o massacre de Oslo e da Ilha de Utoya, na Noruega, onde Anders Behring Breivik matou 77 pessoas, transformou-se em um alerta que desnudou o preocupante crescimento da extrema-direita em toda a Europa e nos EUA.

 

A Europa, concebida como a mãe da modernidade capitalista, gerou tanto o iluminismo democrático como foi precursora de um dos crimes contra a humanidade mais cruéis que o planeta já presenciou: o nazismo. Em tempos de crise, mesmo sabendo que a História não se repete, o germe micro-fascista tende a renascer como força cada vez mais destrutiva. O pensamento e a prática sanguinária da extrema-direita acabam emergindo dos subterrâneos do sistema sempre quando as crises cíclicas e estruturais do capitalismo vêm à tona. Desde pelo menos os anos 80, o desemprego estrutural europeu vem gerando a ascensão de ideologias extremistas de direita.

 

Sobretudo após o atentado de 11 de setembro, a Europa vem sendo a protagonista, em decorrência de diretrizes da política externa estadunidense, de um incansável combate ao extremismo islâmico, desconsiderando-se a potencial existência de uma ameaça interna, em que um sentimento extremista de direita vem aumentado cada vez mais a sua representatividade nos parlamentos e executivos europeus.

 

O cientista político da Universidade Livre de Berlim, Hajo Funke, afirmou que atos de violência da extrema-direita alemã têm crescido, mesmo que lentamente, de ano para ano, desde a unificação da Alemanha em 1990, ainda que pouco representada no parlamento.

 

Há singularidades nesse crescimento de país para país. Em países como a Itália e a Holanda, tem aumentado a participação de partidos políticos de extrema-direita no próprio governo. Em outros países, entre eles a Dinamarca e a Holanda, o que está ocorrendo são reações contrarias às políticas que defendem o livre acesso de refugiados e imigrantes.

 

Já na Áustria, Hungria e nos países da Escandinávia há uma junção desses dois fenômenos. No leste europeu, onde o número de imigrantes, sobretudo muçulmanos, é reduzido, o alvo dos ataques extremistas são preferencialmente os ciganos e os judeus, a exemplo da Bulgária, Romênia e também Hungria. Segundo Hajo Funke, os próprios partidos políticos extremistas não são necessariamente violentos. Entretanto, uma ideologia potencialmente violenta insufla atos mais radicais.

 

Na Inglaterra, a Liga de Defesa Inglesa, um grupo de extrema-direita que atua em todo o país, declarou, no dia 9 de agosto desse ano, que iria colocar nas ruas algo em torno de mil associados para conter as recentes manifestações de rua. Com críticas a uma possível falta de pulso firme do governo, foi o que aconteceu no dia seguinte. Apesar de não terem ocorrido confrontos diretos, ficou a ameaça. A extrema-direita inglesa está preparada para agir com “as próprias mãos”, caso persistam os protestos.

 

O massacre da Noruega, por outro lado, pode ser o começo de uma nova conscientização da opinião pública em relação ao debate, tanto sobre o que já está sendo chamado de islamofobismo como sobre o xenofobismo, o que pode levar a uma reorganização do sistema partidário europeu. Para Pascal Perrineau, que dirige o Centro de Pesquisas Políticas, em Paris, o massacre pode frear o avanço eleitoral de partidos políticos de extrema-direita. Partidos tradicionalistas de direita pensarão duas vezes antes de propor possíveis alianças.

 

A própria onda de protestos tem como uma das bandeiras a luta contra a xenofobia, demonstrando que a atual crise econômica mundial abriu espaços para múltiplas formas de conceber a política e a sociedade. Nesse contexto, é importante apontar para a possibilidade de a Internet se transformar, cada vez mais, em um instrumento de comunicação entre extremistas de direita, mostrando que as redes sociais podem ser utilizadas tanto como ferramentas de transformação social como para o incitamento ao xenofobismo e ao preconceito.

 

Com a palavra, então, as mobilizações sociais e suas contradições.

 

 

Guga Dorea, Thomaz Ferreira Jensen, Andrea Paes Alberico, Marietta Sampaio, Plínio de Arruda Sampaio, Elisa Helena Rocha de Carvalho, José Juliano de Carvalho Filho e João Xerri, do Grupo de São Paulo - um grupo de pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim da Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ. Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Artigo publicado na edição de outubro de 2011 do Boletim Rede.

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