Correio da Cidadania

Pedagogia ecológica: proposta para evitar tragédias e salvar vidas

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Inequivocamente, o homem é um agressor em potencial da natureza. Esse pouco cuidado com o meio ambiente, aprofundado enfaticamente no último meio século, já fez centenas de milhares de vítimas mundo afora.

 

Enquanto os horizontes do sistema de mercado priorizarem a busca incessante do lucro, pouco se importando se com isso o meio ambiente será ou não afetado, a natureza, agredida sem piedade, vai aos poucos dando seu recado.

 

Nessa história toda parece que continuamos – nós, o bicho-homem -, sem aprender algo substancial, enquanto vítimas e mais vítimas – humanos, animais, plantas, flores e frutos – vão tombando pelo caminho. É a vida em toda sua plenitude que está sendo dilacerada.

 

A recente tragédia na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, com vítimas fatais que aumentam a cada dia, afora o descaso do poder público que sempre fez vistas grossas para a construção de habitações nas encostas íngremes e irregulares, pois isso rende votos, é, na essência, culpa do desequilíbrio ambiental que tem, na origem, a agressão humana para com a Mãe e a Irmã Natureza.

 

Talvez não seja precipitado associar as fortes chuvas dos últimos dias ao aquecimento global. Um aquecimento que propicia em seu conjunto mais energia no sistema climático. No centro da questão está a agressão ambiental para atender ao sistema de produção que "reclama" mais produtos no mercado.

 

Enquanto grande parte de nossa gente, dos diversos estratos da sociedade, continuar a atender aos ditames do mercado engrossando os apelos do consumo voraz, insistindo em ver a natureza apenas como mero apêndice de um sistema econômico cada vez mais tacanho e perverso, capaz de construir uma "falsa" riqueza sobre os reais escombros da natureza, outras tragédias surgirão e mais e mais mortes serão computadas.

 

Para tentar reverter essa trágica situação, a idéia da prática de uma Pedagogia Ecológica, ou tenha isso o nome que tiver – ecopedagogia, consciência ecológica, bioeconomia, socialismo ecológico e outros -, se insere como condição essencial de aprendizagem capaz de proporcionar não só qualidade de vida, mas sim a preservação da própria vida.

 

Essa Pedagogia Ecológica aqui modestamente defendida é fruto de ponderações de renomados pensadores da órbita ambiental, e tem como ponto focal pensar num mundo sustentável partindo do conhecimento pleno do ambiente aliado a uma relação harmoniosa para com a natureza.

 

Essa Pedagogia Ecológica, para resumirmos essa idéia em poucas palavras, pressupõe uma regência do mundo natural, em todos os seus matizes, de forma a se coadunar na prática do comum e irrestrito respeito ambiental, afastando-se do consumo voraz e vendo a vida no futuro como parceira indispensável da natureza.

 

Na essência, trata-se de uma proposta de ecologia pedagógica que visa ensinar primeiro a respeitar o recurso natural, pois isso se reflete na qualidade de vida. Isso deverá ser ensinado nos primeiros anos de estudo, fazendo com que a garotada tenha contato inicial com a necessidade de preservar a natureza, tal qual defendemos em outro artigo(*) que, para nossa satisfação, teve boa acolhida e ampla repercussão nos sites e boletins informativos que circulam pela internet.

 

Além disso, essa proposta de Pedagogia Ecológica não deverá ficar restrita aos bancos escolares. É necessário e mesmo fundamental para o sucesso dessa proposta que ganhe tom de campanha nacional, veiculado em termos de propaganda televisiva no horário nobre, permitindo a possibilidade de maior consciência ecológica de todos nós.

 

A "linguagem" usada nessa proposta de Pedagogia Ecológica televisiva e escolar deve ser fácil e inteligível, capaz de "chegar" a todos, do Phd que poderá reproduzir isso em sala de aula até o mais humilde morador de uma simples habitação num pedaço de morro qualquer.

 

Edward Teller certa vez disse que "A ciência procura encontrar lógica e simplicidade na natureza". Kepler, de certa forma, corroborou afirmando que "A natureza ama a simplicidade" e Newton, por sua vez, pontuou que "(...) a natureza se apraz com a simplicidade".

 

Pois é com essa simplicidade, levando um discurso de reconstrução e preservação ambiental, que devemos trabalhar. A hora é de unir esforços – poder público, sociedade civil, organizações não governamentais, movimentos populares, imprensa e universidade – para levar à frente essa campanha de Pedagogia Ecológica que é mais que informativa; é uma campanha de orientação e precaução de novas tragédias.

 

Uma vez realçada essa idéia, incorporando novos adeptos, não seria presunção afirmar que outras tragédias poderão ser evitadas. Assim, se há alguém ou algo que poderá ganhar com isso, esse "algo" é, certamente, uma "coisa" indispensável que nos foi dada com total estima: a vida.

 

Assegurar a vida é, antes, buscar o equilíbrio ecológico. Para isso, nada melhor que todos tenham em mente a necessidade de saber o que fazer com a natureza. A natureza nunca foi má conosco; nós é que sempre fomos perversos com ela. É a nossa chance de retribuir o que a natureza sempre nos deu.

 

(*) Ver o artigo "Sustentabilidade deve ser ensinada e praticada na Escola", de nossa autoria

 

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). Colunista do Portal EcoDebate, do site "O Economista", da Agência ADITAL, do jornal Diário Liberdade (Galícia) e da Agência Zwela de Notícias (Angola).

http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com/

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Comentários   

0 #5 Pedagogia ecológica.Hélio 27-01-2011 14:00
Preocupação com a sustentabilidade ambiental é bom. Pouco se fala, a meu ver, em sustentabilidade econômica, verdadeira causa da tragédia. Esta, implica em migrações forçadas, avanço do agronegócio, expulsão do homem do campo para a periferia das cidades, da exclusão e da tragédia social. Apenas ensinar ecologia para as crianças não pé suficiente, com o devido respeito. O problema é de ordem econômica, desse modelo concentrador capitalista.
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0 #4 ótima e óbvia propostaMaralú Santos 27-01-2011 13:30
Concordo com sua proposta e, se considerarmos as orientações de tantos mestres pedagogos do passado, como o querido educador Paulo Freire, já sabemos o quanto nossa educação se travou enquanto pedagogia contextualizada, seja qual for esse contexto.Já passou da hora de unirmos esforços para revitalizar uma nova educação, pois a que é nos ofertada está cada vez mais bancária e tecnicista. Já passou da hora de somarmos esforços e recriar as lutas e os movimentos sociais desse país, cada vez mais entregue à formação de opinião imposta pela mídia eletrônica de péssima qualidade. Então, vamos esperar outras trajédias para agir? Ou saimos dessa condição de "lamentadores" e "pacientes" a espera da ação estatal que, quando chega, é tarde demais. Ou, lembrando outro mestre: "façamos a hora,sem esperar acontecer"
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0 #3 Nathalia 26-01-2011 16:27
Não interessa à alta mídia expor em horário nobre um conteúdo que ensine a preservar o ambiente.Se as pessoas começarem a realmente pensar na preservação do ambiente, vão entender ser necessário por limites ao agronegócio que, desmatando o Cerrado e a Amazônia, altera o clima, cria uma "estrada" de chuvas que traz chuvas torrenciais para o Sudeste, e outros malefícios incontáveis.
Sendo a alta mídia aliada do capital, tanto de empresas poluidoras como de latifundiários gananciosos, educar e informar a população acerca do meio ambiente não é proposta viável.
Não adianta, não dá pra se pensar em ecopedagogia e capitalismo convivendo juntos.
Estamos presos numa imensa teia confusa e cruel que é o capitalismo, e tudo gira em torno disso: entender que hoje o capitalismo não é mais uma opção de vida, uma vez que só gera e nutre a morte em todos os âmbitos.
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0 #2 Formação de educadoresALBA 26-01-2011 09:53
Acho a questão da educação \\\"ecológia\\\" muito importante e concordo com sua necessidade desde o inicio da vida escolar das crianças, já na educação infantil. No entanto, creio que se a ecologia fosse inserida de fato nos planos de educação e houvesse, inclusive uma proposta de formação efetiva dos profissionais da área esta ação teria mais eficiência. No entanto,ações como a da prefeitura de São Paulo com o Uma paz e secretaria do verde e meio ambiente, já estão surtindo efeitos em algumas escolas.é um bom exemplo a se seguir.
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0 #1 Proposta interessanteJorge Henrique S. Dantas 22-01-2011 09:26
Interessante a proposta do professor de economia Marcus Eduardo. Tomara que isso possa ser levado adiante. Em se tratando das relações naturais (ecológicas) ainda paira sobre nós certo desconhecimento do assunto. Nesse sentido, quanto mais esses assuntos vierem à tona, melhor para todos.
Jorge Henrique
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