Globo organiza o partido da despolitização da política
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- Milton Temer
- 15/10/2011
O Globo abre, com destaque, a convocação para as manifestações anti-corrupção, prevendo cifras de participação significativa de militantes da "causa sem partidos". Ou seja, transformam seus meios que deveriam relatar os fatos em promotor dos fatos com que depois trabalham a notícia editorializada de acordo com sua visão conservadora e reacionária da sociedade.
Pois bem, reitero que estou fora. Fiz e faço combate contra a corrupção, e não me ocorre, ao longo de décadas, ter sentido apoio das organizações Globo. Pelo contrário. Indo ao momento significativo mais recente - o do processo de privatizações imposto pela vaga neoliberal que nos assolou durante o mandarinato tucano-pefelista de FHC: de que lado estiveram as organizações Globo? No apoio total ao que o insuspeito Elio Gaspari classificou, sem meias-palavras, como privataria.
Lembro ainda o dia em que, como deputado participante da Comissão Especial que discutia a emenda constitucional determinante da privatização das telecomunicações, me defrontava com o depoimento do então ministro José Serra na audiência pública previamente agendada. Não vou entrar nos detalhes do debate que com ele travei. Estão lá nos anais da Câmara as suas respostas quanto à necessidade de vender nosso patrimônio para nos livrarmos do compromisso da dívida pública, então em torno de R$ 60 bilhões, e que, a despeito da queima de bens estatizados na bacia das almas, se viu alçada a R$ 650 bilhões no fim do mandato que ele defendia.
Vou registrar apenas que, diante de tão importante depoimento, o relator da matéria - o probo deputado Geddel Vieira Lima (personagem do documentário "Geddel vai às compras", produzido pela repetidora da TV Globo da Bahia, dirigida por Antonio Carlos Magalhães, e por ele distribuída para denunciar os malfeitos do referido personagem) - estava ausente. E a informação que então correu era de que sua ausência se devia a almoço tête-à-tête que então estaria tendo com Roberto Marinho, um dos principais mobilizadores da campanha pela privatização.
O que moveria, portanto, a Globo atual em tão nobre causa? Defender a transparência dos negócios envolvendo a res publica? Doce ilusão. O que move a vênus platinada é uma deliberada operação de despolitização da política. O que move a TV Globo é a conquista de corações e mentes de uma parte fundamental do eleitorado progressista, mas não filiado ou permanentemente ligado às lutas dos movimentos sociais ou dos partidos de esquerda, que não se venderam, nem se renderam, para uma ação organizada de desorganização exatamente dessas correntes de ação e pensamento progressista.
Promover no Brasil uma onda semelhante à que lamentavelmente varre povos de potências capitalistas, que se reúnem em manifestações pontuais e conjunturais, mas que, pela abstenção nos processos eleitorais, por justificado ceticismo, permitem à direita mais reacionária manter o controle absoluto das instituições, ditas republicanas, que realmente deliberam sobre seus destinos, através do modelo de sociedade que desenham com suas leis e decisões dos poderes Executivo e Judiciário.
Que ninguém se iluda. Participar desses movimentos, pode até ser. Mas com colunas específicas e faixas que expressem palavras-de-ordem emanadas dos partidos políticos que lutam contra o grande capital. Participar separadamente, a despeito de os "líderes" dessas "inorgânicas" pretenderem impedir, através da interdição de partidos políticos ou sindicatos combativos numa luta em torno dos temas que sempre lhes foram próprios, e agora se vêem ameaçados de propriedade indébita.
Milton Temer é jornalista e ex-deputado federal.
Comentários
Diz o autor:
"A corrupção diz respeito à repartição da mais-valia entre os capitalistas. Não diz respeito ao processo de exploração da força de trabalho, mas à posterior distribuição dos lucros desse processo entre os exploradores.
Quando a corrupção assume a forma de uma passagem de dinheiro dos empresários para os políticos — e são estes os casos mais comuns — ela equipara-se aos impostos. Pode argumentar-se que os impostos se destinam, pelo menos em parte, à conservação e promoção de infra-estruturas materiais e sociais e que, portanto, acabam por reverter em benefício dos empresários que os pagaram. Mas a isto pode replicar-se que, assegurando protecção e simpatias, o dinheiro pago pelos empresários aos políticos corruptos reverte igualmente em benefício das empresas.
Numa análise estritamente económica, a corrupção só começa a ter efeitos negativos quando leva a uma permanente fuga de capitais, que se tornam ociosos ou de qualquer outro modo saem do circuito económico. E a corrupção tem efeitos totalmente destrutivos quando substitui os mecanismos administrativos e judiciais correntes, que deixam então de existir na prática. Nestes casos o Estado deixa de funcionar.
Existem várias organizações não-governamentais que se dedicam a avaliar o grau de corrupção em cada país e a compará-los. Nessas escalas o Brasil tem ocupado uma posição intermédia e, se não se conta entre os menos corruptos, também não se insere nos mais corruptos. Segundo uma dessas organizações, a Transparency International, em 2010 o Brasil ocupava a 69ª posição — acompanhado por Cuba — numa escala de 178 posições. Assim, no plano em que prossegui a análise da evolução económica recente do Brasil e na perpectiva em que a prossegui, a corrupção não constitui um fenómeno significativo.
A corrupção é muito evocada no Brasil por razões morais, sobretudo da parte daqueles que não criticam o capitalismo enquanto estrutura mas enquanto prática que se desvia de uma norma ideal. Sou completamente alheio a esse tipo de atitudes." (Cf. http://passapalavra.info/?p=44120)
O negócio é tirar o Povo da rua. Como diria o bordão de uma imitação do Maluf, feita por Agildo ribeiro "aprendeu rápido, hem?!"
A agravante é que a esquerda brasileira está preocupada com as lides da máquina administratia e do Parlamento, os partidos não estão fazendo a lição de casa: a conscientização, politização do proletariado. As massas alienadas são presas fáceis da propagand da mídia conservadora e dos seus agentes.
Lenin dizia: "o partido operário que deixa a organização do proletariado para segundo plano está cometendo um erro histórico.
Ora! É lógico que o combate à corrupção não pode ser uma espécie de Petiço da Fazenda - aquele cavalinho sempre selado para serviços rápidos de ida à cidade ou levar algum recado - mas, a meu ver, também não pode ser encarado, como queria Paulo Francis "como coisa da direita".
É lógico que a direita usa esta bandeira hoje, não para combater o governo, mas para exigir mais concessões, visto ser o terreno Lullo-Petista-DiLLmista fértil a este tipo de "solicitação".
Mas, isso não pode nos fazer perder de vista que devemos e temos de combater a corrupção e, principalmente, não identificá-la apenas como "coisa do capitalismo", mas sim pertinente às fraquezas morais humanas.
Assim, causa-me certo asco, ver gente que se diz de esquerda dizendo-se fora do "combate à corrupção", quando, a meu ver, deveriam é estar articulando outro campo de manifestações contra a corrupção, mas também sem os aparelhismos partidários que tanto conhecemos e repudiamos.
Assim, creio que este "estar fora" do combate à corrupção do Milton Temer pode estar apenas servindo de desculpa para a sua insistente tentativa de sedução "da base social petista" que ele, certamente quer votando em seu Partido, o PSOL.
Assim, Milton Temer vai trotando no caminho das reduções dos horizontes ideológicos e concessões programáticas que tanto a então deputada Luciana Genro criticava no PT, antes dela mesmo passar a aceitar dinheiro sujo da Gerdau para as suas campanhas, além de alianças com o direitistas do PV.
Mais a mais, Milton Temer, não é verdade que achas péssimo que tudo o que sai n'O Globo. Há cerca de um mês, na edição de Domingo (a mais lida), este jornal (de direita, mas muito bem formulado, é preciso dizer), estampou em página inteira e de destaque, uma entrevista com o apoiador da hidrelétrica Belo Monte, o prof. Carlos Lessa, entrevista na qual, sinceramente, não disse coisa com coisa, e muita abrobrinha. Até parecia alguma matéria paga para contestar políticas do PT (para isso O Globo seve, né?).
Para Milton Temer, no'O Globo, o prof. Carlos Lessa recém filiado ao PSOL PODE. Mas o combate à corrupção NÃO PODE.
Milton: Acho que aqui no Correio não tem os "massa de manobra" que procuras.
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