Correio da Cidadania

Eletricidade nuclear e as tarifas

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Os impactos do desastre nuclear na central de Fukushima, no Japão, devem ter efeito imediato nos preços das centrais projetadas no mundo e no Brasil. A exigência de sistemas de segurança mais eficientes e uma alta no preço dos seguros tendem a encarecer ainda mais a eletricidade nuclear.

 

Os custos de uma usina nuclear crescem proporcionalmente com o nível de confiabilidade e segurança exigidos. Quanto menores forem os investimentos na confiabilidade e segurança do suprimento energético, maior será a exposição aos riscos das catástrofes naturais, das falhas humanas e das falhas mecânicas e elétricas que podem ocorrer na instalação. Após este acidente no Japão, especialistas confirmam a necessidade de novos esforços tecnológicos para aumentar a segurança das instalações.

 

No Brasil, verifica-se que as condições de financiamento de Angra 3 são controversas, já que a Eletronuclear assumiu uma taxa de retorno para o investimento entre 8% e 10% - muito abaixo das praticadas pelo mercado, que variam de 12% a 18%. Somente uma taxa de retorno tão baixa pode viabilizar a tarifa projetada de R$ 138,14 megawatt/hora (MW/h), anunciada pelo governo federal para essa usina.

A operação a baixas taxas de juros revela o subsídio estatal à construção de Angra 3. Os subsídios governamentais ocultos no projeto dessa usina nuclear são perversos, porque serão disfarçados nas contas de luz. Se isso se concretizar, quem vai pagar a conta seremos nós, os usuários, que já pagamos uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo.

 

Ainda no caso de Angra 3, a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Isso sem contar o R$ 1,5 bilhão já empregado na construção e os US$ 20 milhões gastos anualmente para a manutenção dos equipamentos adquiridos há mais de 20 anos. Desde 2008, o custo de instalação por kW desta usina subiu 44%, de R$ 5.330/kW para R$ 7.700/kW.

 

A título de comparação, a energia da hidrelétrica de Santo Antônio foi negociada a uma tarifa de R$ 79 MW/h; na hidrelétrica de Jirau, o preço foi de R$ 91 MW/h (ambas no Rio Madeira); na hidrelétrica de Belo Monte (Rio Xingu), de R$ 78,00 MW/h; e o resultado do primeiro leilão de energia eólica no Brasil deixou o MW/h em torno de R$ 148. Bem mais reduzido que o apontado pela Empresa de Planejamento Energético (EPE), que usou um preço mais alto da energia eólica para justificar a suposta viabilidade econômica da opção nuclear.

 

O custo das usinas nucleares que se pretende construir até 2030, duas no Nordeste e duas no Sudeste, é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões cada uma. Valor este que poderá ser acrescido de 20% a 40% até o final da obra, como se tem verificado comumente, no caso de grandes obras em realização/realizadas no Brasil. As tarifas previstas para a eletricidade nuclear gerada nestas novas instalações são incertas, de cálculos não transparentes, mas que certamente afetarão de maneira crescente a tarifa da energia elétrica no país.

 

A história do nuclear mostra que esta sempre foi e continua a ser, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. Isto significa que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país e na nossa região será a população de maneira geral, e em particular os consumidores, que pagarão tarifas cada vez mais caras.

 

Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco.

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #2 Nem que as nucleares fossem 100% segurasJosé A. de Souza Jr. 05-04-2011 08:05
O corolário da exposição do Prof. Scalambrini Costa é que as usinas nucleares devem operar com fatores de capacidade cada vez mais elevados. Desta maneira, o nuclear pode vir a ser a principal barreira para a adoção de um parque gerador 100% baseado em renováveis; coisa que é possível no Brasil, onde as hídricas são predominantes e podem acomodar facilmente grandes contribuições de renováveis variáveis, como a solar e a eólica. O grande equívoco da opção nuclear no Brasil é seu caráter "baseload" implícito; este não é um imperativo técnico, mas simplesmente um modelo de negócios.
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0 #1 UsinasDiego 02-04-2011 16:22
Usinas Nucleares? Depois o que será feito com o lixo nuclear? Vai ser empurrado pra lá e pra cá indo parar onde se tem menor capacidade de resistir à pressão do poder econômico?
Qual a capacidade que se tem de controlar a produção de energia por esse meio? O exemplo Japão de nada serve? Será que não seria interessante questionar os níveis de consumo de energia elétrica? Por que não optar por energia eólica, solar, biodigestores? Por que a alemanha representa 55% da utilização global de energia solar?
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