Correio da Cidadania

Os nós estão apertando

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É provável que a luta obstinada do governo Dilma pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos se veja dificultada tanto pela política monetária do próprio governo quanto pela demora na adoção de medidas que acelerem a produção de alimentos e de outros bens de consumo corrente.

 

As medidas de contenção da inflação, através da elevação dos juros e de forte contingenciamento fiscal, podem ser ótimas se a política geral não se incomodar com a compressão do consumo e a continuidade da miséria. No entanto, superar a miséria significa, em termos bem precisos, elevar o poder de compra ou de consumo de alguns milhões de brasileiros desprovidos dessa capacidade. Nesse contexto, a sustentação de um longo ciclo de crescimento pode ser, ao mesmo tempo, causa e efeito daquela superação.

 

Por um lado, como disse a presidente, é com crescimento que serão gerados os empregos e serão vencidas a desigualdade de renda e de desenvolvimento regional. Por outro lado, a geração de empregos, associada a programas que vençam a desigualdade de renda e de desenvolvimento regional, gera uma nova demanda que só pode ser atendida com mais crescimento e mais oferta.

 

Temos, desse modo, a necessidade de manter uma estabilidade econômica que atenda àquele crescimento. Todos sabemos que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador, e realmente não devemos permitir que, ainda como disse a presidente Dilma, essa praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres. No entanto, também precisamos admitir que a contenção da inflação através da política de juros altos é um freio, tanto ao crescimento quanto ao aumento do poder de compra e do consumo das camadas de baixa renda, em especial se permitir que os capitais de curto prazo superem os investimentos diretos.

 

O governo Lula só conseguiu implantar um processo de crescimento na contramão da política de juros altos porque se beneficiou de uma situação internacional extremamente favorável. O problema do governo Dilma, nessa questão, consiste em que as condições internacionais se tornaram mais complexas e, em muitos aspectos, desfavoráveis. Quase certamente não será possível combinar os dois aspectos contrários de juros altos e crescimento. O que pode fazer naufragar a política de completa erradicação da miséria, desejada pela presidente.

 

Nessas condições, o combate à inflação deve ser travado pelo lado do aumento da oferta, e de uma oferta que atenda justamente ao acesso de camadas que estavam privadas de alimentos e bens de consumo corrente e agora começam a ter acesso a eles. A questão chave da estabilidade econômica reside, assim, no aumento da produção de alimentos e de bens de consumo corrente, aumento que está condicionado tanto pela super-especialização do agronegócio quanto pela reduzida capacidade da economia agrícola familiar e pela pouca agilidade de setores empresariais em investir em setores que consideram de rentabilidade duvidosa.

 

Embora os nós dos juros altos e do contingenciamento fiscal estejam apertando o consumo e, em certa medida, possam conter a inflação por algum tempo, isso pode ter como subproduto uma redução no ritmo de crescimento, em especial nos setores que se tornaram vilões inflacionários, como os alimentos e vários bens de consumo corrente.

 

Se isso ocorrer, e não forem adotadas medidas para elevar a produção nesses setores, poderemos ingressar num processo de confronto entre a necessidade de crescer para combater a miséria, e a necessidade de conter a inflação, causada por oferta insuficiente.

 

Uma das dúvidas diante desse quadro é saber até que ponto o governo está disposto a intervir com firmeza para elevar a produção de alimentos e estimular os investimentos na fabricação daqueles bens de alta demanda pela população emergente. Em outras palavras, até que ponto já está agindo para desatar os nós que começam a sufocar o crescimento.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #4 ir além do reformismoeduardo g 08-03-2011 08:12
Aprecio sua sinceridade ao dizer que o lulismo só deu certo por uma conjuntura externa muito favorável, mas o buraco é ainda mais embaixo. Gerar mais empregos "pelo crescimento" não diminui a exploração, só faz o bolo crescer pros patrões. Precisamos ir reduzindo gradualmente a jornada de trabalho e proliferar o trabalho associado/cooperado, para que o povo seja donos do seu próprio trabalho. Precisamos de monopólio estatal do sistema financeiro, para liquidar a especulação e permitir um desenvolvimento centralmente planejado de nossa infra-estrutura, o que combinado com uma reforma agrária ampla e profunda, contribuiria para eliminar os pontos de estrangulamento da economia e, por consequencia, com as pressões inflacionárias. Em resumo, tudo aquilo que o governo do PT não quer e/ou não pode fazer!!
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0 #3 A Esquina é o limite!Raymundo Araujo Filho 24-02-2011 09:13
Raymundinho com seus artigos
Mal chegará ali na esquina
Onde chegará Rafael
Com a supervalorização de detalhes
Ignorando o principal?
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0 #2 Não tem contradiçãoRafael 22-02-2011 08:52
Raymundo, acho que vc está vendo pêlo em ovo, na ânsia visceral de atacar o governo LuLLA e DiLLma, com estes dois "éles" para fazer uma ilustre alusão ao nosso amado ex-presidente Fernandinho I, que com certeza tem TUDO a ver uns com outro. As formas de governar e, principalmente, os resultados, as ideologias, enfim, tal pai, tal filho...
Com esses trocadihos tão bem elaborados, o debate vai muito longe...ali na esquina.
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0 #1 Aaarghhhh!!!!Raymundo Araujo Filho 15-02-2011 18:11
"É provável que a luta obstinada do governo Dilma pela erradicação da pobreza extrema.....".

Uns têm falta de memória. A outros lhes faltam caráter. Espero que WP esteja no primeiro caso...

DiLLma foi eleita sob o discurso que Lulla eliminou a Pobreza Extrema, tendo a então candidata DiLLma Roussef dito na abertura, se não me engano de seu primeiro programa de campanha, que "A maioria das pessoas no Brasil são de classe média, graças ao governo que eu quero dar continuidade".

Logo no seu discurso de posse reavivou a idéia que seu governo visa "acabar com a pobreza extrema" que, segundo ela mesma, mas em campanha, já tinha sido eliminada por Lulla.

Com esta WP acabou de apertar o nó....no gogó do pobre Povo Pobre do Brasil.

Decidam-se, ao menos sobre qual mentira querem impor ao Brasil, pô!
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