Correio da Cidadania

Israel a um passo da guerra

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Para os israelenses seu principal problema é a segurança. Consideram que, sendo cercados por países árabes inimigos, terão de ter forças armadas muito superiores para desestimular qualquer ataque movido por seus vizinhos.

A idéia de conceder a independência aos palestinos, que traria paz com os povos islâmicos, não está nos planos do atual governo de extrema-direita, que já deu suficientes demonstrações que pretende exatamente o contrário: aumentar seu território, através da ocupação sistemática de áreas da Cisjordânia árabe por colonos judeus.

Mesmo aquela parte da população contrária a essa política, que deseja resolver o problema palestino, concorda que, sem a supremacia militar no Oriente Médio, Israel tem sua sobrevivência ameaçada.

Por isso, toda a sociedade israelense encontra-se preocupada com a possibilidade de o Irã, cujo presidente prometeu riscar Israel do mapa, vir a possuir armas nucleares.

Esta preocupação agravou-se agora quando circulam fontes que garantem estar o governo de Teerã próximo de produzir suas primeiras bombas nucleares. É fato sabido que generais e membros do governo têm se reunido nas últimas semanas para discutir a possibilidade de bombardear as instalações nucleares iranianas.

Particularmente, o governo Netanyahu vê com péssimos olhos a mudança recente na atitude do Irã diante do chamado P5 + 1 (China, Rússia, EUA, França, Inglaterra e Alemanha), as potências encarregadas de impedir a produção de bombas iranianas. De repente, o presidente Ahmadinejad passou a demonstrar a maior boa vontade em atender às exigências do P5+1.

Em setembro, ele declarou ao Washington Post que o Irã interromperia sua produção de urânio enriquecido a 20% se as potências estrangeiras fornecessem o combustível necessário para o reator de pesquisa de Teerã, que fabrica isótopos médicos para atender a 850 mil iranianos.

Em fins do mês passado, Saeed Jalili, chefe dos negociadores nucleares, enviou carta a lady Ashton, chefe de Política Externa da Comunidade Européia, pedindo reuniões com os P5+1 para resolver de uma vez o problema

 

O ministro das Relações Exteriores, Ali Akbar Salehi, em entrevista ao Asia Times, informou que o “Irã está preparado para fazer os esforços necessários para restaurar a confiança mútua. Precisamos procurar propostas inovadoras”.

Por fim, Fereydoun Abbasi, chefe da Organização Atômica do Irã, convidou Yukiya Amano, secretário-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), para inspecionar as instalações nucleares do Irã. Todas elas, sem exceção. Antes proibiam a vistoria de algumas, para evitar que fossem alvo de espionagem.

 

Netanyahu teme que as potências do P5+1 cheguem a um acordo com o Irã, permitindo que esse país continue enriquecendo urânio com fins civis. Ele acha que os iranianos aproveitarão a trégua para, em segredo, tocar em frente seu programa de armas nucleares. E que, no fim, um Irã nuclear acabe aceito por todos.

 

Com isso, Israel deixaria de ser a única potência detentora de bombas atômicas no Oriente Médio, correndo o risco de ser atacada por um país cujo presidente já a ameaçara de destruição. É verdade que Ahmadinejad cansou-se de explicar que falara em sentido figurado, pretendera dizer que a História acabaria transformando Israel – hoje um país racista sionista – num país multirracial.

 

Embora essa explicação jamais tenha sido aceita, a verdade é que a idéia de bombardear o Irã encontra sérios obstáculos.

Falando à imprensa israelense, Meir Dagan, que dirigiu o Mossad por oito anos até 2010, foi peremptório: ”É a coisa mais estúpida que eu já ouvi!”. Dagan sustenta que, caso Israel atacasse instalações nucleares inimigas, o Irã responderia com uma chuva de mísseis, secundados por mísseis do Hezbollah, do Hamas e possivelmente da Síria, o que causaria grandes destruições e muitas mortes.

Sacrifício inútil, segundo Dagan. Ele alega que o programa nuclear iraniano está muito atrasado, só poderia gerar uma bomba depois de 2015. E os países aliados, através de sanções, proibindo a exportação de materiais necessários ao programa iraniano, poderão retardar esse prazo muito mais.

Fontes confiáveis confirmam que esse atraso é real. Vários fatores seriam responsáveis por ele.

Desde 2007, quatro cientistas nucleares iranianos foram misteriosamente assassinados, sendo que um quinto escapou por pouco de atentado a bomba. O Irã acusou os EUA, que prontamente negaram, e Israel, cujo ministro da Defesa, ao ser inquirido pelo Der Spiegel, sorriu e disse que não responderia... Através de um ciberataque de origem não identificada (mas presumida), um vírus especial, o Stuxnet danificou seriamente as centrífugas de Natanz.


David Albright, inspetor de armamentos do Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) das Nações Unidas, lembrou outro fator: as sanções das Nações Unidas e dos EUA bloquearam o fluxo de materiais vitais ao programa nuclear iraniano. “O Irã”, disse ele, “provavelmente não pode construir mais de um número limitado de centrífugas de primeira geração. Algumas partes delas exigem aço de alta tecnologia que o Irã não tem condições de produzir mais do que já tem. Em conseqüência, o enriquecimento em Natanz está, na verdade, caindo”. E Albright concluiu, informando que as centrífugas originais IR-1 estão ficando velhas e vencidas e o Irã precisaria de mais 1.000 como elas para produzir a mesma quantidade de urânio enriquecido um ano atrás. Em outras palavras: obstáculos de superação extremamente difícil.

 

De qualquer maneira, o bombardeio do Irã teria de encarar grandes dificuldades. Os alvos estão a uma distância excessiva – 1.700 km –, o limite máximo de alcance dos aviões táticos israelenses. O que exigiria reabastecimento em vôo, dependendo de aviões americanos. É necessário levar em conta também os problemas diplomáticos decorrentes, pois os planos de vôo teriam de envolver passagem pelo espaço aéreo da Arábia Saudita, Iraque ou Turquia. Seria quase impossível obter permissão desses países.

 

No entanto, para as autoridades israelenses a questão principal é a possibilidade de conseguir, se não o apoio, pelo menos o nihil obstat dos EUA. Em princípio, já se sabe: Obama não quer o bombardeio do Irã porque isso significaria guerra. Os EUA, mergulhados numa devastadora crise econômica, não teriam recursos para entrar em uma terceira guerra, em defesa tanto de Israel, quanto do fluxo de petróleo do Golfo Pérsico, essencial ao país. Isso se a guerra não se estendesse à Arábia Saudita e aos demais países aliados do Golfo, o que também exigira proteção militar americana.

 

Apesar de ser contrário ao bombardeio das instalações nucleares construídas profundamente no subsolo, Obama acaba de facilitá-lo. Ele forneceu 50 moderníssimas bombas estratégicas americanas, capazes de penetrar fundo e destruir as mais poderosas barreiras de concreto. Era um pedido que vinha dos tempos do governo Bush, que hesitou em atendê-lo, pois sabia qual o uso a que seriam destinadas. Talvez por fraqueza Obama cedeu. Mas, logo a seguir, mandou a Israel Leon Panetta, o secretário de Defesa, com ordens de acalmar os ânimos.

Segundo Amos Harel, no jornal israelense Haaretz, Panetta levou a seguinte mensagem: “os EUA apóiam Israel, mas um ataque descoordenado israelense ao Irã poderia detonar uma guerra regional. Os EUA defenderão Israel, mas Israel deve comportar-se de maneira responsável. Os EUA estão muito preocupados e nós trabalharemos juntos para fazer o que for necessário para evitar que o Irã represente uma ameaça para a região”. E Panetta teria repetido a palavra “juntos” várias vezes.

Diz Amos Hartel, que aliás é um dos mais respeitados jornalistas políticos israelenses, que Panetta deixou claro: Israel não deveria agir sem o sinal verde dos EUA. Estaria Nethanyau disposto a obedecer?

É de se crer que não. Ele já teve muitas provas da fraqueza de Obama. Sabe que, a um ano da eleição, o presidente americano não se arriscará a perder o dinheiro e o voto dos judeus americanos, deixando Israel na mão.

A favor do ataque está o fato de que como a Síria, o Hezbollah e o Hamas viriam em defesa do Irã; Israel, aliado aos EUA, teria grandes chances de destruir de uma vez todos os seus principais inimigos.

É claro, as perdas israelenses também seriam consideráveis. E a guerra só se justificaria para evitar um mal que Netanyahu reputa maior: a nuclearização do Irã. A qual, para ele, seria inevitável caso os países do P+5 negociassem um acordo com o governo Ahmadinejad para garantir o caráter civil do programa nuclear iraniano.

A hipótese de acordo com o Irã parece pouco viável. Para firmá-lo, Obama teria de vencer os lobbies pró-Israel dos EUA, o Congresso e seu próprio partido, que seguem fielmente as orientações de Tel-aviv.

Embora a Constituição dos EUA atribua ao presidente a responsabilidade pela política externa, Obama não iria pela primeira vez enfrentar forças às quais até agora sempre se dobrou. Não irá fazer as pazes com o governo de Teerã. Seus fiéis aliados europeus, como sempre, dirão amém. A Rússia e a China ficarão falando sozinhas.

Mesmo com o programa nuclear iraniano pelo menos temporariamente comprometido, mesmo com mínimas possibilidades de as potências ocidentais acertarem os ponteiros com o Irã, as possibilidades de guerra ainda persistem.

Netanyahu teria concordado com seus falcões em fixar um prazo para o Irã pedir água e renunciar ao programa nuclear. Venceria antes do inverno, quando começa um tempo pouco propício para ataques aéreos.

Pode ser verdade. Do comportamento irresponsável e agressivo do primeiro-ministro israelense, é lícito se esperar tudo.

 

Luiz Eça é jornalista.

Site: www.olharomundo.com.br

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