Confusão de sinais
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- Wladimir Pomar
- 02/08/2010
A campanha eleitoral está fazendo com que a direita retome suas versões sobre o governo Lula, talvez um dos principais cabos eleitorais da candidatura Dilma. Da mesma forma que alguns setores da esquerda, a direita considera que o governo Lula simplesmente deu continuidade às políticas neoliberais do governo FHC, e que seus sucessos se deveram a tal continuidade.
É evidente que há confusão de conceitos e sinais. A direita quer creditar os avanços do governo Lula às políticas neoliberais. Os setores da esquerda, em oposição ao governo Lula, não acreditam que tenha havido qualquer mudança e debitam essa falta de avanços justamente ao suposto continuísmo neoliberal do governo.
A direita também fala de poucas mudanças. Mas elas estariam relacionadas à falta de continuidade das privatizações, à descontinuidade na transformação do Estado num Estado-Mínimo, e na não implementação de outros planos em curso no governo FHC. Os setores oposicionistas de esquerda, ao contrário, atacam Lula por ter persistido nas privatizações, por haver entregue o Estado à pilhagem de setores políticos corruptos, e por não haver realizado as mudanças estruturais que a sociedade demanda.
Embora seja possível detectar essas diferenças de conteúdo entre o discurso da direita e dos setores de esquerda, que estão em oposição ao governo Lula, a grande massa da população brasileira não consegue distinguir as nuances. A imagem que percebe é de uma unidade entre ambos os discursos. Ainda mais que, tanto a direita quanto a oposição de esquerda também expressam a opinião de que a popularidade do presidente estaria mais relacionada à sua capacidade demagógica e de cooptação dos movimentos sociais do que a qualquer percepção popular sobre as mudanças reais de sua situação.
Esse quadro fica ainda mais confuso quando, por exemplo, tanto o candidato Serra, quanto a candidata Marina, continuam elogiando os supostos aspectos positivos do governo FHC, de triste memória, e prometem dar continuidade a todos os programas do governo Lula. A diferença consistiria em fazer "muito mais", com um governo de coalizão que incluirá o DEM. O que leva boa parte do eleitorado a supor que os setores da esquerda oposicionista estão apenas trabalhando pelo retorno do desastre neoliberal ao governo.
Essa suposição poderá se tornar ainda mais forte se a candidatura Dilma decidir fazer um acerto de contas com o passado nefasto das políticas do governo FHC, nas quais Serra teve papel saliente e com as quais Marina teve um namoro de muito tempo. Dilma pode mostrar os efeitos das privatizações, que reduziram drasticamente os investimentos em infra-estrutura e em novas indústrias, deixando que a malha rodoviária e de portos se deteriorasse, que a produção de energia ficasse estagnada e levasse ao apagão, e que grande parte do parque industrial brasileiro entrasse em falência.
Dilma também pode mostrar o grau de destruição que as políticas tucanopefelistas causaram aos sistemas de planejamento e de elaboração de projetos do país, ao comércio exterior e às reservas internacionais do país. Pode ainda mostrar, na ponta do lápis, como a justificativa da venda das estatais para abater a dívida pública não passou de mentira deslavada, e como a economia brasileira estava em estado de falência quando Lula assumiu o governo em 2002.
Pode argumentar que foi essa situação caótica, herdada do governo FHC, e as ameaças provenientes do sistema financeiro internacional, que obrigaram o novo governo a adotar uma tática cuidadosa de enfrentamento. Isto é, não aplicar o cavalo-de-pau que as burguesias estrangeiras e parte da burguesia brasileira supunham que o novo governo iria aplicar. Embora fosse possível ser mais ousado, naquele momento o governo Lula preferiu não mexer em alguns pontos considerados pétreos pelo sistema financeiro internacional, como a taxa de juros e o superávit primário.
Além disso, pode afirmar que a manutenção da disciplina fiscal e monetária, observada pelo governo Lula desde então, pouco tem a ver com o neoliberalismo. Enquanto existir Estado, capitalista ou socialista, a disciplina fiscal e financeira terá que ser mantida para evitar fortes desequilíbrios na situação econômica e social. O neoliberalismo se apropriou hipócrita e teoricamente desse procedimento, para garantir que os países devedores honrassem suas dívidas. Enquanto isso, seu principal mentor, os Estados Unidos, continuaram transgredindo-a sem pudor. Mas isso não significa que a disciplina fiscal e monetária deva ser jogada no lixo como algo imprestável.
Por outro lado, pode mostrar que, num movimento de pinças que tinha como forças principais o programa fome zero e a reorganização da capacidade de planejamento e elaboração de projetos do Estado, o governo Lula foi criando paulatinamente as condições para dar partida a um processo firme e consistente de redistribuição de renda e crescimento econômico. Teve muita gente, tanto à direita, quanto à esquerda, que não se deu conta desse movimento relativamente silencioso, e acreditou que a manutenção da macroeconomia neoliberal seria para sempre.
Apesar disso, a esquerda oposicionista continua acusando o governo Lula de apenas ter promovido um modelo neo-desenvolvimentista que combina a junção do capital financeiro com o capital produtivo, e pratica políticas sociais de mitigação da pobreza. Portanto, não vê diferenças programáticas substancias entre as candidaturas Serra e Dilma.
Não leva em conta as diferenças entre o segundo mandato e o primeiro. Nem que, sem as manobras táticas do primeiro, talvez fosse difícil realizar as mudanças ocorridas no segundo, mudanças que tiveram enorme repercussão na vida e nas mentes das grandes massas populares do povo brasileiro.
Mas a esquerda oposicionista sabe que a volta da direita ao governo será um novo desastre para o povo brasileiro. Mesmo assim, e certamente sem querer, seu oposicionismo acaba ajudando a direita, que esconde seu histórico de políticas de espoliação do povo brasileiro e, hipocritamente, promete dar continuidade aos programas e projetos do governo Lula. Porém, talvez por isso, a candidatura Dilma se veja acicatada a ser mais ofensiva na explicitação de suas diferenças com Serra e Marina.
Wladimir Pomar é analista político e escritor.
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Comentários
Ao darmos uma forte dose de glicose para um doente de pneumonia, ele irá se movimentar e roduzir imensamnente, por curto período, quando morrerá por exautão e infecção generalizada, pois o balanço energético é sempre negativo e demora algum tempo para se manifestar de forma fatal.
O Correio..e o esforço de sua equipe editora, a meu ver, ficam mais vivos e são "reverenciados", através da partiucipação de seus leitores, mesmo que isso não seja feito de forma exagerada (como eu me permito..).
O Debate é funda,mental aqui nesta página democrática e plural ( e com mão e contra mão, com equidade).
Assim, chamo aqui para o prestimoso Debate, sem ignorar (como autistas) os extensos argumentos que muitos de nós expusemos aqui nestes comentários.
Que vnham aqui DEBATER, e não reduzir nossas convicções a "invejas" oucoisa do gênero. Ao contrário, a verdadeira esquerda que vem aqui no Correio se manifestar, é composta de gente séria e capaz, imune a reducionismos cabotinos.
A fuga ao Debate concreto não passará desapercebida aqui no Correio, e estarei aqui para lembrar sempre isso.
Claro que devemos distinguir nossos pontos em relação a direita,porém temos que denunciar o que está acontecendo no Brasil,que é uma continuação da politica FHC.E mais, temos que apresentar como alternativa e não como oposição.
Agora, o numero de votas nas candidaturas de esquerda,mais os que votaria no pt ,porém vão votar nulo,devido a essa continuedade capitalista,serão menores do que a diferença entre o primeiro e o segundo candidato.
Então não temos com que preocupar,vale denunciar e propor alternativas,e é claro atacar a direita,como o governo,talvez até mais,porém não ficar refém dele(governo)...
Neste ano, o rombo do nosso balanço em transações correntes alcançará a apreciável marca de US$ 47 bilhões. Nessa marcha, em pouco mais de 4 anos as decantadas reservas internacionais se esgotam. E, das duas, uma: voltaremos a passar o pires, de joelhos, implorando ao FMI ou transferiremos mais ativos (os que ainda restarem) à propriedade transnacional.
Não poderia haver ninguém melhor do que Palocci e os neo-cnvertidos ao liberalismo com cara de esquerdistas para escrever essa nova crônica do avanço do imperialismo. Só que, evidentemente, do ponto de vista oposto ao de Lenin, Bukharin, David Harvey e tantos outros. O senhor Meirelles, essa estranhíssima e bizarra personagem, este não é convertido. O Lula foi buscá-lo no submundo obscuro da máfia financeira internacional.
João Carlos Bezerra de Melo
Nada lêem senão seus lambe botas (e bota lambe e botas nisso!), não interpretam os números expostos, todos eles oficiais, e que sob detalhada e qualitativa (não apenas quantitativa_ leitura) nos mostram o descalabro do (des)governo Lulla.
Os Programas de Transferências de Renda são alvos de vários estudos. Ontem o IPEA (gabinete da Presidência da República) lançou um estudo sobre o PNUD (Programa de Desenvolvimento das Nações - da ONU), com o título tendencioso "Estudo aponta a necessidade dos Programas de Transferência de Renda", para maquiagem do entreguismo do (des)governo Lulla.
Este estudo nos mostra que, após 8 anos de governo Lulla, 20% dos mais ricos continuam detendo e consumindo 59% da renda do país, e os 20% dos mais pobres, apenas 3,8%. Esta situação não melhorou nem em 3% a situação herdada de FHC.
Mas, o que o estudo não explicita, ou não é divulgado, é como se opera, e quais os números desta "Transferência de Renda", só que ao contrário, isto é dos Mais Pobres, para os Mais Ricos".
Vamos ao Telão (como diz o bordão de engraçada personagem humorística da TV):
O Bolsa Família beneficia cerca de 11 Milhões de pessoas, que recebem em média R$100,00, para que o governo possa dizer, mentirosamente, que 10 Milhões de pessoas saíram da miséria, sob o governo Lulla. Isto é, que 10 Milhões de pessoas ganham mais de R$4,10 até R$8,00 por dia. Isto dá, em conta bem aproximada, um gasto de R$13 Bi anuais para o governo. E, sem que nenhum Serviço Básico para a população funcione, como todos sabemos (ou não?).
Agora vem o outro lado da moeda.
Este mesmo estudo do PNUD nos mostra a triste realidade dos fatos (os números bem interpretados não mentem, jamais).
O governo Lulla gasta (em parte deixando de receber) anualmente quase R$400 Bilhões anuais com o que chamo de Projeto de Transferência de Renda para os Ricos, sob vários mecanismos que irei descrever a seguir.
Atentem que é de cerca de 30 vezes a diferença dos gastos do governo com os ricos, em relação ao que gasta com os Pobres, POR ANO. São cerca de 10 Trens Bala (ainda não superfaturado, como será) por ano, doados para os ricos.
E como se dá esta transferência de renda perversa? Muito simples e está em todos os jornais.
Isenções de impostos, tabela do IR que beneficia os mais ricos, facilidade do trânsito de capitais voláteis não taxados, desoneração do sistema financeiro, aumento das taxas de juros (R$50 Bi exonerados em 30 dias, recentemente e à vista), compra de serviços privados que seriam obrigação do Estado, facilidades extremas na concessão de créditos não ou pouco tributados, alta taxação dos alimentos da cesta básica e dos combustíveis, além das tarifas públicas e de serviços públicos (hoje, privados), onerando muito mais o pequeno consumidor (telefonia, água, luz, etc..), entre outros.
E mais, estes R$300 bi anuais têm um seguro que se chama Superávite Primário, que nada mais é do que uma reserva em grana viva e sequestrada pelo Governo, que hoje é na ordem de R$200 bi, somando então R$500 Bi anuais para os Ricos, e apenas R$13 Bi para os Pobres.
Assim, o IPEA apenas repete como um Papagaio de Pirata o ditame da Ordem Mundial que, ao expor estes números iníquos, traz o título que reafirma "a necessidade dos Programas de Transferência de Transferência de Renda", como uma senha para o que chamo de "esmolarização da sociedade", como se um país pudesse encontrar o seu eixo a partir de esmolas aos miseráveis.
Parece aqueles dadivosos que dizem que "se todos derem esmolas aos pobres, a pobreza acaba".
De minha parte, não cobro dos miseráveis que rejeitem as esmolas oferecidas. Mas, a minha contrapartida é alertá-los que por aí nada conseguirão em termos de dignidade e progresso.
E também, não posso me furtar de expor a realidade como ela é, negada por uma elite que se diz intelectual , mas que não passam de Bobos da Corte, Operadores do Crime Lesa Povo, ou meros Inocentes Inúteis.
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