Correio da Cidadania

Uma geração de políticos de visão bitolada. Ou pusilânimes?

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Passadas as primeiras décadas do pós-segunda guerra mundial, em que o sistema capitalista industrial evoluiu de forma extraordinária, começaram a aparecer os primeiros sinais de uma longa e aparentemente interminável crise. Já no final dos anos 60, o capital deixava os limites de suas matrizes nacionais para ir se instalando progressivamente em outros rincões. Sabiam os grandes empresários que não poderiam permanecer estancados sob o risco de aprofundamento da estocagem, fruto da superprodução industrial.

 

Buscar outras terras significava abrir novos campos de produção e de consumo, gerando, ao mesmo tempo, novas tarefas para as suas matrizes, que passariam a ser também produtoras e exportadoras de indústrias, não apenas de manufaturados para consumo imediato. Passariam a ser produtores de bens de produção, em larga escala.

 

Ao se instalar em outras praças, o capital já se preparava para enfrentar a próxima crise de superprodução, que ali também chegaria em pouco mais de 10 anos. Como, aliás, aconteceu no Brasil, no Chile e países asiáticos. Por conta dessa previsão planejaram e exigiram profundas mudanças na legislação trabalhista das nações chamadas de “emergentes”.

 

Um bom exemplo foi a derrubada da “lei da estabilidade no trabalho” (estabilidade após dez anos de serviços na mesma empresa), que os militares substituíram via decreto pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

 

Em pouco mais de 10 anos de ação das multinacionais no Brasil, o estoque de manufaturados começou a crescer. Daí a razão do galopante desemprego logo no início da década de 80. Como já não havia garantia de emprego, o trabalhador se tornou o vilão da história. A conversa do capital era que a mão-de-obra se tornara muito cara e era preciso reduzir os custos da produção (claro, para não diminuir seus exorbitantes lucros acumulados).

 

Nem isso, porém, garantiu a eternidade do sistema. O processo de acumulação das riquezas socialmente produzidas vai, progressivamente, provocando crises - que os especialistas chamam de cíclicas. Porém, as crises se amiúdam causando profundos estragos nos pilares econômicos dos países detentores do capital industrial e financeiro. O Império Europeu (União Européia) está minado e, como um barco furado, fazendo água por todos os lados; o Império Americano (EUA) está endividado até a goela e não encontra saídas em longo prazo. Seu desemprego é crescente, mais de 30% de sua população já está na linha da pobreza (quantos na miséria?); suas guerras assassinas já não são a garantia de que continuarão a imperar, embora ainda continuem a destruir o planeta, países e a dizimar nações milenares.

 

Populações reagem ocupando ruas e praças em várias partes do mundo, protestando contra o caos gerado pelas crises, pelo desemprego, pelo arrocho econômico, pela retirada de direitos adquiridos, pelo aumento da violência, pela falta de perspectiva de vida com dignidade. Londres está literalmente em chamas, como já ocorreu na França e Alemanha há poucos anos. Vários povos estão exigindo mudanças estruturais.

 

Estamos assistindo à gangorra da economia que do dia para a noite consome as poucas gorduras econômicas dos mais simples. As bolsas de valores revelam a fragilidade das aplicações rentistas, assim como escancaram a inadimplência a que muitas empresas vão sendo atiradas. No Brasil, a Petrobras, por exemplo, cinco meses depois de ter atingido o seu maior valor na bolsa com a capitalização (incorporação de recursos vindos de fora), já acumula uma desvalorização de R$ 154,4 bilhões; em menos de seis meses a CSN conseguiu seu segundo empréstimo de R$ 2,2 bilhões junto à Caixa Econômica Federal. Bom sinal?

 

É nesse contexto de degradação econômica que países como o Brasil se inspiram e tentam participar de um “bolo” que já não cresce e que míngua dia a dia, apontando para um final trágico. Quanto tempo vai demorar ninguém pode ao certo afirmar. Pode até ocorrer uma nova reordenação mundial da economia, postergando seu fim. Mas o sistema não é infinito.

 

Entretanto, falta aos nossos políticos a compreensão dos rumos históricos de todos os sistemas de exploração e dominação. Não são capazes de enxergar (ou não querem) um palmo à frente do nariz, não admitem que o abismo esteja logo ali. A herança maldita deixada pelos militares, depois do golpe de 64, que rebaixou a educação e jogou a ética na lata do lixo, se alastra e revela a incapacidade de nossos políticos reverem a história, pensar, planejar e agir no sentido de construir um Brasil que caminhe com as próprias pernas, um país solidário e menos injusto. Tais políticos são incapazes de acreditar que somos um povo com capacidade de construir nosso próprio futuro.

 

Gostam do poder pelo poder, para satisfazer egos pessoais e grupais, para o enriquecimento ilícito.

 

Traem nosso povo sem um pingo de vergonha na cara. Vendem a pátria e com ela enviam para fora nossas reservas minerais, deixando enormes crateras sobre a superfície e buracos no subsolo; permitem a exploração de toda nossa reserva biológica e abrem as portas para a entrada do capital internacional ocupar nossas terras, terras que são roubadas do nosso povo e a ele sonegadas. Desviam enormes recursos financeiros dos orçamentos públicos e os entregam generosamente aos grandes banqueiros, esses que são os verdadeiros acumuladores improdutivos do planeta, que são as sanguessugas da humanidade. Grandes empresas aqui se implantam livremente e com incentivos fiscais, tomando conta de toda nossa riqueza, internacionalizando o país. Estamos mais colônia agora que dois séculos antes.

 

Há décadas que no Brasil vingam apenas os políticos medíocres, aqueles que usam suas cabeças e tempo para planejar como enganar o povo, como se vender aos poderosos e a eles se subordinar, como subordinarem os verdadeiros interesses populares aos mesmos interesses alienígenas. Sabem, esses políticos, do nosso imenso potencial, pois o capital predador aqui investe em busca de rendimento e poder e porque o Brasil e parte da África podem ser a sua tábua de salvação. Mas nossos políticos, pusilânimes que são (fracos de caráter e covardes, segundo o Houaiss) não ousam inovar, não ousam enfrentar os riscos históricos, preferindo a mediocridade da bajulação efêmera dos exploradores da humanidade.

 

Como a esperança sempre renasce das cinzas, pode ocorrer que nosso povo também acorde do torpor a que está submetido desde a ascensão do lulo-petismo ao poder e resolva agir, ser protagonista das mudanças que tanto almejamos, atropelando a mediocridade política. 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

Comentários   

0 #2 PusiâminesRaymundo Araujo Filh 19-08-2011 11:09
Waldemar

Tenho certeza que são Pusilâmines com idéias bitoladas.
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0 #1 nossaZe Antonio 13-08-2011 13:35
Obrigado Sr.Waldemar por nos proporcionar tanta certeza neste momento dos mediocres e dependentes
Muito obrigado .
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