Correio da Cidadania

Agressão a estudantes tem desfecho autoritário

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O Conselho de pais e professores da Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença, na Mooca (zona leste de São Paulo), depredada na última quinta-feira por um grupo de alunos revoltados com as cenas de brutalidade e abuso de poder por eles presenciadas, decidiu pedir à Secretaria da Educação a imediata remoção do cargo do diretor.

 

Este, por incompetência e pusilanimidade, chamou a polícia para resolver um problema que um educador de verdade jamais delegaria a outrem (nem mesmo ao Juizado de Menores, que é quem deve ser acionado em tais ocorrências), daí decorrendo agressões chocantes a um estudante de 14 anos e a outro de 16, que provocaram a justa indignação dos colegas, dando origem a distúrbios cuja inteira responsabilidade foi do referido diretor poltrão e da polícia truculenta, "cuja punição exemplar acaba também de ser anunciada pelo governador José Serra" - esta seria a notícia publicada, caso estivéssemos numa verdadeira democracia.

 

O conselho de pais e professores da Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença decidiu expulsar oito deles. Seis por terem iniciado o quebra-quebra e dois por terem sido o pivô de toda a confusão. Esta foi a notícia que saiu no jornal, igualzinha às do tempo da ditadura, que já não está mais no poder, mas continua entranhada na sociedade.

 

Em junho de 1968, quatro secundaristas fomos também transferidos compulsoriamente do colégio no qual estudávamos, o MMDC, na mesma Mooca. Havíamos parado a escola numa noite de sexta-feira, em protesto contra atitudes autoritárias da diretora e outras arbitrariedades.

 

A transferência compulsória, na verdade, é um subterfúgio para evitar a contestação de decisões frágeis. A expulsão impede a matrícula em outra instituição da rede estadual e só deixa ao punido o caminho de lutar por sua revogação, o que acabará conseguindo, comprovada a injustiça; no entanto, até lá terá perdido o ano letivo.

 

A transferência compulsória, se aceita, permite a matrícula imediata em outra escola estadual, mas impede o recurso à Secretaria da Educação. É pegar ou largar; os pais acabam sempre pegando.

 

Eremias Delizoicov e eu chegamos a defender nossa posição diante da Associação de Pais e Mestres: mesmo sendo um adolescente de 16 anos e outro de 17, mantivemos a calma e apresentamos argumentos sensatos, enquanto pais reacionários se alteravam por não conseguirem nos responder à altura. Um deles teve de ser contido para não nos agredir.

 

O professor que apoiou explicitamente nosso movimento, Mário Hato, não só foi desaconselhado a participar dessa reunião, como obrigado a deixar o MMDC logo depois. Iniciou carreira política pelo MDB, vindo a ser vereador, deputado estadual e federal (foi um dos constituintes de 1988).

 

Dos punidos, Maria Palácios é hoje uma das principais sociólogas baianas. Diego Perez Hellin leciona português na rede pública, depois de haver pegado em armas contra a ditadura e passado mais de dois anos preso. Como também participou da resistência e foi preso político este que vos escreve.

 

O Eremias foi assassinado com 35 tiros pela repressão, aos 18 anos de idade. Há um Centro de Documentação e uma rua com seu nome. É pouco.

 

Da diretora que todos os alunos repudiavam, ninguém mais ouviu falar.

 

Celso Lungaretti é jornalista e escritor, mantém os blogs http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/ e http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

 

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Comentários   

0 #1 Palavras ao ventojose Antonio 21-05-2009 13:41
Após ler o texto acima, consultei o Google. Veja o que diz a nota no endereço abaixo.
Se for verdade, os alunos e o folclorico escritor acima deveriam ser punidos.
Se for mentira a folha.uol deveria ser punida.
Um dos dois puxou demais a sardinha para seu lado. http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u566283.shtml
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