Correio da Cidadania

Os três grupos poluidores

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As recentes propostas e declarações dos mais importantes líderes políticos mundiais sobre possíveis soluções para o aquecimento global têm mostrado que ainda há um longo caminho a ser trilhado para encontrarmos uma saída para o dilema. Como o assunto dominou as expectativas em torno das reuniões do G8 e do G5, realizadas na Alemanha no começo de junho, foi possível levantar dados para uma análise mais aprofundada com base nas declarações publicadas na mídia. Os maiores poluidores (os países que efetivamente têm poder para influenciar os rumos desta história) estão, grosso modo, divididos em três grandes grupos.

O primeiro, formado principalmente pelos paises da União Européia, aparece à primeira vista como o mais consciente no que diz respeito ao futuro das condições de vida no planeta. Participaram ativamente da idealização do Protocolo de Kyoto e todos assinaram o documento. Mas pouca gente comenta que nenhum está caminhando para cumprir as metas por eles mesmos estabelecidas de redução de 8% nas emissões até 2012 (que, não custa lembrar, estão muito abaixo do necessário). À exceção de Inglaterra, França e Alemanha, que registraram modestas reduções desde 2000, a maior parte dos países do continente apresentou aceleração desde o começo do século.

É importante ressaltar, ao falar de Europa, que estamos nos referindo a países com pouco espaço para expansão econômica ou para aproveitamento territorial, com baixo crescimento demográfico ou em alguns casos negativo. Nações onde é mais simples administrar a redução da emissão de CO² do que em outras com amplas áreas livres e inexploradas, que registram crescimento populacional mais pronunciado, como Estados Unidos, Brasil e China, apenas citando alguns exemplos.

O segundo grupo, liderado pelos EUA, ao lado principalmente do Japão e da Austrália, coloca a imposição de metas aos países ditos “em desenvolvimento” como pré-requisito para assumir algum compromisso.

O terceiro grupo (o nosso), composto pelas tais “nações emergentes”, que tem à frente Brasil, Índia e China, tenta esquivar-se das metas afirmando serem os países ricos os grandes responsáveis históricos pela concentração de CO² na atmosfera. Segundo o raciocínio dominante neste grupo, os desenvolvidos teriam enriquecido exatamente poluindo o mundo e agora estariam tentando lhes tirar este “direito”.

O resultado é que o produto das discussões referentes ao clima nos encontros de lideres mundiais na Alemanha foi nulo. Mas vejamos as propostas e declarações.

A chanceler alemã, Angela Merkel, do primeiro grupo, sugeriu a redução de 50% nas emissões até 2050, mas sem um mecanismo que incluísse compromissos obrigatórios para grandes cortes nas emissões.

Liderando o segundo grupo, Bush sugeriu “diversas reuniões internacionais” entre os 15 maiores poluidores, para estabelecer metas de redução de emissões. Detalhe: as metas seriam para quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012! E, segundo sua sugestão, cada país definiria sua própria meta de redução. Assim como no caso da alemã, uma proposta imprecisa e sem efeito prático.

Hu Jintao, presidente da China, país que vem apresentando índices de destruição por segundo jamais sonhados, afirmou que cabe aos países ricos “tomar a iniciativa”, pois “para os países em desenvolvimento, obter crescimento econômico e melhorar a vida de suas populações são as principais prioridades". Lula foi na mesma linha: “os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como os ricos cresceram e ter a mesma qualidade de vida que eles conquistaram”. Além disso, Lula, de olho nos dólares americanos, está jogando todas as fichas no etanol, uma falácia no que diz respeito a efeitos de redução no aquecimento global.

Lula me fez sentir vergonha de ser brasileiro no ano passado ao negar-se publicamente a assumir qualquer tipo de meta para redução nos desmatamentos da Amazônia. Parar o desmatamento é uma obrigação do Brasil, independente de pressões internacionais, até porque não me parece muito inteligente ver a destruição da floresta tropical como caminho para o aumento do PIB nacional.

Quando nosso presidente coloca-se contra imposições internacionais deste tipo, demonstra sede por divisas a qualquer custo, mesmo que seja com a destruição da floresta. Nunca é demais lembrar que 75% das emissões brasileiras têm origem em queimadas e desmatamento. Reduzir estas emissões a zero pode significar ao mesmo tempo nossa contribuição efetiva para as necessárias reduções globais e um colchão de gordura para permitir o tão propalado desenvolvimento, mas em bases limpas.

É animador o avanço nas discussões sobre a questão climática em todo o mundo, fato que se reflete na mudança no discurso de líderes como George Bush, para quem até pouco tempo atrás o problema parecia simplesmente não existir. Mas não é difícil perceber que a consciência sobre a gravidade da situação, inclusive de seus impactos futuros sobre a economia, ainda não chegou ao nível necessário para que as mudanças de comportamento em todas as esferas da sociedade saiam das palavras para a prática. As discussões no sentido das atitudes a serem tomadas para a efetiva redução das emissões ainda são embrionárias. Definir metas é importante, mas o essencial é definir os passos que deverão ser dados pela humanidade para que as metas sejam atingidas, o que ainda não começou a acontecer.

 

 

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

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