Expulsão de Battisti, mesmo que negada a extradição?
- Detalhes
- Celso Lungaretti
- 02/03/2011
‘Uma tocaia para Battisti?’ é o título do novo artigo do companheiro Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional (acessar aqui).
Ele também ficou apreensivo com as declarações do advogado geral da União, Luís Inácio Adams, no sentido de que, uma vez confirmada pelo STF a decisão brasileira de não extraditar Cesare Battisti, o escritor, como estrangeiro em situação irregular, possa vir a ser obrigado a deixar o país.
Após lembrar episódios históricos em que perseguidos políticos foram atraídos para emboscadas em outras nações e então aprisionados ou liquidados, Lungarzo avalia:
"...não afirmo, mas também não descarto que a eventual expulsão de Battisti do Brasil, mesmo que esteja fantasiada por um acordo com outro país que não possua convênio de extradição com a Itália, pode ser uma cilada. Negar isto a priori é ter uma visão idealizada da política, algo que foi muitas vezes ironizado pelos presidentes brasileiros, que sempre entenderam que direitos humanos e negócios costumam ser incompatíveis".
Não nego isto a priori, mas, dentro da linha editorial que tracei para mim, prefiro ficar sempre no mais tangível:
- Adams pode ter emitido uma opinião pessoal ou, como parte de uma articulação de bastidores, haver lançado um balão de ensaio, visando aferir as reações a este possível desfecho (cujo pretexto seria a maximização da importância de um detalhe ínfimo e irrelevante em se tratando de perseguidos políticos, qual seja, o de Battisti não estar com a documentação em ordem ao ingressar no país);
- então, se os militantes humanitários não nos posicionarmos com a máxima firmeza contra tal hipótese, crescerá a possibilidade de ser, imoralmente, adotada uma linha de ação muito atrativa para os que gostam de ficar em cima do muro (Battisti não seria extraditado nem Lula desautorizado, pontos fundamentais para a esquerda, mas também não permaneceria no Brasil, foco principal da grita direitista);
- mesmo Battisti desembarcando incólume num país que garantisse sua segurança, ainda assim seria fincada uma cunha na nobre tradição brasileira de acolherem-se indiscriminadamente os foragidos políticos de outras nações, ficando um saldo dos mais negativos para o futuro.
Portanto, minhas conclusões são as mesmíssimas do Lungarzo: "Qualquer que seja o motivo, a saída do país de alguém insanamente procurado por uma sociedade militarizada e policialesca no apogeu da ressurreição do fascismo, é muito perigosa e deve ter, como mínimo, garantias internacionais incontestáveis... As organizações e movimentos em defesa de Battisti, que hoje são muitas, devem se unir para colocar esta possibilidade junto ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas".
Celso Lungaretti é jornalista e escritor.
Blog: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
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Comentários
A meu ver, houve uma contaminação desta luta Pró Cesare, por perspectivas eleitoreiras, sendo justo até o medo de Serra colocar Battisti na Itália, mas esquecendo-se os companheiros de marcar espaços políticos com DiLLma, a obrigando a se posicionar sobre o "imbrolglio", de forma inequívoca (e não apenas filosófica como "ex combatente contra a ditadura", como está na moda, hoje). NENHUMA perguinta sobre Battisti foi feita à então candidata DiLLma Roussef.
Nunca quisemos ser alguma "pitonisa da desgraça alheia", mas a desgraça de Cesare Battisti é "unha e carne" com a nossa desgraça.
De um lado, a direita nacional e internacional, que tem Berluscconi como emblema, a fazer pressão grave, afinal o Brasil "está inserido no cenário mundial", tendo sido Lulla incensado e aceito o incenso, como ninguém. Só fataram dizer "não nos decepcione, hem, presidente!". Mas, DiLLma está a ouvir isso e, criada artificialmente como foi, escuta como uma ordem, ou chantagem forte.
Infelizmente, do outro lado temos articuladores que, em nome de uma "causa humanitária", a meu ver, usaram esta denominação para justificar acordos com a Ex Esquerda Corporation que, e não tenho a menor dúvida disso, consideram Cesare Battisti "um problema" e "incoveniente para os objetivos políticos principais", quais sejam, a meu ver, a entrega do país e o emprego daqueles que acham que acham que podem tudo, pelo fato de terem lutado contra a ditadura e até serem gravemente vitimados por ela de forma "especial".
Minha tese, desde o início foi a que devíamos colocar Lulla, Tarso Genro e o PT (além de outros da Ex Esquerda Corporation S.A.) no CENTRO de RESPONSABILIDADE pelo desfecho do caso, mas não da forma cosmética, mentirosa, tímida e covarde como vimos, com Tarso Genro fazendo sua campanha eleitoral como "esquerdista", mas traindo Cesare Battisti, quando orientou o voto de seu representante no CONARE, para levar o caso para o STF, onde pretendia um brilhareco, com a farsa que montaram e que culminou com a iníqua atitude de LuLLa , em seu último ato do mandato.
Não falo aqui na condição de "ex preso político', ou coisa assim (minha família foi apenas "convidada a se "retirar" do país, e por pouco tempo), mas como alguém que, embora "excomungado" como "divisionista e traidor", por emitir minha franca opinião publicamente. Mas, em compensação, privo de um generoso (por parte dele) diálogo com Carlos Lungarzo que, aliás, escreveu artigo n'A Folha de São Paulo, propugnando que se envolvesse diretamente o presidente Lulla (Lula, para ele, educado que é) no caso. Isso há cerca de 1 ano e meio.
Sabedor que o que se faz pela Libertação de Cesare passa, obvia e acertadamente, pelo seu crivo, quero terminar dizendo que os companheiros, nós todos, estamos com um sério problema a ser resolvido, pois, a meu ver, as Articulações Palacianas, com as traições que denunciei sempre, tendo sido privilegiadas, possibilitaram também OUTRAS articulações, que projetaram esta "solução salomônica" frente ao caso, prejudicando Battisti de forma grave, e atingindo mais uma vez a moral e a dignidade da história da militância de esquerda do Brasil, hoje, a meu ver, verdadeiramente avacalhada por remanescentes dela, mas que hoje conservam apenas o nome, e por comodidade política para o Capital Internacional.
Quem não quer ter como vassalos, aqueles que se dizem contra nós mesmos?
Este texto de Celao Lungaretti, a meu ver, é o segundo da série "mamãe subiu no telhado". Agora já está escorregando....
Não foi por falta de aviso e de tentativas de reverter a orientação equivocada, dos Acordos Palacianos. Que cada um se responsabilize pelo seui quinhão.
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