Correio da Cidadania

O mais triste dos palhaços

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Neste dantesco circo chamado Brasil, eu me vejo como o mais triste de todos os palhaços. Não o genial Calvero, de Chaplin, em Luzes da Ribalta, ou ainda o arlequim enlouquecido que dança dentro de uma pequena caixa de música, mas aquele que já não dança e nem ri quando precisa vestir a máscara e esperar por mais um espetáculo, mesmo sem conhecer o enredo.

 

A tese da grande antropóloga inglesa Mary Douglas, tatuada a fogo no livro ‘Pureza e Perigo’, anunciando que "quanto mais puro e inocente, mais sujeito a despudores, pecado e sujeira", consegue resgatar deste palhaço aquele fio de sorriso há muito escondido em algum lugar qualquer da alma. Seria de alegria ou de puro escárnio?

 

Há, como sugere Mary Douglas, uma complementaridade entre essas oposições, de tal sorte que quanto mais se salienta um lado mais o seu contrário adquire força.

 

Nosso sistema de poder vomita seus mandos e constrói sobre linhas trôpegas e tintas deléveis axiomas como "quem faz e vigia o cumprimento das normas não precisa segui-las".

 

Sou aposentado de um ex-grande banco - aquele que simplesmente deixou de existir, graças às artimanhas orquestradas por alguns vendilhões da pátria, por trás das cortinas do nosso entendimento e aprovação- e fico entre o esperançoso e o derrotado, com essa alquimia unilateral e humilhante praticada em nosso país.

 

Onde, enfim, esconderam nossos direitos?

 

Onde, enfim, enfiaram nossos sonhos?

 

Parafraseando o grande maestro Jobim, "numa sociedade onde tudo tem dono e basta ser filho desta ou daquela família para ter sucesso, os bens já estão divididos".

 

Mas como sou apenas mais um cidadão comum, aposentado, sem títulos no nome, fico à espera da esperança.

 

Sou dono apenas da minha indignação. E filho de pequenos trabalhadores que por simples ingenuidade ou axiomática obrigação durante toda uma vida salientou e deu de comer e beber aos canalhas.

 

Vergonha, descrença e nojo. Continuam sendo estas as únicas palavras.

 

Ademir Barbosa de Oliveira é poeta e escritor da Academia Sanjoanense de Letras.

 

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Comentários   

0 #2 O mais trizte dos palhaçosRossi 27-09-2010 17:48
Pois então, meu caro Ademir Barbosa.
Também sou aposentado desse ex-grande banco, e faço parte de um grupo no yahoo -aposentadosbanespa- Você nem imagina o número de colegas que apoiam os vendilhões da pátria. É uma vergonha. Se dependesse desses colegas o banespa seria privatizado 2 vezes.
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0 #1 apoquentado banespianopaulo renan finholdt 05-08-2010 16:35
Belo vocabulário para expor explicitando situação aflitiva repetida ano após ano, utilizando-se de figuras ricamente adornadas em trapézio acrobático piruetadas; sentimentos contidos em seus espaços previamente demarcados. Fora eu torcedor de futebor, já lascava: Oh, mano! diz claro que bandidos psicopatas das espanha se acumpadrinharam com os psicopatas das altas esferas daqui e tascam no nosso sem ter dó(se liga santander!), me sinto no direito de também não perdendo a esperança perguntar \"quousque tandem\"?
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