Correio da Cidadania

É carnaval!

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"Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé."

 

Quem se atreve a dizer que não gosta de samba?

 

Apesar de o carnaval ser uma festa de origem européia, surgida no entrudo português, festejo onde as pessoas lançavam uma nas outras água, ovos e farinha. O entrudo ocorria em período anterior à quaresma.

 

Esta festa que daria surgimento à mais tradicional festa do Brasil, leia-se o carnaval, teve seu primeiro centro de influência na cultura de países europeus como Portugal, Itália, França entre outros. O entrudo teve sua inserção no Brasil no século XVII, mas vai se enraizar como expressão cultural a partir do século XIX com o surgimento dos primeiros blocos carnavalescos, cordões e corsos, levando as pessoas às ruas, todas fantasiadas e enfeitando seus carros, estes últimos dando surgimento mais tarde aos carros alegóricos.

 

No século XX o carnaval ganha apelo popular, dando surgimento às famosas marchinhas como "Acorda Maria Bonita, Levanta vai fazer o café", entre outras milhares que se espalharam Brasil afora. Estas marchinhas possuem características políticas e culturais influenciadas pelas mudanças sociais, políticas e econômicas que o país vivia nos determinados períodos históricos. 

 

"Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba"

 

"Deixa Falar" foi a primeira escola de samba surgida no Rio de Janeiro, no bairro de Estácio. Apesar de seu período de vida ter sido razoavelmente curto, seus integrantes, como Ismael Silva, eram difusores de uma expressão musical "nova" – o samba. O samba na primeira metade do século XX teria se tornado o principal gênero da música popular brasileira, tendo neste período como principais compositores e intérpretes Chico Alves, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Cartola, entre outros.

 

Outras escolas de samba viriam a ser formadas a partir deste núcleo "inicial", como a Mangueira e a Portela, nascidas como organização de suas comunidades, onde aglutinavam-se centenas de pessoas em barracões como verdadeiros lugares de sociabilidade destas populações.

 

O samba nasce como sinônimo de resistência de uma população negra, oriunda das periferias dos centros urbanos como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, difundindo-se por uma sempre maior massa popular em outros estados brasileiros. O samba se torna resistência e cultura de uma população cheia de vida, trabalhadora, marginalizada, negra e pobre dos morros brasileiros. O samba, gênero musical, que se expressa através de ritmos e dança, de raízes africanas adaptadas ao gosto e características do crioulo (negro nascido no Brasil), tornando e transformando-se em algo próprio do brasileiro e símbolo de uma certa identidade nacional.

 

"Apesar de eventuais preconceitos das elites intelectualizadas contra esse gênero saído dos morros cariocas, redutos dos pobres e excluídos, o mercado musical sempre conviveu muito bem com o imaginário impresso nas composições, fortemente apoiado em referências simbólicas – ‘o morro’, o ‘barracão’, a ‘favela’ – originárias das rodas comunitárias onde eram produzidas. No final da década de 1950, contudo, esse convívio relativamente tranqüilo começou a se alterar. Foi quando jovens da classe média, como Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, passaram a se reunir em apartamentos da Zona Sul do Rio de Janeiro para trocar idéias e propostas musicais. Não precisavam de muito. Bastavam ‘um cantinho, um violão’, como na música de Tom Jobim. Dispensavam a voz ‘impostada’ dos grandes intérpretes do período e o aparato cênico que a Rádio Nacional e o cinema montavam para apresentar os novos lançamentos da MPB" (Felipe Trotta).

 

Nascia a bossa nova como o "objetivo" de dar ao samba uma forma mais moderna "em sintonia com o desenvolvimentismo do momento político-cultural do governo de Juscelino Kubitschek. O Brasil vivenciava uma atmosfera de otimismo e de crença no futuro, e o novo gênero seria uma expressão legítima de tais sentimentos. Em vez dos antigos temas da música brasileira, falava-se agora do barquinho, do violão, do sol, do sul, do mar e do amor".

 

Em meio a outros gêneros musicais, ao não desejo de modernização e mais tarde à falta de apoio do mercado, o samba se torna algo tradicional, tido por muitos como arcaico; do morro, da favela e de negro; com seus adeptos se reunindo nos fundos de quintais tocando cavaquinho, pandeiro, cuíca, surdo e violão. Mesmo assim se torna ponto de referência e de influência para a formação, nem que por negação, de gêneros como a própria bossa nova, as músicas engajadas de Chico Buarque, a Tropicália, o pagode nos anos noventa...

 

Hoje surgem diversas críticas às escolas de samba, principalmente do Rio de Janeiro, por seu afastamento de suas determinadas comunidades, tornando o carnaval algo profissional e comercial. Milhões de reais são investidos pela prefeitura do Rio, além da comercialização prévia de parte das alas para os estrangeiros.

 

Talvez mesmo os gêneros de contestação e mais populares sofram com o caráter mercadológico ao longo do tempo. Mesmo assim, podemos encontrar carnavais mais próximos da origem como em Florianópolis e São Francisco do Sul, onde escolas são locais de referência das comunidades em que estão inseridas. Essa permanência na história e na origem do carnaval e do samba tem de ser resgatada, sob pena da perda da identidade que se constituiu na periferia brasileira.

 

Willian Luiz da Conceição é acadêmico de História e pesquisa afro-descendência em Santa Catarina.

 

Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #1 Parabéns!Carlos Fontes 25-02-2010 17:00
Muito bom artigo!
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