Correio da Cidadania

Estados Unidos: manutenção da política externa do governo Bush

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Seis meses de gestão do presidente Obama não foram suficientes até o momento para alterar a política externa do país. Na primeira crise ocorrida no transcorrer de seu mandato, em Honduras, Washington, embora tenha condenado o golpe de Estado, não soube posteriormente articular-se com os demais governos da região com o objetivo de isolar diplomaticamente o novo presidente em Tegucigalpa.

 

Sem legitimidade sequer regional, os golpistas provavelmente retrocederiam, o que ensejaria o retorno do dirigente deposto, Manuel Zelaya, deslocado provisoriamente na Costa Rica. Na ausência de uma coordenação eficiente entre os países da Organização dos Estados Americanos (OEA), gerou-se um impasse que, com o decorrer do tempo, mais beneficiará os membros do novo governo.

 

Desta forma, não causa estranheza que, nas duas guerras em andamento no continente asiático, a situação não esteja também satisfatória para os Estados Unidos e seus aliados, em vista da hesitação em modificar substancialmente os rumos da política exterior. No mais antigo dos conflitos, no Afeganistão, o estado da segurança na capital indica a precariedade da ordem estabelecida pela coligação ocidental.

 

Nos locais em que se fixou o aparato administrativo do governo de Hamid Karzai, das Nações Unidas, da aliança anglo-americana, das organizações não governamentais, é necessário o emprego maciço de sacos de areia em torno de todas as instalações, a fim de dificultar a ação de homens-bombas ou carros-bombas.

 

Um dos desafios mais importantes do Afeganistão é estruturar uma política de segurança com o Paquistão, com o qual compartilha uma fronteira que em tese impediria o Talibã de circular e, por conseguinte, abastecer-se. Não há no curto prazo a perspectiva de que este entendimento possa materializar-se.

 

No dia-a-dia, portanto, a situação é outra, dado o apoio – explícito na opinião de Cabul - de muitos paquistaneses – inclusos servidores públicos vinculados ou ao setor militar ou ao de espionagem – à insurgência afegã, apesar do extremismo de suas posições políticas e culturais.

 

As origens de tais laços localizam-se ainda na Guerra Fria, no período em que Ronald Reagan esteve à frente da Casa Branca. Receosos de que a União Soviética tivesse êxito na ocupação do Afeganistão, os norte-americanos valeram-se do Paquistão para auxiliar amplamente a oposição local a Moscou. Por meio da Agência Central de Espionagem (CIA), treinaram os revoltosos em solo paquistanês. Quase uma década mais tarde, os soviéticos recolher-se-iam ao seu território.

 

O regime comunista afegão pós-soviético ainda perduraria precariamente até 1992, sendo o seu ex-presidente Mohammad Najibullah assassinado em setembro de 1996, tendo os restos mortais expostos em um poste de luz. Horas antes do seu assassínio, o Talibã, com o apoio velado do Paquistão e dos Estados Unidos, sob governo republicano, havia granjeado finalmente o poder.

 

Por ironia do destino, meia década mais tarde, ele se tornaria publicamente o principal inimigo de Washington, novamente sob o controle do Partido Republicano.

 

No final de agosto, haverá eleição presidencial no território afegão. Em não sendo mais possível ignorar a presença dos talibãs no quadro político, qual o encaminhamento possível para superar-se isto? Os partidários do presidente Hamid Karzai negociam com chefes militares de várias pequenas localidades, tendo em vista o asseguramento de sua reeleição.

 

Nas negociações em curso, inclui-se antecipadamente a divisão de funções públicas, de acordo com a capacidade bélica de cada líder, independentemente de um projeto nacional.

 

Observadores internacionais não acreditam mais na realização de uma eleição realmente democrática, de caráter pluripartidário. O objetivo, ainda que em detrimento de outros quesitos importantes, é a necessidade de estabilidade. Assim, o processo eleitoral transcorrerá do ponto de vista formal sem problemas, mesmo sem incluir de fato todas as correntes políticas do país.

 

A forma por que isto acontecerá derivará do socorro das tropas da coligação anglo-americana, de sorte que os antigos simpatizantes da Aliança do Norte prevaleçam geograficamente sobre os do Talibã. Contudo, a presença dos atuais efetivos estrangeiros, a fim de garantir minimamente a estabilidade, não será indefinida, até mesmo em função de seus custos para o seu principal mantenedor.

 

Outrossim, as Nações Unidas teriam dificilmente condições de assumir a manutenção de tropas no local. As forças armadas afegãs, com um contingente em torno de 100 mil homens, são vistas pela população como conectadas aos interesses dos atuais mandatários, não do país.

 

Assim, a instabilidade continuará a perscrutar o horizonte político do Afeganistão e com ela parte do êxito ou do fracasso da política externa do governo Obama.

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

 

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Comentários   

0 #1 E com apoio mal disfarçado de LullaRaymundo Araujo Filho 10-08-2009 17:21
A fuga de Lulla da reunião da UNISUL, logo antes de ser votada a moção de repúdio à instalação das Bases Militares dos EUA na Colômbia, com desculpa esfarrapada da doença do vice José de Alencar, apenas mostra a Natureza deste ex operário que, ao meu ver, faz com que Cabo Anselmo seja um amador na profissão de trair.

O pior que o Lullo Petismo parece ter se acostumado com isso. Vão se acostumando, que um dia a História vai lhes dar o troco merecido.
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