Correio da Cidadania

Joaquim Celso de Lima

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Joaquim Celso de Lima era um operário. Freqüentou apenas a primeira série do primário e, da mesma forma que grande parte do operariado brasileiro, antes de migrar para uma cidade e trabalhar numa padaria, labutou na lavoura. Depois, trabalhou em ferrovias e no porto de Santos. Nos anos 1950, mudou para Porto Alegre, onde trabalhou em fábricas e na construção civil e ingressou no Partido Comunista. Já militante e organizador comunista, trabalhou nas minas de carvão e em várias indústrias do estado, tendo aprendido a profissão de eletricista, que abraçou durante toda a vida.

 

Em 1962, Joaquim estava entre aqueles que foram expulsos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e participaram da formação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1965, com o Brasil já vivendo sob a ditadura militar, e os comunistas em total clandestinidade, tornou-se elemento de apoio do Comitê Central do PCdoB, em São Paulo. Era Joaquim quem transportava, como motorista, os membros do partido que tinham que se dirigir à casa ou "aparelho" da direção partidária, para reuniões. Ao mesmo tempo, mantinha sua cobertura econômico-social, pegando serviços de eletricista e trabalhando como qualquer operário.

 

Em 1976, Joaquim foi preso durante a operação policial-militar que resultou na "Chacina da Lapa". Durante a prisão, Joaquim teve papel determinante na identificação da causa da descoberta do "aparelho" pelas forças militares e policiais. Fez uma descrição detalhada da perseguição do carro em que transportava o último grupo de companheiros e de como os policiais que o prenderam avisaram, por rádio, que estava "tudo limpo" para o restante da operação. Isto é, para a chacina que se seguiu.

 

Tal descrição foi a chave para a identificação do membro do comitê central do PCdoB, que passara a atuar como agente policial infiltrado, e a colaborar com o exército, na elaboração de um minucioso plano de descoberta do "aparelho", e de ataque e assassinato de dirigentes daquele partido. Sem tal descrição, dificilmente teria sido possível esclarecer a traição com tanta rapidez.

Ao sair da prisão, em 1978, Joaquim continuou trabalhando como eletricista, escreveu sua história no livro "Navegar é preciso. Memórias de um operário comunista", e teve um breve momento de volta à labuta do campo, antes de fazer novamente sua migração para a Grande São Paulo e manter-se como eletricista, até o momento de sua morte, aos 82 anos, no dia 24 de junho de 2007. Minha singela homenagem a esse operário comunista.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político

 

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