Correio da Cidadania

A ruptura à la Vargas

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Por ser, talvez, a mais viável das propostas de ruptura que inundam o "mercado", a de Chico Oliveira merece reflexão mais acurada. Primeiro porque, não faz muito tempo, ele considerava o PT e o governo Lula quase como excrescências da esquerda. Agora, ele sugere não só que Lula seja um novo Getúlio, mas também que o PT se reinvente, resgatando "a ousadia de um Kubitschek e de um Vargas, para fazer por baixo o que eles tentaram e fizeram por cima".

 

Ele se contenta com "cinco EMBRAERs por ano e ponto final", para "acelerar o crescimento e dar um novo rumo à economia e à sociedade", tendo em vista que "o que está em jogo é uma reacomodação brutal de forças". Para ele, se o poder for devolvido aos tucanos, "aí sim estaremos fritos: eles ficarão aí mais dez anos".

 

Alguns setores da esquerda, que ainda supõem que Lula não rompeu com o modelo econômico instaurado por Collor e continuado por FHC, analisam que Chico de Oliveira está propondo que Lula e o PT façam, agora, a ruptura com esse modelo. Criando cinco Embraers por ano, Lula demonstraria a mesma ousadia de Vargas, quando criou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce (CRVD) e a Petrobrás. Recolocaria em curso um projeto de pesado investimento estatal, que tornaria o país mais competitivo internacionalmente, alavancaria o crescimento econômico e reafirmaria a soberania nacional.

 

Esses setores, porém, deram-se conta de que a sugestão de Chico de Oliveira, de investimentos estatais em setores industriais do padrão Embraer, representa uma contradição com um modelo que supõem esgotado. Acreditam que, com a crise ambiental e a revolução informacional, seria um erro perseverar a industrialização como matriz de desenvolvimento. Assim, não enxergam com bons olhos a proposta do sociólogo.

 

Bem vistas as coisas, podemos dizer que a proposta de Chico Oliveira suscita várias questões, quatro das quais já fornecem bastante pano para manga. Uma relativa ao modelo econômico implantado por Collor e continuado por FHC. Outra, específica à política econômica do governo Lula. Uma terceira, que diz respeito aos modelos de industrialização de Vargas e Kubitschek. Ainda outra, relacionada às possibilidades de romper com o chamado "modelo industrial", tendo por base a revolução informacional, como instrumento de superação da crise ambiental. E, outra mais, relativa à possibilidade de "cinco Embraers por ano".

 

Aqueles críticos, tanto da política econômica de Lula, quanto da proposta de Chico Oliveira, afirmam que o modelo implantado por Collor, e continuado por FHC, já esgotado, teria sido de inserção competitiva na economia internacional, raquítico crescimento econômico, desaparelhamento do poder estatal e subordinação à nova ordem econômica mundial. Pelo jeito, para eles, a inserção competitiva teria sido a causa primária.

 

No entanto, não houve qualquer tipo de inserção competitiva. O que ocorreu foi uma inserção subordinada às políticas neoliberais das grandes corporações privadas internacionais. Essa inserção foi marcada por uma brutal desindustrialização, decorrente da privatização de empresas estatais, da desnacionalização de ativos públicos e privados e do enxugamento do Estado.

 

Um dos argumentos mais utilizados para justificar a desindustrialização e o enxugamento estatal foi justamente a necessidade de acompanhar e se adaptar à revolução informacional. Com uma política desse tipo, associada a juros altos, câmbio valorizado e controle da inflação através do aperto da demanda, o resultado seria, inevitavelmente, um crescimento econômico ridículo.

 

Um dos erros do governo Lula, no primeiro mandato, consistiu justamente em não esclarecer devidamente a natureza, a extensão e os prejuízos causados por aquela política. Com isso, tem permitido que, ainda hoje, setores de esquerda considerem sua política econômica uma simples continuidade do modelo Collor-FHC. E que setores da direita cobrem dividendos pelos resultados positivos da política de Lula.

 

O que nos leva à questão da política econômica do governo Lula. Ela é realmente de simples continuidade da política anterior?

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #1 Ao Debate!Raymundo Araujo Filho 23-03-2009 07:20
Mesmo sendo eu o único que tenho debatido aqui no Correio... com os artigos do Wladimir Pomar, não deve ter sido sobre o que penso, as assertivas feitas por ele, quando menciona o tipo de esquerda com quem ele está ensejando o debate. Sequer sei se tem lifdo os meus "recursos".

A visão que ele atribui a 'alguns da esquerda" não compartilho, pois não tenho o cacoete de analisar a economia fora da política.

Portanto, WPomar parte de uma premissa equivocada que alguns da esquerda teriam avaliado que Lullla teria seguido a "inserção competitiva" no mercado internacional, arrematando "brilhantemente" que não houve esta inserção competitiva propalada, mas sim desnacionalização e desindustrialização.

Ora! Não conheço UM SÓ esquerdista, ou mesmo "ESQUERDISTA" que tenha a avaliação dobre Collor e FHC, propalada por Wladimir Pomar, neste seu artigo. Nenhum, mesmo. Aliás, tem sim. Mas no PSDB. E lá, me desculpem, não tem esquerdista, que eu saiba. Tem Ex-esquerdiata. E o PT tá indo pro mesmo caminho...(na minha opinião)

Assim, retorno a origem do que fez o homem iniciar a sua longa jornada em busca de saciar a fome: A Política. Pois esta é que determinou que tipo de regime econômico e desenvolvimentista iriam vigir.

Assim, a percepção dos movimentos iniciais em busa de alimentos e suas repetições, possibilitaram imdeiatamente as associações pessoais e grupais, etc.., que possibilitaram o caminhar da humanidade.Estas são as bases materiais da evolução.

Então, prezado Wladimir, o que está em jogo, não é se vai ou não ter 5 EMBRAERS, se vai ter PAC da Habitação, com redução de impostos para os empresários ganharem mais, e o Povo pagar mais.

O que importa é quem vai adminsitrar, sob que preceitos e objetivos e para quem vai os benefícios das empreitadas.

Se é para repetir o Modelo Corporativo Empresarial, agora por dentro do Estado Brasileiro, que se lixem as EMBRAERS e o próprio Estado Brasileiro.

Mas, se é para que ainda possamos extrair do Estado (não sem muita luta) algum resquício de "generosidade" (como aventava o geógrafo maior Milton Santos), instrumentos, recursos e garantias que haverá um desenvolvimento mais horizontal, que as EMBRAERS, em vez de importar 70% dos componentes que usam, investissem na cadeia de pequenos e médios fornecedores de componentes, aí eu estaria disposto a discutir o assunto. Mas sempre com o Pé atrás, pois o seguro morreu de velho.

A questão, portanto, não é mais O Que Fazer (já li este título não sei onde....), mas sim COMO e Para Quem Fazer!
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