Correio da Cidadania

A poesia do passado

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Os últimos dias na chamada imprensa alternativa - Brasil de fato, Correio da Cidadania, entre outros - foram marcados com uma questão um tanto insólita. Os teóricos da chamada esquerda em declínio (sim, em declínio por ser uma esquerda sem projeto) tomaram parte numa batalha épica.

 

Os setores desta esquerda atrelada à governabilidade, tendo no ápice das referências Lula e o PT, acreditam desgraçadamente que sendo seu projeto “democrático popular” uma espécie de política social-democrata atenderá aos anseios do povo numa fase de um capitalismo redimido. E através desta redenção do capital elevará do inferno aos céus uma sociedade mais igualitária. Observem o termo, igualitária. Notem que na gramática deste protótipo de esquerda a palavra socialismo não tem tradução.

 

Os Satãs, tomando a palavra no seu original grego que significa “os adversários”, se revestem de todo tipo de nuance para, de uma forma ou outra, se caracterizarem como o outro, numa posição de embate no grande coliseu das eleições. Mas de Satãs “os adversários” passam a diabos, “os acusadores”, e sem projetos que os caracterizam como alternativa no grande palco do “circo e pão” (eleições), lançam-se no pragmatismo das desqualificações todos os gladiadores.

 

Nesta luta titânica não foi reservado lugar para um exorcista, e Deus e Diabo, atraídos pelo mesmo engodo, sem apresentar uma alternativa para o país nos seus respectivos projetos, vagueiam entre afirmar o Estado burguês e negá-lo conservando-o, caracterizando assim alternativas “democráticas” que não mudam de conteúdo, apenas de forma. E mais uma vez na história a esquerda brasileira titubeia entre a necessidade de uma alternativa ao capitalismo e o “santo princípio liberal”.

 

Os gladiadores definem o princípio “Democrático” que norteia as suas elaborações programáticas com um gáudio: democracia, igualdade e liberdade. Tão pobre anseio robespieriano se a abstração tivesse ido um pouco mais além, pois está exposta no programa liberté, fraternité e egalité. Este sonho iluminista custou a cabeça de um dos maiores expoentes da revolução francesa e agora, como tragédia, retorna ao ideário da esquerda eleitoreira. Os mortos tolhem os vivos, como dizia Marx.

 

Primeiro tomemos o conceito “democracia” para análise. A democracia é um importante princípio da doutrina liberal, isso para não retomarmos seu original em grego, que nas palavras de Luiz Antônio Cunha consiste no igual direito de todos em participarem do governo através de representantes de sua própria escolha. Essa elaboração baseia-se nas formulações de Rousseau, ideólogo da moderna doutrina democrática.

 

É bom lembrar que o próprio Rousseau sabia das limitações da real aplicação deste princípio, das dificuldades práticas para a existência de um governo da maioria dos cidadãos.

 

Rousseau afirmou que, “tomando o termo em rigorosa acepção, nunca existiu, e nunca existirá, verdadeira democracia. É contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado. Não se pode imaginar que o povo permaneça incessantemente reunido para dar despacho aos negócios, e com facilidade se vê que, para esse efeito, não poderia estabelecer comissões sem mudar a forma de administração”. Por esse motivo a representatividade vem como a forma mais eficaz para aplicação de tal princípio.

 

O conceito poderia ser digestivo caso houvesse possibilidade de aplicação apenas de um dos princípios liberais, coisa extremamente inaplicável, pois, ao se aplicar um, todos vem à tona, não conseguem caminhar soltos, estão extremamente interligados.

 

Ao aplicar o princípio democracia, vossos programas se viram obrigados a considerar de importância ímpar aplicar outro princípio liberal: igualdade.

 

A igualdade, como pretendem os senhores, tenta transparecer uma nova forma de igualdade, uma igualdade de valores e paridade que não seja desigualdade entre os indivíduos. A igualdade é somente aplicada no modo de produção capitalista e este presume somente a igualdade perante a lei. Como na natureza os homens não são iguais em talento e capacidades, também não podem ser iguais na posse. E, para resolver tal problema, condiciona a igualdade somente junto à lei, igualdade de direitos entre os homens, igualdade de direitos civis.

 

Com diz Cunha, “todos têm, por lei, iguais direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à proteção das leis”. Marx, em a “Crítica ao programa de Gotha”, afirmou que este igual direito é direito desigual para trabalho desigual. Não reconhece nenhuma diferença de classes, porque cada um é apenas tão trabalhador como o outro. Mas reconhece tacitamente o desigual dom individual — e, portanto, (a desigual) capacidade de rendimento dos trabalhadores — como privilégio natural que uma nova sociedade precisa estabelecer na desigualdade entre indivíduos desiguais.

 

Ao transcender a igualdade logo se é conduzido à “liberdade”, outro princípio que juram ser de uma necessidade popular, porém apenas transfigurada em outro princípio liberal.

 

Na liberdade se exalta a livre organização da sociedade civil, conclamam os defensores da livre expressão, da movimentação (e aqui não conseguem ir além de explicar o nada), convocam os deuses em nome da livre atividade política e de organização dos(as) cidadãos(ãs). Esse princípio liberal que a ele empresta o próprio nome pleiteia antes de tudo a liberdade individual, e a partir daí todas as outras: econômica, intelectual, religiosa e política. A liberdade na priori liberal é a liberdade que os indivíduos têm na defesa da ação e das potencialidades, por isso está tão ligada ao princípio do individualismo. Por tal, não é de se admirar o fato de não ter aparecido na base do enfrentamento dos projetos.

 

Na luta pela transformação da sociedade capitalista em uma sociedade socialista, os proletários precisam munir-se de instrumentos que os botem em força superior aos burgueses, seu projeto não pode confundir-se com anseios liberais (burgueses) e nem com anseios social-democratas (aliança do trabalhador com a pequena burguesia). Seu projeto precisa trazer conteúdo novo e de caráter transformador, revolucionário. Um projeto de classe, da classe proletária, caráter que em momento algum foi planificado pela esquerda na disputa eleitoral.

 

Florestan Fernandes sabiamente afirmou que “na periferia do mundo capitalista e de nossa época não existem ‘simples palavras’. Se a massa dos trabalhadores quiser desempenhar tarefas práticas, específicas e criadoras, ela tem de se apossar primeiro de certas palavras chaves – que não podem ser compartilhadas com outras classes que não estão empenhadas ou não podem realizar aquelas tarefas sem se destruir ou se prejudicar irremediavelmente”.

 

Apegada a conteúdos burgueses, mais uma vez a esquerda brasileira perde a oportunidade de unificar-se na elaboração de uma plataforma única para a disputa política, aguardando somente as ações das movimentações de massas para a composição de um projeto de transformação socialista, já que é só na ação “prático-teórica” que é possível tal elaboração. Dividem-se no casulo que a história os reservou e garganteiam como feirantes o que de bom têm em vossas barracas programáticas.

 

Emiliano Morais é membro da direção do MST-MG.

Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #13 Seculo XXIJonas 22-07-2010 06:23
De observação às criticas tecidas ao presente texto e de uma analise sucinta do texto questionei-me com uma questão. De fato do que estamos tratando?

1º há uma incoerência substancial entre o que o Autor tece e o que a critica romântica esbafora...o Autor elucida questões de ordem do dia para as possíveis analise coerente da realidade...o que nos parece estar longe das reflexões da esquerda brasileira principalmente neste momento pré-eleições...

2º A critica é tomado por uma limitação histórica terrível...o que por conseqüência acaba elevando a níveis baixíssimos de contribuições para o texto chegando a desabafos românticos e despolitizados com odores de uma vulgaridade absoleta. O que não poderia ser aceito num site aberto é tipo de ranços como o exposto acima. Mas num Estado “democrático” todos têm direitos inclusive sem poder.

3º Do que mesmo estamos falando? Estamos falando de uma esquerda que por dificuldade de uma analise coerente da realidade posta... sem compreensão do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas ficam alentando projetos democráticos possíveis de ser aplicado por tal modo de produção. tomemos um exemplo o que é abordado por Santos acima...no Brasil temos pouco mais 800 milhões de hectares de terra desses apenas pouco mais de 100 estão nas mãos do dito latifúndio que por conseqüência estão em processo de potencialidades para fins de industrialização (o chamado desenvolvimento do capitalismo no campo que Caio Prado muito falou)... isso nos remete a uma nova faze da luta de classes no Brasil, uma faze que é aplicado pelo auto nível de organização do capitalismo tanto no campo quanto na cidade...e antes de executar tarefas mecânica a esquerda precisa refletir sobre elas e é isso que me parece exposto no texto de Emiliano.

Precisa-se se livrar do velho que sempre nos apresenta transvertido de novo...

Jonas Ribeiro
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0 #12 Santos 19-07-2010 00:01
Você esta correto mas sera q sabe o que é esquerda...
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0 #11 Lúcido e oportunoAlceu A. Sperança 09-07-2010 13:12
Um belo e lúcido texto de Emiliano. Esquerda desunida é igual a vitória política da burguesia.
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0 #10 LATIFUNDIO ?Santos 06-07-2010 14:18
esses cepalinos que não compreendem o desenvolvimento e o amadurecimento do capitalismo no brasil são f... ,latifundio e capitalismo maduro ? só na cabeça desses sicofantas,a dever que a monsanto é latifundio.
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0 #9 A loucura do socialismo jáFernando 01-07-2010 13:34
O texto de Emiliano é realmente confuso. Mas o comentário de Santos é muito mais grave. Ele tenta explicar a teoria do "Socialismo Já". Parte de premissas completamente fora da realidade. Onde é que que se realizou a reforma agrária no Brasil? Quer dizer que não existe mais luta contra o latifundio? São confusões como essa, produzidas por intelectuais academicos que estão longe da luta de classes, que acabam gerndo textos confusos como esse que estamos todos comentando.
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0 #8 Eles não estão entendeno ?Santos 01-07-2010 10:09
Estamos assistindo ao fim do ciclo PT, ciclo esse calcado na propositura politica democratica e popular essa que visa fazer reforma anti monopolistas, anti imperialista e anti latifundiaria segunto tais formuladores desta proposta politica; No brasil dado o atraso economico passaria a ser objetivo da ação politica dos trabalhadores cumprir um conjunto de tarefas em atraso, vista que no brasil não ouve um processo de revolução burguesa classica que sanaçe os grandes problemas das massas populares. Acredito que o projeto democratico e popular ja se realizou no brasil pelo carater monopolista do capitalismo brasileiro que na sua atual fase já passa a exportar KAPITAL desenvolvendo um dos apectos do que Lenin chama de imperialismo FASE SUPERIOR O kAPITALISMO.O MST agora sem sombra de duvida se encontra em um dilema ou seja dada a \'REALIZAÇÃO\' da reforma agraria no campo brasileiro construir uma organização capaz de expropriar os expropriadores isso é claro em aliança com o proletariado industrial e num contexto revolucionario faz muito bem o camarada EMILIANO em apontar os limites desses programinhas que não são de maneira nenhuma o projeto politico do proletariado por que o projeto historico dos trabalhadores se chama SOCIALISMO como demostrou Marx em 1848, de maneira nenhuma democratico e popular.Todo final de ciclo a pequena burguesia politica quer se apresentar para dirigir mais uma vez a classe metamorfoseando as demandas dos trabalhadores apresentando essas como demandas democratica, cabe a essa geração de militantes como esse camarada do MST ESTÁ FAZENDO apontar os limites de tal visão de mundo pequeno burguesa e assima de tudo atualizar a teoria e a pratica de nossa classe rumo a revolução socialista e proletaria no brasil. O que estamos assistindo não passa do velho se apresentando como novo, um conjunto de organizações politicas tentando prolonga o ciclo que se enserra pois para essas organizações ouve uma traição das direções e um rebaixamento programatico no fundo é uma briga para ver quem é mais social democrata no brasil.Lembrando que como disse Marx a poesia da revolução devbe ser tirada do futuro e não do passado proletarios de todo mundo uni vos.
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0 #7 Que texto atrapalhado!!Lara Leme 30-06-2010 12:48
Sempre respeitei muito o MST. Os militantes são de luta e isso faz que escrevam coisas sérias, porque estão na vida real. Não consigo acreditar que uma pessoa tão atrapalhada assim seja do MST. Um jeito de intelectual arrogante que não combina com militantes que estão na luta.
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0 #6 ConjunturaKika 30-06-2010 12:20
Que confusão mesmo , agora o MST bate no projeto popular ...O socialismo está aí na esquina.
Essa foi dificil de entender.
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0 #5 Quem é???Fabiola 30-06-2010 12:12
estou comm umas duvidas , bom que esse debate não é do MST acho que tá claro , já que tive muita dificuldade pra entender , achei muito confuso o texto. Uma mistura de PSTU PCB sei lá batendo no proprio MST.
O conjunturinha.
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0 #4 MST??????Rodrigo Melero 30-06-2010 12:01
Esse camarada esquerdista , e antipatico não é do MST , ou pelo menos do MST que convivo ele não é....
A Tempos eu não lia tanto blá blá bla , qualificado...esse autor teve a capacidade de escrever o mias fazio possivel com tanta firula. Imagina esse fazendo uma prova na escola aquelas que o aluno não sabe a matéria. Ele divia ser um artista pra encher linguiça. Bom espero que essas bobagens não criem asas...imagina se um autor desse ousar transmitir esses valores para outros militantes. Criaremos um mini exercitos de arrogantes , mitidos a intelectuais.
Que o MST se livre o mais rapido desses tipos.
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