Correio da Cidadania

Coincidências demais

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Até santo desconfia de coincidências demais. E coincidências tornaram-se corriqueiras nos meses recentes. Desdobraram-se nas inconsistências de cada vazamento dos processos da Polícia Federal. Repetem-se nos entraves burocráticos que impedem ou atrasam as obras de infra-estrutura e de plantas produtivas estratégicas da economia. Multiplicam-se exaustivamente na cobertura da imprensa, que sempre "pauta" os pontos que realcem a "responsabilidade do governo" em qualquer assunto negativo. E tornam-se cada vez mais estranhas nos "acidentes", ou "erros", que ocorrem nos sistemas de controle aéreo.

 

Os vazamentos (não os processos) da Polícia Federal, mesmo que sejam paralisados, certamente causarão rombos nas finanças públicas, se todos os que, acusados sem provas contundentes, entrarem com processos de perdas e danos contra a União. Os entraves burocráticos, dos mais diversos escalões, em geral ao arrepio da lei, além dos danos que impõem aos planos de desenvolvimento do país, também poderão ferir fundo as finanças públicas, se os que vêm sendo prejudicados também apelarem para ações indenizatórias contra o poder público.

 

A cobertura da imprensa, arrogando-se conhecedora das causas gerais e específicas de todo e qualquer acontecimento, inclusive do fator determinante do acidente do avião da TAM, tem conseguido levar a classe média, por exemplo, a culpar o governo Lula, não as companhias aéreas, pela cobiça em vender mais vôos do que suas frotas e tripulações têm capacidade de atender, e em colocar em operação, como parece, aviões que deveriam ter recebido uma manutenção mais responsável.

 

No caso do caos aéreo, a imprensa também tem batido na tecla de que o governo Lula deu mais atenção ao charme dos aeroportos do que à segurança, seja das pistas, seja dos equipamentos de controle aéreo. Talvez por simples coincidência, quase toda a mídia guarda um obsequioso silêncio sobre o fato de que as obras, que modernizaram apenas parcialmente os aeroportos, foram projetadas e iniciadas durante o governo FHC. E ninguém se atreve a dizer que o pecado do governo Lula foi concluí-las, sem fazer uma análise dos desvios estruturais dos projetos de seu antecessor.

 

Aliás, se tivessem sido ouvidas as sugestões de que seria imprescindível realizar uma severa auditoria da era FHC, dando conhecimento à opinião pública das inconsistências de seus projetos e dos estragos causados ao país, a situação poderia ser outra. Não só teria sido possível evitar que bombas de retardamento, plantadas naquele governo, estivessem explodindo agora, como também a classe média estaria em condições de avaliar mais apropriadamente as responsabilidades dos acontecimentos em curso.

 

E, além disso, o país estaria mais preparado para enfrentar as coincidências, tantas que até parecem sabotagens programadas.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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