Correio da Cidadania

Salário Mínimo: a novela que não tem fim

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Nos últimos anos, a questão do aumento de salário sempre foi objeto de inúmeras discussões, pelo fato de o reajuste proposto não ser suficiente para que os trabalhadores brasileiros consigam suprir suas necessidades. Contudo, nunca vimos uma discussão tão intensa acerca dessa questão. Tal situação se dá pelo fato de a definição do valor do reajuste ocorrer no mesmo período em que a Câmara dos Deputados aprovou um aumento exorbitante de salário de parlamentares, ministros e do presidente da República. Esse aumento coloca os salários de presidente da República, vice-presidente, ministros de Estado, senadores e deputados no mesmo nível de equivalência aos salários recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.

 

Um dos aspectos revoltantes acerca desse reajuste refere-se aos percentuais, que variam de 62% a 140% (parlamentares/ presidente e ministros, respectivamente). Em outras palavras, com esse exorbitante reajuste, o valor dos seus salários passa a totalizar a quantia de R$ 26.723,13. Mas será que esse aumento exorbitante e, sobretudo, antiético abrange a todos as pessoas que compõem a sociedade?

 

Pelo atual rumo que tomam as negociações no que tange ao reajuste do valor do novo salário mínimo, afirmamos com veemência que não. A presidente Dilma Rousseff pretende manter o valor estabelecido pelo até então presidente Lula em R$ 540,00, em contraposição ao proposto pelo candidato oposto ao seu partido durante o decorrer das eleições (R$ 600). Esse é o cenário no qual se desencadeou uma nova novela mexicana. De um lado, os órgãos sindicais defendem um mínimo de R$ 580 e, de outro, a presidente e sua trupe (ministro da Fazenda e companhia).

 

Estes últimos, após muitas negociações, pretendem fornecer um mísero aumento no valor de R$ 5.00, o que elevaria o salário mínimo (mínimo mesmo) para o valor de R$ 545,00. Com base no argumento de que o aumento proposto pelas centrais sindicais ocasionaria aos cofres públicos o gasto de 10 bilhões ao ano. Valor este que o planalto não teria como pagar e, o mais revoltante, que esse valor seria um absurdo para o senado. Será? Será que essa afirmativa também se aplica aos salários dos ministros e parlamentares? Com certeza, não.

 

Enquanto nós brasileiros mendigamos por um pequeno aumento em nossos salários, ministros e parlamentares (que deveriam representar e defender nossos direitos) concedem a si próprios um aumento exorbitante. Contudo, este aumento exorbitante não foi barrado por Dilma. Tal situação provoca a revolta nos brasileiros. No entanto, não temos a oportunidade de expressão, ou seja, ao povo é vedada a oportunidade de exteriorizar suas opiniões, o que evidencia a falta de reciprocidade no ato de emitir mensagens. Com isso, o acesso à palavra está sempre com quem possui o poder, evidenciando, assim, a ausência de reciprocidade no diálogo entre as pessoas que detêm o poder e os que não o detêm.

 

É esse o desenvolvimento social que o novo governo pretende propiciar ao nosso país, fornecendo privilégios de concessão de salários exorbitantes a pessoas que possuem cargos públicos no senado e fornecendo salários miseráveis aos brasileiros, o que evidencia falta de igualdade com que a distribuição da renda circula em nosso país?

 

Diante desse quadro, recorro ao discurso utilizado por Plínio Sampaio durante o debate eleitoral. Tal discurso convidava a presidente Dilma e nossos parlamentares a conseguir sobreviver com esse salário vergonhoso proposto pela nova gestão do nosso país. Nosso país é marcado pelo eterno discurso de que somos país do futuro. Contudo, esse futuro limita-se apenas aos discursos políticos. Tal afirmativa surge a partir da constatação do destino da população que está sendo decidido por pessoas que não visam à melhoria das condições de vida e que não estão comprometidas em representar nossos direitos. Mas, sim, por pessoas que objetivam benefícios próprios, o que as impede de proporcionar salários dignos para nós brasileiros.

 

Silvio Profirio da Silva, aluno do curso de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.

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Comentários   

0 #5 Socorro, meu salário sumiu!José A. de Souza Jr. 18-02-2011 12:05
No entra e sai de governos brasileiros há uma unanimidade: a elevação do salário mínimo é inflacionária, mas os juros de usura cobrados dos assalariados não o é. É a prova contundente do domínio do aparelho de estado pelos setores rentistas, que ao fim e ao cabo, são os donos absolutos das políticas montetárias e fiscais do país. Tolos daqueles que ainda acreditam na "seriedade" das instituições e dos governos.
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0 #4 Comunistas de butique...Roberta Ibanez 17-02-2011 18:36
Mto bom o comentário da Paula! Concordo totalmente e vou além: Sou advogada e, obviamente, circulo no meio de centenas de advogados, estudantes de direito, professores, magistrados, promotores, etc. Acho incrível como todos eles defendem arduamente que, de fato, o salário mínimo não pode ser aumentado satisfatoriamente, pois se for a previdência quebra! E o pior é que quando eu expresso a minha opinião, ainda me olham como se eu fosse louca, subversiva, alheia à realidade... Convivo diariamente com injustiças ao meu redor, inclusive em meu ambiente de trabalho, e é muito desanimador ver que nem mesmo os operadores do Direito estão dispostos a lutar, pasmem: nem ao menos por seus próprios direitos!!! Haja vista os absurdos cometidos no mercado de trabalho e as falácias cada vez mais inacreditáveis da OAB... Fiz uma enquete há alguns meses para ver se, ao menos, os juristas se lembravam de quem votaram nas últimas eleições. Nem preciso dizer o resultado, né?! Então, eu me pergunto: se nem mesmo nós advogados, que sabemos exatamente o trabalho que é realizado (ou não) pelo Congresso e que reconhecemos (ou pelo menos deveríamos reconhecer) a importância da democracia, não lembramos em quem votamos, imagina o resto da população... Aí, realmente fica muito fácil vender falsas imagens e se promover por meio de um passado tão longínquo e esquecido... Adorei a frase: de fato, os petistas de hoje são comunistas de butique! Aliás, por vezes me pergunto se algum dia foram outra coisa... Pregar filosofias na oposição é fácil. O difícil é governar com justiça e igualdade...
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0 #3 O mínimoJoão Rodrigues de Paiva Filho 17-02-2011 14:04
Realmente, tal situação é uma ofensa a todos nós brasileiros, os trabalhadores. É por isso que o governo nunca investiu em educação. Ora, quanto mais ignorante o povo, tanto maior será a roubalheira, a corrupção por parte mesmo daqueles que estão no poder, dos que decidem neste país. Isso é uma vergonha! Nem a Constituição eles não respeitam, nem tampouco praticam aquilo que nos diz respeito: nossos direitos. Desse jeito o Brasil nunca chegará ao desenvolvimente que tanto almeja. E um país não cresce só economicamente, visando somente os lucros, deixando de lado as coisas mais essenciais tais como: educação, saude, moradia, um salário digno... etc. Enquanto isso não ocorrer não haverá desenvolvimento, acreditem. Somente os empresários e as empresas é que lucram, e os trabalhadores só trabalham e trabalham. O governo precisa olhar mais para essas pessoas, que trabalham de sol a sol, pois necessitam para sobreviver e criar seus filhos. Reformas no sistema trabalhista, - pois assim as empresas perdem -, nem se fala. Evidentemente, não será fácil lutar por melhorias; não temos outra escolha senão lutarmos. Façamos valer a democracia pura! Merecemos um salário digno de um trabalhador. Se for o caso, faremos greve, exigindo nosso direitos. Isso é democracia!
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0 #2 Mas o povão adora!Patricia Jacques Fernandes 05-02-2011 14:25
Uma vez o presidente Figueiredo disse que pobre tinha que comer era osso e que ele não conseguiria sobreviver com o salário mínimo. Parece que nada mudou e até piorou e muito, pois o nosso povão continua sendo levado no bico, agora, pelos "comunistas de butique". Antes com os milicos tinha-se a ilusão de que as coisas não melhoravam porque era uma Ditadura (das mais ferozes, diga-se de passagem). Mas, e agora? Será que o povão não entendeu que político é bicho matreiro, que não pode ser deixado sem vigilância? Não basta votar e deixar pra lá. Muitos nem se lembram em quem votaram nas eleições de 2010. Não dá para achar que a responsabilidade é só dos "políticos", nem achar que o povo é coitado. Será que não sabemos mais o que é certo ou errado? Quem elegeu Sarney, Renan, Lula, Collor, Dilma, Tiririca, Romário e tantas outras sumidades? O Congresso é reflexo da Sociedade. Não é preciso ser intelectual para saber que as coisas estão muito erradas. Não temos educação de qualidade para todos, mas, ao invés de lutarmos pela melhoria da escola pública para todos, queremos cotas de vergonha. Não temos saúde para todos, mas quem tem plano de saúde pouco se importa ou começa a se importar quando o seu plano não atende às suas necessidades. Os políticos (sempre os mesmos) aumentam seus próprios salários e agrados, e o que fazemos? Reclamamos (com inveja?) de não estarmos lá, metendo a mão também. Se fosse o contrário, não votaríamos nesses mesmos canalhas e sim participaríamos mais da verdadeira política que é feita no cotidiano. Por isso, defendo o fim do voto obrigatório (www.votoobrigatorionao.com.br). Contudo, o melhor mesmo é comemorar a escalação da seleção brasileira de futebol. Me poupem!
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0 #1 E a distribuição de renda?Diego 31-01-2011 10:16
É Sílvio, isso sem falar nas verbas de gabinete, apartamentos funcionais, ausências injustificadas, gastos gigantescos com gasolina, passagens aéreas, etc. Quantas vezes é esse valor sobre a renda méida do brasileiro? Já comparou isso com outros países? Pode ser até na América Latina mesmo. Na Argentina um parlamentar ganha 4 vezes o rendimento médio, segundo um amigo de lá.

Mas o que há de mal se somos do país que lidera os rankings invertidos em educação, IDH, distribuição de renda, etc. se somos do país do futebol e da gente feliz?
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