Correio da Cidadania

Citações roubadas

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Quem é original neste mundo? Quem tem o dom inimitável? Quem é capaz de dormir em paz, com a certeza de não ter copiado a palavra do outro, o pensamento do vizinho, a idéia do colega?

 

Desisti dessa pretensão de dizer o que ninguém disse antes. De fazer a abordagem que não deixasse margem à dúvida de que eu (este eu que é meu!) penso por conta própria.

 

Bela ilusão achar que vou achar um modo inconfundível de escrever. Bela vaidade de fugir à vaia que todos os plagiadores merecem, em meio a alguns aplausos... Bela pretensão que me provoca essa tensão diária, e que aumenta um pouco minha pobre auto-estima.

 

Eu, com boas ou más intenções, não importa, sei perfeitamente o quanto é belo e inútil o meu esforço. O esforço de jamais repetir o que outros já produziram em verso e prosa é um esforço belo e inútil. Inútil e belo.

 

No entanto, há um jeito que dê jeito nessa história mais ou menos bem contada. Se não posso ser original, que ao menos aproveite a originalidade alheia, com a consciência (pesada!) de quem sabe que nada vem do nada.

 

Por isso eu aviso, e dispenso as aspas e o anticaspa. As citações abaixo foram roubadas, furtadas, arrebatadas de outros escritores, pensadores, de outros autores, de pessoas conhecidas ou anônimas.

 

Foram roubadas de vocês, de todos nós:

 

Cito, logo existo.

 

A ocasião faz a citação.

 

Só sei que não sei citar a mim mesmo.

 

Minha terra tem palmtops onde canta, como nunca, Michael Jackson.

 

Citar os outros é pensar por conta alheia, e roubar citações sem dizer quem as inventou... é atuar por conta própria.

 

Ler é ingressar num mundo de vitórias e derrotas, no qual os sentimentos mais variados vêm à tona.

 

Escrever é lembrar-se... para enfim esquecer.

 

Cuidado com o que você diz: as suas mentiras podem se tornar a verdade dos outros.

 

A vida em sociedade obriga-nos à informação mútua, ou nos tornaremos uns espiões dos outros.

 

A primeira coisa a entender com urgência é que não entendemos tudo.

 

Citar os outros é não citar a si mesmo, e citar os outros sem revelar autores... é recitar o mesmo.

 

Caminhando e citando e perseguindo novas citações.

 

Estamos condenados à citação.

 

O inferno é a citação dos outros.

 

Quem cita por último cita melhor.

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

 

Website: http://www.perisse.com.br/

 

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